Fotos da futura vereadora Loreny Roberto (PPS) usando um biquíni na praia foram compartilhadas nas redes sociais e muitos internautas questionaram e julgaram a atitude e o valor da futura parlamentar.

 

Criado em 1946 pelo estilista francês Louis Réard, o biquíni foi bombástico! A começar pelo nome, inspirado no Atol de Bikini, no Oceano Pacífico, onde os Estados Unidos realizavam testes com bombas nucleares. Desde então, o traje de banho e as mulheres que os vestem sofrem críticas rigorosas seja por cauda do modelo, tamanho e cor. Sempre presente na mídia, foi o estopim para discussões acaloradas sobre o grave problema de imigração na França, e na Europa como um todo. Afinal, a mulher pode ou não usar o burkini (o biquine com burka)?

Em Taubaté, o biquíni surgiu nos anos 1950 na piscina do Taubaté Country Club. Jovens francesas filhas de funcionários graduados da então Mecânica Pesada, hoje Alstom, chamavam a atenção dos associados que só o conheciam através de fotos em revistas.

Recentemente, porém, gerou polêmica as fotos da vereadora eleita Loreny Roberto (PPS) usando essa peça de roupa compartilhadas nas redes sociais. As imagens foram registradas na praia ou em cachoeira, e, pasmem, ela usava biquíni. Que audácia!

O bombástico biquíni de Louis Réard e utilizado pela primeira vez pela dançarina Micheline Bernardini

O bombástico biquíni de Louis Réard e utilizado pela primeira vez pela dançarina Micheline Bernardini

Foi um dos assuntos mais comentados em diversos grupos no WhatsApp e Facebook, como se Taubaté não vivesse um momento de instabilidade política e com uma possível nova eleição no horizonte. O cidadão precisa reavaliar suas prioridades. “A minha posição é de que é uma pena as pessoas discutirem isso enquanto temos um ex-prefeito cassado, com a candidatura indeferida e sendo o mais votado”, afirmou Loreny.

O que provoca indignação são os questionamentos sobre o papel e os direitos da mulher na sociedade. As fotos eram sempre acompanhadas de comentários pondo em cheque o valor de Loreny e a conveniência da atitude da vereadora. Em que mundo vivemos? Será que uma peça de roupa diminui ou reflete a capacidade de uma mulher? Ou será natural roubar fundos destinados a educação? “[Esse fato] reflete a sociedade em que vivemos hoje”, opinou a futura vereadora.

O hábito não faz o monge

Na sexta-feira, 7, o vídeo de um homem trajando terno chutando um morador de rua que dormia na calçada foi notícia nos maiores portais de informação do país. As filmagens indignaram os internautas que não se conformavam com o fato de uma pessoa usando terno fosse capaz de fazer o havia sido registrado. Com se a roupa em si fosse capaz de definir o caráter e o valor de alguém…

Loreny é formada em Gestão de Políticas Públicas pela Universidade de São Paulo e especialista em Controle da Gestão Pública Municipal pela Universidade Federal de Santa Catarina. É sócia-consultora da Planus do Brasil, empresa que atua na área de gestão e planejamento voltados ao setor público. Foi a partir de seu currículo que Loreny criou a sua campanha para Câmara Municipal. É direito e dever de toda a população questionar e fiscalizar os vereadores de sua cidade, porém, duvidar e diminuir o valor de qualquer cidadão, principalmente uma mulher, a partir da roupa que está vestindo é no mínimo mau-caratismo. As críticas devem ser baseadas no trabalho – ou na falta de trabalho – para a cidade e não sobre a roupa usada na praia.

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Todo poder às mulheres

De acordo com o IBGE, 51,4% da população brasileira são formadas por mulheres. Dados divulgados pela União Inter-Parlamentar informam que dos 513 deputados federais, apenas 53 são mulheres. Em Taubaté, das 19 cadeiras para vereador na próxima Legislatura apenas 4 serão ocupadas por mulheres. “Taubaté é um reflexo do Brasil. Então, quando falamos de machismo não é mimimi. [O que vivemos hoje na política] reflete a sociedade que ainda tem o homem como o principal agente político”, afirma Loreny Roberto.

Apesar do empoderamento feminino e a presença maior no mercado de trabalho, ainda causa estranheza uma mulher em cargo de chefia, como acontece na política. A situação piora se ela for confiante, independente e segura de si. Características normalmente associadas apenas aos homens. Ainda reina na sociedade o pensamento de que a mulher pode trabalhar, desde que não ofusquem os homens.

Coitados, eles imaginam que já fazem demais quando compartilham o mesmo espaço com elas. E para uma mulher que fuja desse padrão, a solução é tentar diminuir essa pessoa. Seja especulando sobre a sua vida sexual ou duvidando de sua capacidade para exercer o cargo ou então julgando como ela se veste. Um comportamento que pode ser expresso assim: “Abaixa a bola mulherada!”

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Se compararmos o mundo das primeiras mulheres que vestiram o bombástico biquíni em 1946 com o que vivemos hoje é evidente o avanço e as conquistas femininas. Porém, muito ainda pode e deve ser conquistado. “As pessoas lidam com naturalidade [os casos de machismo]. Muitas entendem que [quem reclama] são pessoas rigorosas e chatas. Já falam sobre a chatice do politicamente-correto. Mas é preciso entender que isso não é piada”, finaliza Loreny.