Em dezembro de 2017, ao comentar um CD então recém-lançado de Renato Teixeira, escrevi: “(…) Os temas musicais existentes nas áreas interioranas, embora sigam florescendo, são pouco conhecidos por grande parte de nossa gente (eu inclusive); a riqueza do cancioneiro das áreas ditas caipiras ou sertanejas se manifesta através de uma música tão popular que identifica e representa todo o povo do interior brasileiro”.

E segui: “Digo isso após prazerosas audições de Terra de Sonhos – Renato Teixeira & Orquestra do Estado de Mato Grosso (Kuarup), um CD que traduz com fineza o jeito rural de compor, tocar e cantar”.

Transcrevi alguns trechos desses parágrafos por achar que eles também expõem o trabalho de Chico Teixeira, filho de Renato, que acaba de lançar Raízes Sertanejas Ao Vivo (Kuarup). Quase todas as dez músicas do CD consagram o Brasil interiorano. Nessa sagração reside a sua paterna e bela herança sertaneja.

Renato e Chico cortada

Chico e Renato Teixeira, pai e filho

               Gravado pela equipe da TV Cultura de São Paulo, no Auditório Ibirapuera, com direção de Mauricio Valim, mixagem de Alberto Vaz e edição de Eduardo Xocante e Ian Segantini, o show contou com um quinteto integrado pelo próprio Chico (voz e violão), Daniel Doctors (contrabaixo, baixo de pau e voz), Thadeu Romano (piano e acordeom), Camilo Zorilla (bateria e voz) e João Oliveira (violão, guitarra e voz).

Afiados que só eles, os caras estavam com o repertório debaixo do dedo. Chico comandou o espetáculo. Com o carisma de sua voz e a desenvoltura de seu violão, tocaram as modas que estão no imaginário dos que habitam lá nos interiorzões brasileiros.

A linda “Cuitelinho” (Antonio Xandó e Paulo Vanzolini) abre o CD, já mostrando que é possível (pre)sentir a emoção que desabrocha do público nos aplausos recebidos ao final do último acorde. É impressionante como a voz de Chico, como se dizia no meu tempo, é “escrita e escarrada” a do pai.

“Jardim da Fantasia” (Paulinho Pedra Azul) tem intro suave, condizente com a delicadeza da letra que clama por um “Bem te vi/ Bem te vi (…)”.

“Ares do Saber” (Chico Teixeira e Paulinho Pedra Azul) tem detalhes da guitarra. O ritmo acelera. O intermezzo da guitarra é viril. Um coro eleva o canto às alturas.

“Aprendendo a Viver” (Renato Teixeira) tem participação especial do próprio Renato – pai e filho ajuntam suas vozes gêmeas. O violão dedilha a intro. A força da composição irrompe letra a fora: beleza íntegra, virtuosa.

“Boiadeiro Errante” (Teddy Vieira) tem participação do “gigante” Sérgio Reis. O acordeom inicia. Sob os aplausos do público, a voz de Sérgio vibra. O duo vocal chega. Logo Sérgio volta a solar… ensolarado.

“Eu Apenas Queria Que Você Soubesse” encerra o CD. Sem entrar no mérito da qualidade da música de Gonzaguinha, ao passar bruscamente de canções com viés interiorano para uma música urbana, ela destoa do clima de até então.

Mas o importante mesmo é que o disco de Chico Teixeira traz em si a boniteza do Brasil sertanejo.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4