Daqui a pouco só restarão Mourão e Moro

Luiz Henrique Mandetta entrou para a restrita galeria dos indemissíveis do governo. E mais: contra a vontade do presidente Jair Bolsonaro. Da galeria fazem parte o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, que Bolsonaro há dois dias chamou de “tosco”, o ministro Sergio Moro, da Justiça e da Segurança Pública, e o general Braga Neto, chefe da Casa Civil.

Não, Paulo Guedes, ministro da Economia, não faz parte da galeria. Fez no começo do governo. Mas com o pibinho de 1.1%, pisadas na bola do tipo anunciar o fim da “festa danada” das domésticas na Disney, e temperamento belicoso tal qual o de Bolsonaro, poderá deixar o governo de uma hora para a outra. Ou então ficar até o fim engolindo sapos indigestos.

Cerimônia de diplomação do presidente eleito, Jair Bolsonaro, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). À esquerda, o vice, general Hamilton Mourão.

Presidente Bolsonaro chamou de tosco o vice presidente Hamilton Mourão

O general Augusto Heleno, ministro do Gabinete da Segurança Institucional? Indemissível? Só porque foi posto no governo por seus companheiros de farda para controlar Bolsonaro e desinflar todas as crises que ele pudesse criar? Não. Não faz parte da galeria. Deram-lhe uma missão impossível. Virou um acompanhante de luxo de Bolsonaro e tornou-se tão tóxico quanto ele.

Literalmente mais tóxico. Para desmentir a notícia de que participara de uma reunião no Palácio do Planalto depois de ter contraído o vírus, o general distribuiu uma nota onde disse que a história era mentirosa, mas em seguida admitiu que participara, sim, da reunião com a presença de Bolsonaro, Mourão e metade dos ministros. Alguns deles, em seguida, adoeceram.

Por ora, Braga Netto é indemissível porque assumiu o cargo outro dia. Bolsonaro trombaria de vez com os militares se mandasse Braga embora. De resto, ele foi paraquedista como Bolsonaro e como o general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo. Braga está seguro – sabe-se lá até quando. Embora sue a camisa para manter-se no cargo, Ramos já se sentiu mais seguro.

Mandetta entrou, ontem, no Palácio do Planalto com um pé fora do governo e saiu com os dois dentro. Disse a Bolsonaro coisas que ele detestou ouvir, a ponto de ameaçar demiti-lo. Depois, em entrevista, repetiu várias delas. Como Bolsonaro poderia livrar-se de Mandetta em meio à crise que o país atravessa – primeiro por culpa do vírus, depois… Você sabe por culpa de quem.

“Estamos preparados para ver caminhões do Exército transportando corpos?” – indagou Mandetta a Bolsonaro no pior momento do encontro. Correção: num dos piores momentos. Não foi o único. Mandetta defendeu o isolamento social, o entendimento com os governadores e sugeriu a Bolsonaro que abandonasse a ideia de que “o Brasil não pode parar”. Pode.

Na entrevista, Mandetta afirmou ser contra a realização de carreatas, algumas delas marcadas para hoje por bolsonaristas que cobram a volta dos demais brasileiros às ruas, mas que não estão dispostos a saírem dos seus carros, nem de suas casas. Seria perigoso demais para a saúde. Quanto à saúde dos pobres, essa “gente simples que trabalha para nos alimentar e nos distrair”…

É de autoria do ex-Posto Ipiranga a definição do que são os pobres brasileiros. Está vendo só por que ele não faz parte da galeria dos indemissíveis? Se Bolsonaro insistir em proceder do jeito que procedeu até aqui, que se cuide para não acabar excluído da galeria. Restaria, além de Moro, Mourão, que está na moita, só piruando. Indemissível hoje, indemissível até 2022. Aço! Selva!