Nailor Proveta Azevedo (direção musical, arranjos, sax alto e clarinete), Ubaldo Versolato (sax barítono, flauta e piccolo), Josué dos Santos (sax tenor e flauta), Cássio Ferreira (sax tenor, soprano e flauta), François Lima (trombone de válvulas), Waldir Ferreira (trombone de vara), Nahor Gomes (trompete e Flugelhorn), Walmir Gil (trompete e flugelhorn), Odésio Jericó (trompete e flugelhorn), Jarbas Barbosa (guitarra elétrica), Edson Alves (contrabaixo elétrico e violão), Celso de Almeida (bateria), Fred Prince (percussão), Cleber Almeida (percussão) – a Banda Mantiqueira,  sem gravar há 12 anos e comemorando 25 anos de carreira, está de volta em Com Alma (selo Sesc-SP).

Um arranjo glorioso de Nailor Proveta para “Segura Ele” (Pixinguinha e Benedito Lacerda) abre o CD. Uma virada da bateria antecede a primeira paulada do naipe de sopros, naipe este que embute o DNA dessa grande banda. O flugelhorn do norte-americano Wynton Marsalis tem participação especial. Em meio ao naipe, ouve-se o picollo. Entre “perguntas” e “respostas”, distribuídas com mestria pelo arranjo, a quebradeira cresce. Logo é a vez do solo do clarinete. Nova e arrepiante paulada dos sopros. Sobre a cama criada pelo violão e pela bateria, o improviso volta com o flugel. Com toda a dignidade que bem merece, ao pandeiro é dada a vez de improvisar, o flugel traz o solo para si e, com rara sonoridade, o duo brilha. Esfuziante é a volta do tutti da Mantiqueira. Num encadeamento de acordes, o arranjo desagua numa escala ascendente que finda o choro.

A seguir, “Desafinado” (Tom Jobim e Newton Mendonça). Enquanto os sopros vão nas notas graves do arranjo de Edson Alves (das sete faixas do CD, esta é a única cujo arranjo não é de Nailor Proveta), a introdução tem a notável participação do violão de Romero Lubambo. A melodia está em suas mãos, assim como também estão nas de Proveta. Os sopros seguem “beliscando” os acordes, cujo suingue é regiamente aproveitado pelo violão e pelo sax. Após um criativo improviso de Lubambo, um solo do sax surge por sobre os sopros. Admiráveis, violão e sax concluem o arranjo.

“Chorinho Pro Calazans”, de Cacá Malaquias, tem arranjo de Nailor Proveta e participação especial do autor, com seu sax tenor. Tocada pelos sopros, a introdução anuncia a singeleza da melodia. A bateria ressoa pelas vassourinhas. O tenor improvisa, e para ele os sopros formam o clima. O solo agora é do clarinete. O trompete com surdina brilha. O violão improvisa. O tenor retoma o solo e leva ao climax.

“De Frente Pro Crime” (João Bosco e Aldir Blanc) fecha a tampa. A melodia cabe aos sopros e agradece aos solos de Romero Lubambo (violão), Proveta (clarinete) e François de Lima (trombone de válvulas). Somados à bateria, o tamborim e o baixo agregam cadência à levada… Não direi mais nada.

Ou melhor, direi apenas: leitores, não deixem de ouvir Com Alma, da Banda Mantiqueira. A mais brasileira das grandes bandas nascidas nesta terra de meu Deus.

 

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4