Meu Deus! Estou diante de algo que se agita em mim com ainda mais força do que sempre agitou. Uma energia que, ante tão radiante fulgor, me fala aos sentidos. Espanto-me! Tenho a sensação de estar diante de uma espécie de milagre musical, e me emociono… Exagero? Não creio! Inverdade? Não!

Tenho comigo a certeza de que emoções devem ser sempre exteriorizadas, sem medo de parecer piegas, ou pior, de serem vistos como se viessem de quem “adora” tudo o que ouve. Como se só importasse ao leitor acompanhar o “verdadeiro” crítico, o que deprecia, o que se vale de palavras injuriosas para dizer que não gostou.

Pois bem, surpreendi-me com a audição de Palavra e Som (Biscoito Fino), novo CD de Joyce Moreno. Parecia-me impossível que ela agregasse ainda mais qualidade à sua arte… mas ela assim fez: nesse novo disco, pela primeira vez, ela escreveu versos – joias que, para além de seu violão e de sua voz, completam o seu tesouro musical.

Joyce Moreno reduzida

Joyce Moreno, uma espécie de milagre musical para Aquiles do MPB4

Ao todo são dez letras só dela; mais uma de Torquato Neto (na verdade, uma carta para Ronaldo Bastos), uma de João Cavalcanti e outra de Paulo César Pinheiro. A JM coube musicá-las.

Ela, que assina direção musical, arranjos, violão e voz do novo álbum, tem a acompanhá-la Tutty Moreno (bateria), Hélio Alves (piano) e Rodolfo Stroeter. Além disso, conta com as participações especiais de um grupo que capitaneia, formado por Dori Caymmi (de voz cada vez mais grave, como a do pai), Alfredo Del Penho (violão de sete cordas e viola de dez), Lula Galvão (guitarra e violão), Pedro Amorim (bandolim), Paulino Dias (tantan) e Mattis Cederberg (trombone baixo).

Um exemplo de uma das belas músicas é a doce “Mar e Lua”, que tem introdução de piano e baixo. Um intermezzo do piano, em duo com vocalises de JM, tem a bateria segurando as pontas. Enquanto eles brilham, imagética, a letra revela: “(…) E a Lua percorre o mar/ E dançam fazendo espuma/ Na praia da solidão/ (…) O mar bramiu de paixão.”

Outra letra porreta de Joyce está na inspirada “O Amor É o Lobo do Amor”, talvez a grande música do CD: “(…) O amor sem servidão/ Sem presa e sem prisão/ Amor que é libertador/ Amor que não diz não (…)”. Como um grito, afinado e firme, notas longas iniciam e fecham alguns versos, agregando valor poético à letra.

(…) “Maria do olhar profundo/ Vela por todo este mundo/ Todas as religiões/ Maria da claridade (…) Rogai por todos, Senhora/ Que seja agora e na hora/ Das nossas vidas, amém”, versos que fecham “Ave Maria Serena”, uma prece ecumênica, na qual Joyce dobra sua voz em terças no refrão, enquanto a viola de dez cordas ponteia.

Em “Palavra e Som”, canção envolvente que dá nome e fecha a tampa do CD, novamente JM dobra sua voz em terças. Com bateria, baixo e piano iluminando os versos, o arranjo, a voz e o violão de Joyce Moreno embutem em si o amadurecimento de uma mulher que, desassossegada, se renova e evolui, acrescendo criatividade ao que já era fértil… e emocionando-me.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4