Wanda Sá abre o seu novo álbum Cá Entre Nós (Fina Flor) com “Rio de Maio”, belíssima canção bossanovista de Ivan Lins e Celso Viáfora. Sem pressa, sua voz surfa bem pelas frases melódicas nas quais sente-se confortável: uma região em que os graves, bem mais do que os agudos, lhes saem da garganta expondo a exata dimensão da potencialidade vocal que ela tem hoje. (No disco, provavelmente, os arranjadores se valeram de tons mais baixos do que os originais, escolhidos pelos compositores no ato da criação. Sabedoria musical de quem conhece bem a cantora, para a qual fizeram arranjos).

Emociona a introdução da canção, quando vocalises de Wanda estão em uníssono com o piano de Ivan Lins, ele que é o arranjador da música. O baixo acústico (Adriano Giffoni) marca as notas nos graves da melodia, enquanto a bateria (João Cortez), delicadamente, acolhe a levada lenta, e a guitarra (Ricardo Silveira) cria desenhos improvisados e, como pinceladas, os dispõe ao longo do arranjo.

Graças ao tom escolhido acertadamente, Wanda aquece o canto. Sua voz imprime doçura, e, ao mesmo tempo vibra, transmitindo uma formidável autoconfiança. Tão bela, sua interpretação é irretocável.

“Samba Pequeno” (Dudu Falcão) tem arranjo de Wanda e Adriano Souza, ele que também tocou piano, que mantiveram o cuidado na escolha do tom desta outra canção bossanovista – Wanda Sá e bossa nova são sinônimos. Mais uma vez, ela vaga soberana pelas notas da bela melodia.

Parceria de Wanda com Roberto Menescal, “Cá Entre Nós” tem arranjo do próprio Menescal, ele que também tocou guitarra e que teve Nelson Faria ao violão. Tem início, então, uma série de canções que se valem de instrumentais minimalistas.

Em “Considerando” (Edu Lobo e Capinam), acompanhada apenas pelo violão de Nelson Faria, percebe-se a respiração acolchoando a voz de Wanda. Por isso ela arrebata.

“Fora de Hora” (Dori Caymmi e Chico Buarque) traz o piano de Adriano Souza, ele que fez o arranjo. Voz e piano se entendem pelo amor à música/amada, “aquela que sem a qual a vida é nada, sem a qual se quer morrer”. Suave, Wanda canta emocionada.

Com arranjo de Wanda, “Fotografia” (Tom Jobim) é cantada e tocada por ela ao violão e por Nelson Faria à guitarra. A essa altura, o Maestro Soberano já devia estar vagamente inquieto, louco para ouvir sua amiga cantando tão lindo.

“Cala, Meu Amor” (Tom e Vinícius). Para interpretar a canção para a qual fez arranjo, Adriano Giffoni e seu contrabaixo acústico percorrem trilha de notada beleza. Wanda Sá arrasa, nesta que é a música mais instigante do CD.

Nelson Faria, arranjador de “The Nearness Of You” (Hoagy Carmichael e Ned Washington) tocou guitarra (seu improviso é magnífico), e teve Zeca Assumpção no baixo acústico. E simplesmente, permitem à Wanda um jeito de cantar de forma ainda mais sedutora.

Com bons músicos e compositores, muitos dos quais ela conhece a mais de cinco décadas, Wanda volta em boa forma, num disco tocante e de grande sensibilidade.

 

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4