Tia Anastácia não perde a oportunidade para lembrar alguns recursos muito usados pelo clã que mais tempo controlou o Palácio do Bom Conselho

            Apesar de aparentar tranquilidade, nosso alcaide deve estar dormindo com muita dificuldade por dois motivos. Um local e um nacional.

Na terra de Lobato, ele nada de braçada. Pelo menos aparentemente. Já que não poderá concorrer à reeleição, deixa a briga para os nomes que mais se destacam na corrida: Cláudio Teixeira Brazão, o “Macaé”, secretário da Educação; Eduardo Cursino, secretário de Governo; Edsson Chacrinha, chefe de Gabinete e Edson Oliveira, vice-prefeito e secretário de Planejamento. Por fora, corre discretamente a madrasta do prefeito, Odila Sanches, secretária de Finanças.

Odila recortada

Odila Sanches seria uma alternativa para o clã 

Pouco interessa os respectivos partidos políticos. Ortiz Júnior determinará a sigla do candidato escolhido quando lhe convier. Aliás, nem ele próprio sabe para onde irá. Corre nos bastidores que deverá se filiar ao PSL para surfar na onda bolsonarista. Se a bola murchar, deverá escolher o mais conveniente. Para sua carreira pessoal. Claro!

Bairro a Bairro

Criado em 2013, o programa vendia o peixe de ser o canal para o Orçamento Cidadão. Uma promessa de campanha em 2012 que destinaria 30% do orçamento para obras escolhidas pela população dos bairros. Um voo de galinha que mal resistiu a treze reuniões. Em 2014, foi retomado para turbinar a campanha do mano Diego Ortiz para a Câmara Federal.

Hibernou novamente e só acordou 11 meses depois, em 2015, para uso eleitoral de Ortiz Júnior à “reeleição” em 2016. Voltou a hibernar em novembro de 2015.

Os concorrentes deverão brigar entre si para conseguir uma vaguinha ao lado de Ortiz Júnior em suas incursões à periferia.

Obstáculos nacionais

É conhecida a histórica ligação de Ortiz Júnior com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, STF. Uma ligação tão profunda que sua decisão de   rejulgar e absolver o prefeito em novembro de 2016, quando presidia o Tribunal Superior Eleitoral, TSE, mereceu o seguinte comentário do seu colega Herman Benjamin: “Isso é uma aberração jurídica”.

Diferente de 2016, a situação de Gilmar Mendes em 2019 é bem diferente. Poderá a qualquer momento ser submetido a uma Comissão Parlamentar de Inquérito, CPI, que investigará suas sentenças.

É aí que mora perigo. Ortiz Júnior sabe muito bem do que poderá ser desenterrado. Curiosamente, os bolsonaristas fanáticos são os maiores defensores de uma investigação profunda a respeito do comportamento e das decisões do ministro Gilmar Mendes.

 

Judge Gilmar Mendes looks on during a session of the Supreme Court to examine appeal seeking to prevent arrest of former president Lula, in Brasilia, Brazil March 22, 2018. REUTERS/Ueslei Marcelino

Ministro Gilmar Mendes era presidente do TSE em 2016

Tia Anastácia

A velha senhora acompanhou pari passu a campanha eleitoral de 2016 e o processo que levou à condenação de Ortiz Júnior por causa de sua postura na Fundação para o Desenvolvimento da Educação, FDE, então presidida por seu pai, Bernardo.

O promotor Antônio Carlos Ozório Nunes foi responsável pela investigação inicial e entrou com representação contra Ortiz Júnior cinco minutos depois de encerrada a eleição de 2012.

A juíza Sueli Zeraik Oliveira Armani, que respondia pela vara eleitoral, acatou as denúncias e processou Ortiz Júnior. O prefeito foi condenado em todas as instâncias e sua cassação só não foi mantida graças a Gilmar Mendes.

Os demais personagens estão por aí até hoje. Ministros Napoleão Nunes Mais Filho, TSE, e João Otávio de Noronha, STJ, por exemplo, foram fiéis ao colega Gilmar Mendes.

Até hoje a velha e respeitosa senhora não se conforma com o desfecho desse episódio. Quando pressionada, nada fala mas tem uma pergunta na ponta da língua: “Sabe o que dizia a madre superiora?”. Diante do silêncio, ela mesma responde: “Oremos!”