Taubaté reafirmou sua condição de amostra estatística perfeita da política nacional: no domingo 01 o Executivo teria patrocinado um espetáculo digno da capital federal  ao convencer dois vereadores do PV a traírem o partido, um correligionário, o deputado da Região, além do grupo que dispunha da maioria necessária para vencer a disputa na Câmara

                                                                                                                                                                   Nathália de Oliveira

 

O primeiro dia do ano foi de muita alegria e conquistas para Ortiz Júnior (PSDB). Depois de ser empossado prefeito de Taubaté no domingo, 01, o tucano ainda pode assistir sua vitória na Câmara Municipal. Seu candidato Diego Fonseca (PSDB) foi eleito presidente do Legislativo para os próximos dois anos com 11 votos dos 19 vereadores. A conquista só foi alcançada após suposta traição de dois vereadores do PV, Bobi (Rodson Lima Júnior) e Dentinho (João Henrique de Moraes Ramos).

Além da conquista política, tudo indica que o resultado foi uma vingança pessoal do prefeito empossado já que o deputado Padre Afonso, líder do PV no Vale, recusou-se a apoiá-lo ao alinhar-se com a candidata derrotada Pollyana Gama (PPS) nas eleições de 2016. Desse modo, o Partido Verde e o deputado perderam a chance de eleger o vereador Orestes Vanone (PV) como presidente na Câmara.

Fontes ouvidas por CONTATO garantiram que a confusão começou há cerca de um mês quando Padre Afonso se reuniu com os três vereadores de seu partido e com os parlamentares alinhados com seus correligionários: Digão (PSDB), Neneca (PTD), Vidal (PSB), Noilton (PPS), Loreny (PPS), Alexandre Vilela (PTB) e Bilili (PSDB). A aliança foi formada com um ponto acordado: todos votariam em Vanone para presidente da Mesa Diretora da Câmara.

Na semana passada, novamente os integrantes do PV se reuniram. Vanone, experiente parlamentar e sabedor que esse tipo de decisão se arrasta até o último segundo, afirmou que só seria candidato caso os votos necessários para sua vitória estivessem garantidos. Recebeu uma resposta positiva, e o acordo de que seus pares votariam pelo partido foi fortalecido.

Na passagem de ano, quando estava em viagem no Chile, deputado Afonso Lobato ligou para Dentinho e Bobi. E teve a primeira surpresa que nem ele e nem o grupo não esperavam: Dentinho e Bobi não atenderam a ligação. Outras tentativas de contato foram feitas e simplesmente ignoradas.

Diante desse sepulcral silêncio, entram em cena duas peças determinantes para a vitória do tucano Diego Fonseca: segundo nossas fontes apontaram, Edson Chacrinha, chefe de gabinete de Ortiz Júnior, e Eduardo Cursino, secretário de governo, assumem a articulação (com promessas inconfessáveis) que levou à traição de dois dos três vereadores do Partido Verde.

Cursino e Chacrinha teriam conversado com os vereadores em nome de Ortiz Júnior. O que teria feito os dois parlamentares a mudarem de lado? A promessa de receber cargos na prefeitura. O prefeito Ortiz Júnior, que tanto criticou durante a campanha da então candidata Pollyana Gama (PPS) por ter feito um acordo com Padre Afonso (PV) em troca de quatro secretarias, fez exatamente o que afirmou categoricamente que não faria: trocar cargos e funções na prefeitura por apoio político.

Momentos antes da eleição para presidente da Câmara, Vanone discursou e afirmou haver um acordo entre os três vereadores. Ele pediu pelo apoio dos colegas de partido mesmo temendo a possível traição: “Senhor presidente, eu conto com o apoio dos meus companheiros do Partido Verde. Amém”. Não deu certo.

Ainda segundo nossas fontes, a traição não teria se limitado ao PV. O vereador Douglas Carbonne (PCdoB), eleito secretário da Mesa Diretora, e Nunes Coelho (PRB), eleito 1º vice-presidente, também estariam envolvidos no esquema conduzido por Chacrinha e Cursino. Carbonne e Nunes, que durante a 16º Legislatura se posicionaram como oposição e publicamente apoiaram a candidata Pollyana Gama, votaram de acordo com a vontade de Ortiz Júnior.

Ortiz Júnior deve ter guardado os fogos do dia 31 para soltar na noite de domingo. Além da Prefeitura, o tucano agora tem a presidência da Câmara em suas mãos pelos próximos dois anos.

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Do outro lado

O vereador Dentinho afirmou que ele e o vereador Bobi não se encontraram com Chacrinha e Eduardo Cursino e que não receberam cargos na Prefeitura. “Em nenhum momento houve um encontro entre nós. O que está acontecendo é uma tentativa de desvalorizar o nosso trabalho. Votamos no Diego porque queremos uma renovação. O outro grupo [que votou no Fonseca] possui a maioria dos novos vereadores. Daqui a pouco irão inventar que recebemos jatinhos também”, frisou.

