A semana foi marcada por altos e baixos. No campo das baixarias, o presidente Jair Messias Bolsonaro e seus ministros são excelentes protagonistas. Graças ao recurso do silêncio barulhento, poucos conseguem se esconder dos vexames. Tereza Cristina, ministra da Agricultura, é uma dessas figuras. Paulo Guedes, ministro da Economia, ao contrário, tirou a fantasia e entrou de cabeça na pornochanchada federal.

O rescaldo da reunião ministerial de 22 de abril foi marcado pela iniciativa de retaliar por parte do presidente. Seria muito cansativo recordar todas suas baixarias. Mas vale destacar a elevação de tom nas suas críticas ao STF e ao ministro Celso de Mello. Um atestado de ignorância e incompetência. Por exemplo, entre suas diatribes Bolsonaro acusou o ministro decano do STF de mandar recolher seu celular. E de quebra, o general aposentado Augusto Heleno, comprou a briga de seu chefe.

Eu sou normal

Presidente tem se mostrado descontrolado

            Horas depois, sem estardalhaço, o STF repôs a verdade: trata-se de uma representação de partidos e políticos solicitando uma análise do celular do presidente para embasar um pedido de impeachment que foi enviado por Celso de Mello ao Procurador Geral da República (PGR) para que opinasse. O PGR pode simplesmente recusar a representação. Ou seja, o decano do STF apenas cumprira com sua obrigação litúrgica imposta pela instituição.

Mas o fracasso do carnaval bolsonariano não impediu que o chefe, seu filho 03 e figuras exóticas como Olavo de Carvalho, ocupassem vastos espaços da mídia “comunista” para ameaçar com intervenção militar para restabelecer o equilíbrio institucional que teria sido quebrado por Celso de Mello.

O clima da semana apontava para um desfecho na direção do discurso do capitão presidente na quarta 27: “Acabou, porra! Me desculpem o desabafo. Acabou! Não dá para admitir mais atitudes de certas pessoas…” Ele se referia à decisão do ministro Alexandre Moraes, do STF, de autorizar uma ação da Polícia Federal (PF) sobre 29 bolsonaristas envolvidos no financiamento e na difusão de fake news.

Sessao do STF no doa seguinte a denuncia do Joesley Batista (JBS) contra o presidente Michem Temer. Foto: Sérgio Lima/PODER 360

Ministro decano do STF, Celso de Mello é mais ponderável

Na véspera, o presidente havia parabenizado a PF por ter agido contra o governador fluminense Wilson Witzel, um desafeto assumido. Ou seja, a mesma PF agia da mesma forma nos dois casos. Fato inadmissível para o atual presidente de plantão.

O clima político não podia ser pior. Pairava no ar um contragolpe capitaneado por Bolsonaro que teria o comando das Forças Armadas.

Mas, como diria um bom mineirinho, cão que ladra não morde. O desespero do presidente e o silêncio ensurdecedor das Forças Armadas começaram a ser quebrados pelo artigo do general Santos Cruz, ex-ministro de Governo de Bolsonaro, onde salientou que o compromisso das Forças Armadas é somente com a Nação. “Na cultura militar, não existe propaganda nem discussão política sobre preferência de candidatos e partidos dentro dos quartéis. Quando o cidadão coloca a farda e representa a instituição, ele tem compromisso institucional e constitucional. Seu compromisso é com a Nação”.

As ameaças e latidos de Bolsonaro confrontando o STF e os ministros Celso de Mello e Alexandre de Mello recolheram-se como o rabo de um cachorro que se assusta com a reação de sua possível vítima. O ministro da (des)Educação, Abraham Weintraub, orientado publicamente para não aceitar a possível convocação da PF, recebeu os policiais no seu ministério. Teria se recusado a fazer qualquer declaração.

Bolsonaro terminou a semana trocando os discursos provocativos no cercadinho do seu palácio por visitas pouco ou nada significativas.

Como eterno otimista, passei a imaginar a pressão que os militares da ativa devem ter feito sobre o presidente. Afinal, durante a semana, Hamilton Mourão e Augusto Heleno, dois generais de pijama do staff bolsonarista, apelaram para a mídia “comunista” para explicar como o fez Mourão: ‘Quem é que vai dar golpe? A turma não entendeu, não existe espaço no mundo para ações dessa natureza’.

E se meu otimismo tiver algum fundamento, quem sabe o capitão desocupa sua cadeira para que a democracia permaneça e cale sua barulhenta tropa de milicianos de todas as espécies na forma da lei.