Na sessão de segunda-feira, 25, a Câmara Municipal aprovou uma moção de repúdio à Fundação Santander pela exposição “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”. Os vereadores Vivi da Rádio (PSC) e Noilton Ramos (PPS) foram os autores dessa manifestação retrógrada.

Esses vereadores se basearam no “desrespeito a família religiosa, princípios e valores morais” e que a exposição promoveria cristofobia, zoofilia e pedofilia. Com formação cultural acima da média, eles censuraram cerca de 270 obras de 85 autores diferentes, assinadas por Cândido Portinari, Adriana Varejão e Lygia Clark entre outros artistas de renome no meio artístico.

Pior, os vereadores que aprovaram a moção de repúdio (só a vereadora Loreny do PPS não assinou) sequer viram a exposição criticada. Tal qual uma boiada, assumiram a posição dos dois colegas – Vivi da Rádio e Noilton Ramos.

Imaginem qual seria a opinião desses dois “defensores da moralidade” e seus colegas diante da obra de Michelangelo, por exemplo, pintada entre 1508 e 21512, no teto da Capela Sistina, no Vaticano, reproduzida na abertura. Nela se vê um idoso levando crianças nuas pelas quais era o responsável a ter contato com um jovem de corpo atlético com pênis à mostra.

Os vereadores sequer se interessaram em saber que a denúncia contra a exposição patrocinada pelo Banco Santander foi uma iniciativa do Movimento Brasil Livre (MBL), que participou ativamente das manifestações que provocaram o impeachment da petista Dilma Roussef.

Vivi da Radio

Vivi da Radio, em santinho de campanha eleitoral em 2016

A decadência de Michel Temer e o prostíbulo oficial a que foi reduzido o Legislativo Federal fizeram com que o MBL e outros grupos conservadores transferissem a figura do ”mal” a ser combatido, antes residente apenas no PT, para uma visão distorcida da sexualidade. Se fosse uma batalha contra a pedofilia em si, seria ótimo e esses grupos mereceriam nosso apoio. Mas não é….

Esses movimentos descobriram que é só carimbar alguém do campo ideológico adversário com um rótulo de criminoso sexual – mesmo que nada tenha realmente ocorrido para tanto – que a turba passa a apontar o alvo como ”delinquente” e o denunciante como “salvador”.

Noilton Ramos

Vereador Noilton Ramos, moralista mor da Câmara

Os nobres vereadores poderiam se preocupar mais com seu protagonismo na política local e deixar de ser pau-mandado de um prefeito “eleito” por meios escusos, chamado pelo relator Herman Benjamin, ministro do TSE, de excreção eleitoral. A “vitória” foi conseguida com o “apoio”, que virou “milagre”, na avaliação de Ortiz Júnior, dos ministros Gilmar Mendes, Napoleão Mais e João Otávio de Noronha.

Os vereadores poderiam também usar os meios de comunicação que dispõem para jogar luz sobre a discussão sobre como esse crime de pedofilia ocorre realmente, uma vez que grande parte das agressões são cometidas por pessoas próximas à criança: um pai, um avô, um padrasto, um irmão, um professor ou até um religioso como o Papa tem denunciado.

Não é a arte sobre a sexualidade, mas a falta do tipo de reflexão por ela promovida, que facilita com que ”homens e mulheres que se intitulam como de bem” continuem sendo algozes de crianças.

Muito menos vereadores que mal sabem redigir um projeto de lei.

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PS: Quem quiser ler a opinião do jornalista Leonardo Sakamoto que contribuiu para esse texto acesse o link: https://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2017/10/02/do-antipetismo-ao-falso-moralismo-como-manter-a-influencia-pelo-medo/