Por Paulo Lacerda

Historiador e professor da rede pública e privada da terra de Lobato, Paulo Roberto de Azevedo Maia foi selecionado para participar de um Congresso sobre educação na Universidade Central da Flórida, em Orlando, onde apresentou, em fevereiro, um trabalho cujo tema é “Cinema e História do Brasil, uma discussão em sala de aula”.

Formado em História e Mestre em Multimeios, na área de cinema, pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Maia acredita que o uso de recursos cinematográficos contribua para o desenvolvimento do processo de aprendizagem nos alunos. Destaca, porém, que a análise histórica com os alunos não deve ficar limitada apenas à visão retratada por um determinado filme, mas proporcionar ao aluno processo de sua desconstrução. Para que isso ocorra, o aluno deve procurar outras narrativas de quem viveu o ocorrido, assim como documentos históricos que o confrontem. O objetivo é inibir uma visão unilateral no estudante e estimulá-lo a formar sua própria leitura do material audiovisual exibido.

Em Orlando, Paulo Maia utilizou-se do filme “O que é isso, companheiro?” dirigido por Bruno Barreto, lançado em 1997, baseado no livro homônimo de Fernando Gabeira que tem como pano de fundo o sequestro do embaixador americano, Charles Burke Elbrick, em 1969, no auge da ditadura militar (1964/1985).

[O filme] foi extremamente polêmico, porque ele tem um olhar sobre o processo da luta armada, que gerou uma reação por parte de quem participou do movimento. O trabalho com o aluno [estimulá-lo] a encarar aquilo, num primeiro momento, como uma aventura, mas também faça uma leitura posteriormente, a partir de documentos. Quando trabalho esse filme [distribuo] um texto do jornalista [e ex-ministro das Comunicações] Franklin Martins, que também participou do sequestro, chamado ‘As duas mortes de Jonas’. Martins afirma que o Jonas, [um personagem real] morre uma primeira vez numa ação do governo e morre novamente em sua retratação no filme. Criou-se no filme uma imagem totalmente deturpada, as falas do personagem tentam descaracterizar o que foi o [aquele] movimento. E é isso que quero passar aos meus alunos”, contou o professor.

Paulo Maia considera que o uso de filmes em sala de aula cativa os alunos, mas salienta que não há verdades absolutas na história e que o filme é apenas uma leitura de um episódio ou de um período. “O filme não pode ser apenas diversão. Deve-se escolher um filme que crie no aluno um desconforto, algo que chame atenção e que ele saia pensando naquilo. E se o filme não trouxer isso, cabe ao professor fazer uma provocação antes do filme, não direcionando, porque na hora em que [o aluno] está assistindo ele tem liberdade de fazer nova leitura do filme”.

“É na hora do confronto, na fala, seja ela do filme ou do professor, no momento em que ele é confrontado com outros pensamentos, que ele [aluno] pode fazer a leitura dele. E tem que haver subsídios para isso. O ideal é que ele assista ao filme e depois busque um documento sobre o fato retratado”, concluiu o pesquisador.

Segundo apurou CONTATO, em Taubaté, todas as escolas de ensino Fundamental possuem salas com aparelhagem de vídeo, com DVD e um acervo com conteúdos relacionados a atividades programadas em sala de aula. Mas a Prefeitura reconheceu que algumas unidades escolares não dispõem de espaço físico para uma sala específica para vídeo e muitas vezes seu espaço é dividido com outras finalidades.

Congresso em Sarasota

            Durante a semana que passou no EUA, Paulo Maia também participou da Conferência dos Historiadores da Flórida, na cidade de Sarasota. Ele foi o único representante brasileiro no evento, quando apresentou sua tese de Doutorado, que desenvolve na Universidade Federal Fluminense (UFF). A tese analisa o programa do produtor Fernando Barbosa Lima, na Rede Tupi, denominado “Abertura”, apresentado de 1979 a 1980 durante o governo do general João Batista Figueiredo.

Maia analisa o programa que, mesmo num regime ditatorial, já ensaiava um discurso democrático. “Há um quadro em que o cineasta Glauber Rocha é o convidado e ele diz o seguinte: ‘Olha aqui, Ministro da Justiça, a peça de Vianinha está censurada, vamos liberar esse negócio!” exemplificou Paulo Maia. Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha foi dramaturgo, ator e diretor de teatro e televisão brasileiro. Faleceu em 1974 com muitas obras censuradas pelos militares.