O parlamentar confirma que houve reuniões do PV, mas destaca que nenhum acordo foi firmado entre eles. “O que foi deixado bem claro é que se houvesse um posicionamento [do Vanone], nós iríamos votar nele. Nós chegamos a perguntar para ele mais de três vezes se iria ser candidato e ele não confirmava. Esperamos até os quarenta e cinco do segundo tempo”. afirmou. “Éramos vereadores independentes ali. Só que o Bobi já tinha conversado com o Diego. Quando o Vanone se pronunciou, eles [Bobi e Diego] já tinham um acordo e ele não quis voltar atrás em sua palavra. Eu acabei concordando com o posicionamento do Bobi”, esclarece.

Dentinho também afirma que o deputado Padre Afonso e Vanone se reuniram com Diego Fonseca. “Ele [Vanone] só saiu do grupo [do Fonseca] porque percebeu que lá não conseguiria nada”.

O vereador Douglas Carbonne também afirma que em nenhum momento  se encontrou com os mensageiros de Ortiz. “Na verdade, muitas informações do grupo de lá [que votaram no Vanone] estão sendo implantadas por aí. Isso porque eu, que era do grupo deles, não fechei com eles. Não fechei porque eles falaram que teria renovação e escolhem o Vanone, que representa toda a política velha do município”, afirmou. “O Diego é renovação, além de que eu sempre tive uma boa relação com ele. Afinal, ele sentou do meu lado no plenário durante os quatro anos do primeiro mandato”.

Carbonne afirmou que Diego Fonseca realizará muitas novidades na Câmara, entre elas a mudança da TV Câmara. O Diretor de Comunicação, Miguel Kater, será exonerado esta semana. “Ele quer enxugar a máquina. Ficamos ontem o dia inteiro estudando o funcionamento da Câmara. Outros funcionários também serão mandados embora. Temos aqui servidores cheios de vícios”, afirmou. Ainda de acordo com o vereador, este é o motivo do outro grupo “espalhar mentiras”. “Eles querem manter os cargos [das pessoas que poderão ser exoneradas]. Muitas pessoas estão ligadas ao grupo deles”.

“Eu não me vendo por cargo. Inclusive, recebi oferta para ser secretário de uma cidade vizinha e não aceitei mesmo podendo receber o dobro. Meu compromisso é com Taubaté”, afirmou Douglas, que recebeu um convite de Ortiz Júnior para fazer parte da base de aliados. O vereador afirmou que está analisando a proposta.

Bobi afirmou que são mentirosas as ofertas de cargo e que eles se encontram com Chacrinha e Ortiz Júnior. “Para conversarmos sobre a Prefeitura, o Chacrinha e o prefeito em si não falaram nada sobre cargos. Nunca houve essa oferta”, afirmou, frisando que não tem nenhum cargo no Executivo. Ele também disse que os vereadores do PV se reuniram com o Padre Afonso que perguntou se alguém gostaria de se candidatar à Presidência e que todos se recusaram.

Bobi e Dentinho acabaram se aproximando de Diego Fonseca, vereador que representa a renovação para eles, e formado uma aliança. O vereador destaca que a decisão de Vanone foi de última hora e que eles só ficaram sabendo quando o mesmo disse em plenário. “Se existe um traidor é ele, que não levou em conta nossa posição”, afirmou. “[A eleição de Diego Fonseca] é a melhor coisa. Ele trará a renovação e oxigenação que a Câmara precisa”, finalizou.

CONTATO procurou Vanone, deputado Padre Afonso e Ortiz Júnior, porém, não obteve resposta.

Confira abaixo como está a Câmara Municipal de Taubaté:

 

Mesa Diretora

Presidente: Diego Fonseca (PSDB)

Primeiro vice-presidente: Nunes Coelho (PRB)

Segundo vice-presidente: Gorete (DEM)

Secretários: Douglas Carbonne (PCdoB) e Dentinho (PV)

 

Comissão de Justiça e Redação: Guará Filho (PR), Alexandre Vilela (PTB) e Boanerge dos Santos (PTB);

Comissão de Finanças e Orçamento: Loreny (PPS), Dentinho (PV) e Nunes (PRB);

Comissão de Obras, Serviços Públicos, Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente: João Vidal (PSB), Vivi da Rádio (PSC) e Nunes Coelho;

Comissão de Educação, Cultura e Turismo: Loreny, Dentinho e Graça (PSD);

Comissão de Esporte e Lazer: Neneca (PTD), Jessé da Silva (SD) e Nunes Coelho;

Comissão de Saúde, Trabalho, Seguridade Social e Servidor Público: Digão (PSDB), Gorete (DEM) e Bobi (PV);

Comissão de Legislação Participativa: Loreny, Jessé e Vivi da Rádio;

Comissão de Defesa e Proteção dos Animais: Alexandre Vilela, Douglas Carbonne (PCdoB) e Graça;

Comissão de Acessibilidade: Noilton Ramos (PPS), Gorete e Nunes Coelho;

Comissão de Direitos Humanos: João Vidal, Bobi e Dentinho;

Comissão Especial de Fiscalização Financeira e Orçamentária: Digão, Carbonne, Jessé, Graça e Loreny;

Comissão de Ética: Nunes Coelho, Alexandre Vilela, Orestes Vanone (PV), Guará Filho e Vivi da Rádio.