Ao terminar uma das audições de Vento Sul (Funalfa / Juiz de Fora, MG), CD inteiramente autoral do violonista, compositor e arranjador Luís Leite, garrei a matutar como seria revelar com palavras os segredos ali contidos. Sim, porque há mil e uma interpretações a dar: as do próprio Luís e as que se abrigam na alma do ouvinte.

Vamos lá: melodias e harmonias inspiradas, distribuídas entre compassos que antecedem os demais, tão ou mais bonitos do que os anteriores. Um violão a refletir a sabedoria do violonista. Um violão a atear sentimentos. Um violão generoso, a ofertar momentos de máximo delírio a quem o escuta. Um violão ativo, cuja perenidade salta aos ouvidos. Um violão soberbo… Ora! Justo agora, quando mais preciso delas para contar da beleza do violão de Luís Leite – faltam-me palavras.

Sentindo-me raso, chego ao óbvio. Não há sequer uma palavra que, por mais significativa que seja, prescinda de uma boa audição. Para se colocar minimamente à altura das composições e das interpretações de Luís, deve-se perscrutar a música de Vento Sul.

Desejoso de retratar a música da América do Sul, como ele mesmo revela no encarte, Leite viu na originalidade instrumental um caminho.

Em “Santiago” (composta em Santiago de Compostela), seu violão se ajunta ao piano de Érika Ribeiro, abrindo a porta para o sonho de ouvir sua música com a almejada sonoridade sul-americana.

“Veredas” tem os violões em duo com a cantora Tatiana Parra – sua voz, por diferençada, dá amplitude à canção. Amplidão que se dá, também, pelo toque de Sérgio Krakowski no adufo (pandeiro sem as platinelas).

“Flor da Noite” é uma homenagem a Guinga. Nela o violão se ajunta ao clarinete de Giuliano Rosas para fazer do tributo uma doce e suave canção.

“Noturna” tem Luís amparando os belos vocalises de Lívia Nestrovski, enquanto a guitarra de Fred Ferreira ajunta seu timbre ao do violão.

“3eniño” tem intro só com violão. O acordeom de Marcelo Caldi se ajunta a ele. O violino de Márcio Sanchez logo vem. A bateria de Diego Zangado segura a onda. Os quatro vibram juntos na levada arguta.

Em “Céu de Minas”, Tatiana Parra (voz) e Érika Ribeiro (piano) estão de volta. “Mineiradamente”, o trio dá conta do tantão de beleza que há no tema.

“Minguante”: as cordas do violão integram-se às do violino e da viola de Elisa Monteiro e da viola de Márcio Sanches. A sonoridade é primorosa.

Em “Pedra do Sol”, o violão se ajeita (e como!) com o teclado Fender Rhodes de Ivo Senra e com a batera de Felipe Continentino. A melodia aberta ao improviso, os três buscam a liberdade da descoberta.

“Caravan” tem a flauta de Wolfgang Puschnig, a percussão de Luís Ribeiro e o baixo acústico de Peter Herbert. Com o violão, os quatro agitam o som esperto.

“Despedida” fecha a tampa. Com Luís estão de novo a viola com cordas de aço de Elisa Monteiro e o ajufe de Sérgio Krakowski. O som das cordas se mistura e conclui a estrada pela qual Luís Leite integrou sua música à da América do Sul.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4