Por Marcos Limão

Candidato da oposição nas eleições do Sindicato dos Metalúrgicos, realizadas em maio e junho de 2013, Hernani Oliveira Lobato conseguiu uma expressiva votação. Conquistou, por exemplo, vencer nas fábricas mais importantes da categoria, a Volks e a Ford.

Na prática, a vitória de Hernani representa o retorno do Sindicato ao grupo liderado pelo ex-presidente Biro-Biro, atual presidente da Federação Estadual dos Metalúrgicos (FEM), que ocupará o cargo de vice-presidente na atual gestão. Segundo Biro, trata-se de um retorno à política que foca o sindicato e a categoria e não a carreira política pessoal de um dirigente, como ocorreu durante a gestão de Isaac do Carmo.

O evento de posse aconteceu na tarde de quarta-feira, 20, sem a presença Isaac. Após assumir o cargo, Hernani concedeu entrevista coletiva na qual criticou a antiga gestão, confirmou a realização de uma auditoria nas contas da entidade e prometeu rever o acordo firmado entre o sindicato e a empresa Volkswagen, assinado na gestão de Isaac do Carmo, por entender que “o trabalhador saiu prejudicado”. Na foto, membros da atual diretoria: Milson (sec. de finanças do sindicato), Hernani (presidente do sindicato) e Biro-biro (vice-presidente do sindicato). Confira os principais trechos da entrevista com Hernani Lobato.

Como é o seu contato com os grandes empresários?

[Só] agora que eu vou começar a ter esses contatos. Até então, eu era o Hernani das Volkswagen, não era o Hernani presidente do sindicato. Eu sempre fui um líder dentro da Volks. Aqui fora poucos me conheciam.

Na gestão de Isaac do Carmo as ações eram pautadas pela partidarização, colocando os interesses do PT acima dos interesses dos metalúrgicos. Como pretende não seguir por este caminho se o sindicato continua ligado à CUT?

Defendo a bandeira da CUT e sempre vou defender. Entendo que é a melhor central para representar a classe metalúrgica. Eu não tenho hoje pretensão nenhuma em disputar cargo público. Eu acho que uma das dificuldades da gestão anterior foi justamente não saber diferenciar o sindicato do partido. Aqui [no sindicato] eu vou defender a classe metalúrgica. A discussão de partido pode ocorrer, mas fora do sindicato. Mas sempre vamos defender as bandeiras da CUT. Uma é liberdade de expressão, a outra é democracia. Muita gente fala democracia, mas, na hora de exercê-la, esquece o que é. Uma palavra que é fácil de falar, mas poucos conseguem exercê-la. Foi isso o que aconteceu nessa eleição do sindicato.

Pretende se filiar ao PT?

Pretendo sim.

Por quê?

O PT precisa de uma cara nova em Taubaté. Muitos metalúrgicos estão esperando isso. Eu não sei o momento [da filiação]. Como eu falei, tenho que separar um pouco a situação partidária e do sindicato. Primeiro, a classe metalúrgica. Não pretendo agora disputar nenhum cargo público. E se um dia eu pretender pode ter certeza que eu vou pedir autorização para aqueles que me colocaram nesta cadeira [de presidente do sindicato], que foram os metalúrgicos. Até hoje, não vi ninguém fazer. Porque se eles acharem que eu estou preparado para representa-los noLegislativo ou Executivo, eles têm de me dar esta autorização. Como eles confiaram em mim e neste grupo que está chegando para que a gente possa fazer um trabalho melhor do que foi feito até hoje.

Como pretende manter o diálogo com os políticos e com o governo municipal?

O diálogo é primordial em todos os aspectos. Eu quero ter um diálogo com todas as autoridades independente de partidos, até porque eu estou aqui pensando na classe metalúrgica. Eu pretendo ter um diálogo com o prefeito para conseguir atrair mais investimentos, gerando empregos e melhorando as questões da cidade. O diálogo é importante para as duas partes. Eu não posso entrar numa guerra porque, amanhã ou depois, pode haver uma crise e eu terei que conversar com o prefeito.

Já teve alguma conversa com o prefeito?

Uma vez, bem depois da eleição sindical. Hoje, eu não tenho contato com o prefeito. Eu não posso achar que, por eu defender a CUT, eu não vou ter um diálogo com o prefeito. Esse vai ser um diferencial também do que ocorria na gestão passada.

Como e quando terá início a auditoria prometida durante sua campanha?

Tem uma pessoa pesquisando algumas empresas [especializadas em realização de auditorias] e essa auditoria vai ocorrer. Não estou dizendo que houve ou não desvio. Mas, como estou assumindo uma entidade tão importante como essa, eu preciso saber o que aconteceu nesses anos.

Porque quer rever acordo com a Volks?

Para procurar melhorar alguns pontos do acordo, mas com toda responsabilidade e equilíbrio. O trabalhador saiu prejudicado em alguns pontos que eu quero rever, mas com responsabilidade. Ninguém está dizendo que vai desfazer o acordo, o que seria uma irresponsabilidade. Por esse acordo, ao poucos o [modelo] Gol está saindo daqui e indo para a [fábrica na via] Anchieta. Todos nós sabemos que [o carro] é líder de mercado. E aí você está apostando num carro novo [para ser fabricado em Taubaté]. Outro ponto é a data-base, uma conquista que foi alterada. Outro ponto é a PLR [Participação nos Lucros e Resultados]. [Espero] rever esse acordo, porque não fui quem assinou.