“É preciso que tudo mude para que tudo se mantenha”
Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896-1957)

Por Harold Maluf
Presidente do DABM - Medicina

Um futuro sombrio sem a perspectiva da mudança

Se há algo que os alunos do Bom Conselho comentam a todo o momento, este consiste da federalização ou estadualização da UNITAU. Um tema encarado sem seriedade pela própria universidade e abafado logo que se anuncia algo a respeito, o que deixa muitos alunos descrentes e desiludidos.

 


Considerado polêmico, federalização ou estadualização da UNITAU traz à tona a possibilidade de enormes benefícios, tanto para os alunos quanto para a cidade e região. Esta visão derrotista em meio a tão real possibilidade é na verdade tudo aquilo que alguns querem para segurar seus postos na instituição em detrimento de um universo com novas oportunidades, o que chamamos de “síndrome do pequeno poder”. Talvez, esta seja a polêmica do assunto, o que não é nada inteligente quando se escancaram as intenções escusas da universidade ou quando se deprime a própria cidade de Taubaté com a negação desta proposta.


Sabemos que um dos maiores problemas da UNITAU é a inadimplência de seus alunos; algo mais do que previsível, pois a universidade, mesmo com isenção de vários impostos por ser municipal, cobra mensalidades muito parecidas com as de instituições privadas. Além disso, ela não possui hoje o FIES (Programa de Financiamento Estudantil), alegando que o programa a ela não convém pela própria isenção de impostos; contudo, as bolsas de estudos concedidas ainda são muito escassas. Pior ainda é a utilização indevida destas bolsas de estudo por políticos em troca de favores e arrecadação (leia-se compra) de votos.


Com outras diversas dificuldades que hoje a UNITAU não consegue reverter, temos como resultado um índice de desistência altíssimo. O futuro da universidade é extremamente sombrio frente o aparecimento de outras instituições de ensino superior na cidade (a qual a UNITAU combateu a todo custo sem sucesso). O cenário fica ainda pior quando se cogita a chegada de uma Universidade Federal no Vale do Paraíba, vide a falta de uma universidade pública (gratuita) na região; uma reivindicação já exposta por deputados federais do Vale do Paraíba e de onde São José dos Campos já se prontifica a dar o terreno e toda a infra-estrutura para a nova instituição se o Poder Executivo resolver implantá-la num porvir.


Existe uma crescente procura dos alunos da UNITAU pelas Faculdades Comunitárias, reforçando o já cogitado percalço da inadimplência, afinal, se o aluno não consegue pagar a faculdade em que se encontra, ele escolherá outra mais barata e tão perto de sua casa quanto a que se encontra estudando. Contudo, outra perspectiva, não tão visível e relacionada com a transferência dos alunos da UNITAU, contribui ainda mais com tais constatações; ela baseia-se na menor procura, já no próximo vestibular (2007), pelos cursos de graduação, uma vez que se espera um decréscimo significativo de candidatos caso a instituição não tome uma medida mais drástica como uma diminuição no valor das inscrições.


Infelizmente, os representantes maiores dos estudantes da Universidade de Taubaté também parecem pouco interessados em debater, levantar idéias e ações para que consigamos concretizar este grandioso projeto. Neste sentido, tomemos como exemplo os estudantes da FURB (Universidade Regional de Blumenau), uma instituição municipal como a UNITAU localizada no Vale de Itajaí (SC). Eles levantam a bandeira da federalização com toda a força, mobilizando a sociedade, o legislativo da cidade e os próprios deputados federais da região, o que está resultando num processo que de fato a tornará uma universidade gratuita e encerrará os agravantes de seu ensino superior; que porventura são os mesmos de Taubaté.


Consideremos o eixo Rio - São Paulo
um local de maior notoriedade que o Vale do Itajaí não só pelo fato dele estar entre as duas maiores cidades brasileiras, mas por seu enorme desenvolvimento industrial e pela quantidade de tributos que sua economia gera aos cofres públicos. Agora levantemos a questão do porquê a FURB se encontra tão adiantada em relação à UNITAU com tais mudanças. A resposta esta cunhada na estagnação de Taubaté.


Os acontecimentos indicam a região do Vale do Paraíba como a mais procurada por outras instituições estaduais ou federais interessadas em expandir seus domínios. Este é o caso da UNESP e da UNIFESP que montaram um centro de tecnologia em São José dos Campos (também neste caso o município de S. José doou o terreno e a infra-estrutura para a realização do empreendimento). Segundo algumas informações precisas, advindas de fontes confiáveis do Ministério da Educação (MEC), também confirmam o interesse do Estado ou da própria União na UNITAU, uma vez que ela presta diversos serviços de utilidade pública e atua de maneira direta sobre a população.


O ex-reitor da UNITAU, Dr. Nivaldo Zöllner, criou mais de 20 cursos de graduação durante suas duas gestões. O que ele talvez não soubesse era o quão comprometedor esta enorme gama de possibilidades ofertada seria às finanças da universidade, haja vista que estes cursos estão se tornando deficitários. Caso queiram fechar alguns cursos, muitos alunos serão prejudicados, o que não seria nada justo por parte da maior universidade do Vale do Paraíba.


Diante de tais condições, concluo que a única opção para a perpetuação da UNITAU está em sua estadualização ou federalização. Assim, a questão sobre as irregularidades na distribuição das bolsas de estudos se finda junto com todos os demais problemas abordados. Além disso, Taubaté poderá impor maior respeito com uma instituição deste porte, trazendo mais pesquisa e movimentando de maneira grandiosa a economia da cidade. Do contrário, mais cedo ou mais tarde o Vale do Paraíba terá uma Universidade Federal e se a UNITAU permanecer uma instituição municipal, seu status de maior universidade da região se perderá para sempre e sua existência estará apenas nas marcas de suas ruínas.

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