Ministro Luiz Fux, presidente do STF, deu uma dura resposta ao presidente que, menos  48 horas depois de divulgar carta que parecia pacificadora, retomou a retórica do conflito institucional 

            Presidente Bolsonaro é um refinado intelectual. Não ria. Leia antes, por favor, e descobrirá a profundeza de seu conhecimento.

O episódio de terça-feira, 7 de setembro, foi escrito originalmente no século VII aC (antes de Cristo) por um tal de Esopo, um fabulista grego que gostava de pensar e escrever.

Uma das fábulas do grego é a respeito de um jovem pastor que costumava levar o seu rebanho de ovelhas para pastar. Cansado da rotina, pensou numa maneira para se divertir um pouco. Na volta a aldeia gritou: “Lobo! Lobo!”. Os camponeses correram em seu auxílio. A maioria condenou o gesto, exceto alguns que acompanharam o pastor por algum tempo. Foi o suficiente para fazer o jovem repetir várias vezes a façanha. Alguns dias depois, um lobo saiu da floresta e atacou o rebanho. O pastorzinho pediu ajuda, gritando ainda mais alto do que costumava fazer: “Lobo! Lobo!”. Os camponeses enganados várias vezes, pensaram que era mais uma brincadeira e não o foram ajudar. O lobo pôde encher a barriga à vontade porque ninguém o impediu. Quando regressou à aldeia, o rapaz queixou-se amargamente. Mas o homem mais velho e sábio da aldeia respondeu-lhe: “Na boca do mentiroso, o certo é duvidoso.”

Esopo ( 620 a 564 a. C) autor de O lavrador e o Lobo na Antiga Grécia

            No caso do presidente, nem os militantes acreditam mais no “mito”. Zé Trovão, por exemplo, caminhoneiro bolsonarista que fugiu para o México e ajudou a orquestrar o bloqueio das estradas, não acreditou no áudio de Bolsonaro. O pessoal de chapéu de caubói, enrolado na bandeira, comemorou em Brasília um “estado de sítio” fake. E caminhoneiros militantes, em vez de protestar pelo preço do combustível, bloquearam as rodovias.

Bolsonaristas acostumaram a compartilhar tantos vídeos fake sobre tratamento de Covid, urnas eletrônicas, ministros do STF e comunistas que não conseguem mais acreditar num áudio real do presidente.

Bolsonaro mandou desbloquear as estradas e esquecer o motim. Foragido no México, Zé Trovão pode ser preso a qualquer momento.

A voz do áudio era Bolsonaro que dizia: “Fala pros caminhoneiro aí que esses bloqueios atrapalham nossa economia. Isso provoca desabastecimento, inflação, prejudica todo mundo, em especial aí os mais pobres. Então dá um toque nos caras aí, se for possível, pra liberar tá ok? Pra gente seguir a normalidade”.

No cercadinho, Bolsonaro manda recados e não ouve ninguém

            Acontece que é Bolsonaro quem prejudica todo mundo, especialmente os mais pobres. É ele quem atrapalha a economia, provoca desabastecimento, descontrola a inflação. É sua a guerra contra a normalidade e a Constituição.

Criticado por aliados institucionais, apelou para o ex-colega Michel Temer procurar o ministro Alexandre de Moraes, do STF. Uma carta foi escrita por Elsinho Mouco, marqueteiro de Temer que supervisionou a redação da carta que levou em mãos em voo da FAB enviado por Bolsonaro. A carta foi divulgada por todas as mídias.

Luís Barroso, ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitora,l voltou a ser atacado

            Na quinta-feira, 9, Bolsonaro provou que a carta apaziguadora não valia nada. Voltou a atacar ministros do STF e a urna eletrônica. É cansativo reproduzir a mesma história de sempre.

Os resultados indicam que prevaleceu o ensinamento de Esopo. Certos homens, apesar de todo esforço para aparentar virtudes, não têm crédito, pois seu caráter não engana mais a ninguém. Grande Esopo.