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 O 
              papo está tão animado que ninguém chega perto 
              dos refrigerantes e sanduíches de presunto e queijo preparados 
              pela produção. A essa altura, a professora de história 
              da USP Maria Aparecida de Aquino, chamada de Cida entre as meninas, 
              já faz parte da conversa. O assunto agora é a fama. 
              Recém convertidas em celebridades, Lúcia e Ana contam 
              como ficaram sabendo que estavam famosas: “Nós estávamos 
              no aeroporto Santos Dumond, esperando para embarcar para São 
              Paulo e gravar o debate no Jô, quando aquele rapaz do Cidade 
              Negra, o Toni Garrido, veio em nossa direção e tascou 
              um beijo. Disse que é nosso fã ardoroso” (risos 
              gerais). “Tem uma coisa gostosa nesse negócio. De repente, 
              fiquei visível. As pessoas me param na rua para falar sobre 
              a crise e para comentar sobre “aquele casaquinho rosa””, 
              diverte- se Lúcia Hippólito. “Desde que comecei 
              no Jô não paro mais de receber convites para entrevistas, 
              palestras e programas de TV”, completa Cida. “Eu morro 
              de vergonha de dar autógrafo”, suspira Ana Tahan. 
 
 Enquanto Lúcia, Cida e Ana falam sobre a fama, uma moça 
              da produção trata de instalar o microfone em Cristiana 
              Lobo, que acaba de chegar no camarim vindo direto de Brasília. 
              “Quarta feira é o dia mais forte em Brasília. 
              Tem dia que eu almoço com uma fonte e pego o vôo da 
              tarde. Sou sempre a mais atrasada por causa disso”, reclama. 
              Virando-se para a moça da produção, Cristiana 
              dispara: “Minha circunferência diminuiu?” “Você 
              emagreceu”, se antecipa Cida.
 
 
 Devidamente instalada na roda, chegou a hora de Cristiana Lobo falar 
              de sua relação com a fama. Apesar de ser um rosto 
              conhecido na Globo News, ela só se transformou em celebridade 
              depois que começou a freqüentar o programa do Jô: 
              “Estou atingindo um público que eu nunca tinha atingido 
              em 25 anos de profissão. A crise tem uma popularidade enorme. 
              Existem várias comunidades no Orkut, do tipo: ‘eu adoro 
              as meninas do Jô, eu odeio as meninas do Jô”. 
              Alguém pergunta se ela se sente mais à vontade no 
              Jô do que na Globo News, onde participa, ao lado de Franklin 
              Martins, do programa “Fatos e Versões”. “Na 
              Globo News, é mais sentadinho, comportadinho, talvez pela 
              presença de homens no debate”, (gargalhadas gerais). 
              Mas, afinal, porque as mulheres fazem mais sucesso que os homens 
              na hora de debater política na TV? Quem responde, prontamente, 
              é Cristiana Lobo: “A entonação da mulher 
              é diferente. A gente fala a linguagem da dona de casa, não 
              a linguagem rococó. Somos mais desabridas”. “Desabridas 
              é uma bela palavra”, emenda Ana Tahan. Explica o bom 
              e velho dicionário Aurélio que a palavra desabrida 
              significa desenfreada, insolentes e, ás vezes, áspera. 
              Não foi fácil para esse time de mulheres desabridas 
              encontrar o ritmo do debate. “No primeiro programa estávamos 
              contidas. Pensamos que seria uma vez só”, avalia Ana. 
              Lúcia discorda: “Acho o contrário. No inicio 
              havia um certo atropelo. Imagina... um mulherio falando (risos). 
              Depois melhorou. Já não falamos mais todas ao mesmo 
              tempo”.
 
 A 
              essa altura, a quinta debatedora daquela noite, Sônia Racy, 
              já está circulando pelo camarim. Depois de maquiada, 
              ainda envia pelo lap top uma nota para o Estadão, onde assina 
              uma coluna sobre economia, antes de integrar-se ao papo. Novata 
              do programa, Sônia passou a ser convidada quando Palloci começou 
              a ser atacado e a economia entrou em cena. 
 
 Como a qualquer momento alguém da produção 
              vai bater na porta convocando as meninas para o estúdio, 
              colocamos em pauta finalmente o grande prato de todas as quartas: 
              a crise política. A primeira pergunta não podia ser 
              outra: ainda existe crise? Quem explica é Sônia Racy: 
              “A parte prática e jurídica da crise ainda não 
              aconteceu. Quando acontecer, teremos tantos holofotes como agora”. 
              “Essa crise vai longe. Vai entrar pela campanha. Mais que 
              isso: vai pautar a campanha”, concorda Ana Tahan.
 
 Petista 
              de carteirinha, a professora Maria Aparecida de Aquino é 
              a única militante presente entre as meninas do Jô. 
              “Fui sindicalista da gloriosa APEOESP”, conta. Apesar 
              de dizer que não pretende deixar o partido depois do escândalo 
              do valerioduto, Cida ainda está em dúvida sobre seu 
              voto em 2006: “Voto no PT desde 1985, mas não sei se 
              votarei no Lula ano que vem”. O tempo acabou. No estúdio, cada uma já sabe onde 
              está seu lugar na mesa. Ao som do Quinteto, Jô Soares 
              entra em cena. Nos bastidores, o clima é de amigo secreto 
              e happy hour. Alguém na platéia pergunta: quando vocês 
              voltam? “Vai ter Big Brother, 24 horas, JK...vai longe”, 
              diz um cinegrafista. Bira entra na roda e comenta que vai tocar 
              no interior e depois vai para o Nordeste. Derico tem que sair correndo 
              para o aeroporto. “Deixa um abraço para o Jô”. 
              Depois do programa, as meninas saem correndo, cada uma para seu 
              táxi. Vai começar o fechamento.
 
 
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