Por Aquiles Rique Reis



Aquiles, vocalista do inigualável MPB-4, escreve uma carta bem humorada ao recém falecido e também inigualável humorista onde afirma entender o tempo que ele, Bussunda, deu a si mesmo e aguarda pelas novidades que virão logo depois da Copa

Prezado Bussunda

Por aqui os políticos continuam repetindo compulsivamente suas mentiras, na tentativa de me fazer crer que são verdadeiras. E o fazem com tal perfeição que, com o tempo, só me resta mesmo acreditar que eles são uns santos e eu, um palhaço.

Você, melhor do que ninguém, sabe o quanto custa ser um bom palhaço, né? Palhaço legal, daqueles que nos fazem rir de desastre de trem, de morte de herói nacional e o escambau. Você sabe como é duro ter de aturar a mentira que vira verdade depois de tanto ser repetida.

Agora mesmo, meu caro Bussunda, Lula da Silva declarou que, após oficializar sua candidatura à presidência, em respeito ao prazo estipulado pela legislação eleitoral que proíbe o presidente da República de usar o cargo para se promover, não dirá mais que vai “inaugurar” uma obra, mas sim “vistoriá-la” para ver se tudo está funcionando direitinho. É mole, cara? E isso será tão repetido que vou terminar acreditando que ele realmente está “vistoriando” as obras, e não cometendo um crime eleitoral.

Devo confessar, caro Bussunda, que tenho uma forte tendência a entregar os pontos pelo cansaço. Chega uma hora em que começo a pensar que sou um tremendo de um ingrato, um estúpido preconceituoso que desrespeita o trabalho generoso feito por Lula e sua turma. A cada mentira surgem tantos desmentidos (e olha que nem precisa ser um desmentido muito indignado, não, daqueles em que se afirma que vão processar o acusador; basta um olhar sério, vitimado...) que pega até mal a gente duvidar de uma gente tão boazinha como essa, não é não?

Agora mesmo, Bussunda, estão tentando me impingir mais uma mentira. Falam tanto, insistem tanto, que como sempre vou terminar acreditando. Vencido pelo cansaço, vou findar, mais uma vez, sendo obrigado a acreditar que você morreu, cara! E já que eu me conheço, estou fazendo de tudo para não sucumbir à avalanche de boatos que querem me fazer crer que você se foi em plena Copa do Mundo. Pera lá! Brincadeira e surrealismo têm hora, mermão!

Você não tem cara que vai se deixar morrer assim sem mais nem menos, não. Tá certo que o futebol da seleção do Pé de Uva (que é como o José Trajano, da ESPN Brasil, trata o Parreira) está meio mixuruca. Mas daí até você morrer por isso, vai uma distância maior do que um chutão do Roberto Carlos. Só fico daqui me perguntando: como é que a mídia tem coragem de tentar me fazer crer que um cara de 43 anos, com uma mulher superbacana, uma filhinha linda de 13 anos e um talento maior do que a Allianz Arena de Munique vai pedir pra sair de campo antes do fim da partida? Tenha a santa paciência, mas esse boato que anda rolando por aí não vai pegar, não.

Estou certo de que você está dando um rolé ali pelas bandas dos Alpes suíços. Quem sabe não deu uma escapulidinha com a sua Julia até a Disney? Ou então foi até à Gávea ver um treino do Mengão, né?

Não sou bom de adivinhação, não, mas essa de quererem que eu acredite que você morreu... Pera lá, meu! Ora, você devia estar de saco cheio de tanto trabalhar e deu um tempo. Só isso. Deve agora mesmo estar preparando um novo personagem. Escrevendo um novo quadro humorístico. Tramando umas bandalheiras daquelas bem grandes... Mas você não teria coragem de morrer só pra sacanear a gente, né? Sim, porque não existe sacanagem maior do que morrer quando se está cheio de vida, de planos, de amores, de talento, de grana...

Pois é, meu prezado Bussunda, estou certo de que você está arrumando um jeito de desfazer esse terrível mal-entendido. Tenho certeza de que sua reaparição, passado o tempo que você mesmo se deu, será em grande estilo. Imagino você entrando em campo, após a final da Copa, vestido de Ronaldo Fofômeno, arrebatando a taça e correndo para a galera, fazendo a gente quase morrer de tanto rir, tão aliviados ficaremos ao desmascarar mais uma mentira criada por gente que parece não ter nada para fazer. Morreu coisa nenhuma!

Um beijo, prezado Bussunda...

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O gogó de Aquiles, ed. A Girafa.

 

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