Escrito lá se vão bem uns noves anos, titulado “Independente! Mas dependente de quem o ouça”, o primeiro parágrafo do meu comentário sobre Eu Sou Assim, álbum de Sidney Mattos, vem transcrito aqui: “Hoje vou comentar o CD Eu Sou Assim, de Sidney Mattos. Talvez você nunca tenha ouvido falar dele, leitor. Pior: talvez nunca venha a escutá-lo. Assim funciona o mercado da música brasileira. Assim é a batalha de centenas de bons produtos que tentam chegar aos ouvidos de quem poderia dar importância a eles”.

Sigo relembrando o texto e transcrevo agora os segundo e terceiro parágrafos: “O mais curioso é que, dentro da crueldade reinante nessa lógica perversa que é feita mais para excluir do que para facilitar, este é o sétimo CD autoral de Sidney Mattos. Compositor de boas qualidades, cantor mediano que funciona como apresentador de seu repertório, instrumentista correto, harmonizador de recursos, produtor atento, ele, além de tudo, tem o que dizer. Suas vivências são ricas e ele não as deixa se aquietarem. Faz bem. Se todos que são como ele tivessem o mesmo ímpeto, os que souberem deles perceberão com quantas histórias se faz uma boa canção. Mais: conhecerão com quantas notas se faz a luta para deixar de ser membro dessa enorme legião de grandes músicos autores eternamente-quase-anônimos que não podem deixar e nem deixam, a peteca cair”.

“Como tantos outros compositores e instrumentistas, Sidney Mattos rema contra a maré; caminha na contramão; busca o céu da criação enquanto trisca as entranhas do purgatório. Agarra-se com unhas e dentes ao talento que só ele e os que lhe são próximos sabem que tem.”

 

 

Pois bem, passado tanto tempo, eis que eu recebo não o nono, mas já o décimo (!) CD autoral de Sidney Mattos. Claro: músico independente que para de pedalar cai (“independente”… êta adjetivo irônico, sô).

Sidney vai em frente e continua expondo seu talento. Uniu catorze cantoras para interpretar suas canções, feitas com parceiros ou apenas suas. O título é um xiste, Elas Me Cantam (independente).

Produzido por Mattos, cantoras já conhecidas brilham: Áurea Martins (sua voz é de fazer sangrar a alma), Vania Bastos (como ela canta, meu Deus!) Lucinha Lins (há tempos eu não a ouvia, saudades) e Bia Bedran (cuja obra infantil é plena de belezas líricas e delicadas) engrandecem o que interpretam.

Há outras não tão conhecidas, mas dá prazer ouvi-las cantar o bom repertório da lavra atual de Sidney Mattos, pois acrescentam magia aos corretos arranjos, todos escritos por ele – embora eu tenha considerado excessivo o uso do teclado com programação de som de cordas. As que mais me surpreenderam foram Lenna Pablo (que extensão de voz!), Sonya Prazeres (entoando uma bela parceria de Mattos com Xico Chaves), Irinéa Maria Ribeiro (cuja voz, eventualmente dobrada, timbra bem com a sonoridade do piano) e Liza K (voz e cello em comunhão).

Assim, em meio à luta para se fazer ouvir, caminha a legião dos “independentes”.

 

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4