Por Beti Cruz - biabeti@hotmail.com

Uma crônica bem humorada de Beti Cruz sobre os personagens de empregadas domésticas que se proliferam na TV, principalmente pela Rede Globo que cria estereótipos que são incorporados no dia-a-dia dos telespectadores.

É fácil compreender que em novelas que se passam na época da escravidão haja grande número de serviçais nas imensas casas das fazendas. O que me intriga, porém, é o que acontece em outras tramas, histórias que se desenrolam nos dias de hoje em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Nelas podemos ver famílias ricas vivendo em casas enormes ou luxuosos apartamentos, assistidas somente por uma empregada. Sabemos todos que ela não daria conta do recado.
Em “Belíssima”, tenho tido a oportunidade de observar as proezas das funcionárias ali presentes. Cada uma em seu emprego, desenvolvendo trabalhos mais ou menos parecidos.
Aparentemente a que menos se esfalfa é a governanta da mansão de Júlia, que depois passou a servir ao vilão André. Podemos facilmente imaginar que ela apenas supervisiona o que fazem outras serviçais da residência. Sempre trajada de terninho, é ela quem serve as refeições, desde o raiar do dia, até o licorzinho após o jantar, o que acontece em horas tardias.
No apartamento de Mary Montila, Mônica é uma empregada especial. Jovenzinha, exibindo a cada dia um novo modelo de uniforme, consegue dar conta da casa, comida, roupa lavada e ainda cria o menino Toninho desde bebê. Além disso, encontra tempo não só para namorar, como para longas conversas com a patroa que, fingindo protegê-la, interfere drasticamente em sua vida sentimental, querendo com isto tirar proveito sem que a mocinha perceba.
Outra “faz tudo” é aquela da casa dos Sabatini. Afora o serviço normal, ela atende a todos os telefonemas e depois, com a chegada do garoto à casa do pai, é ela quem lhe serve de babá.
Mas a que mais reclamações trabalhistas teria é Regina da Glória, verdadeira escrava do casarão. Tem tanta gente morando sob o mesmo teto, que nem consigo contá-los ao certo. Entre mãe, filha e netas, são várias mulheres que não movem uma palha. Muito menos os homens. Na casa do turco, a pobre nordestina é quem trabalha como moura. Além de fazer a limpeza, arrumar a casa, lavar e passar roupa (muitas), cozinhar, servir a mesa na hora do almoço e do jantar, varrer o quintal, ir à padaria, ainda tem que saber onde estão as coisas perdidas. Servir cafezinho às visitas. E vigiar para que o gato não fuja. Apegada como é à família, tem apreço por todos. Ouvindo conversas, quer dar seus palpites e quando principia a falar, logo calam-lhe a boca e ela mesma repete o que está cansada de ouvir: “Já sei, lugar de empregada é na cozinha”.
O tratamento dispensado às empregadas é pior do que aquele que antigamente se dava aos escravos que viviam na casa-grande. Estes, muitas vezes tinham ligações sentimentais com a família, como as amas de leite ou as crianças que cresceram brincando com os filhos dos senhores.
Nos folhetins, tudo o que é hoje considerado politicamente incorreto é despejado em cima das prestativas “secretárias” do lar. Impressiona-me o tom ríspido das ordens dadas pelos patrões. Por vezes parecem gentis quando lhes dizem “pode ir dormir”. Só que isto acontece lá pelas onze horas da noite...

 

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