CONTATO – Existe ou não crise no HUT?
Paulo Raposo –
A crise perdura por vários anos. Há diversos fatores que colaboraram para este cenário: baixa remuneração do serviço prestado pelo SUS [Sistema Único de Saúde]; foco excessivo em serviço para o SUS e não para que canalizasse convênios particulares; excessiva tendência de assumir papel de assistência. A dívida com fornecedores, que hoje é de R$ 3,5 milhões, a maior parte dela começou a ser formada em 2000, 2001 e 2002.

CONTATO – A que o sr. atribui o clima tenso durante IV FEMUT (Fórum de Educação Médica da Unitau) quando o senhor discutiu publicamente com dr. Pedro Henrique?
Raposo –
Foi uma discussão, em até certo ponto, sadia. Houve erro estratégico no passado quando foi delegado para o HU assumir o serviço de saúde do município. O dr. Pedro Henrique [diretor de Saúde] defende os interesses da prefeitura que, logicamente, ocupa papel significativo na prestação de serviço. A outra parte, que somos nós [HU], não é suficientemente remunerada por isso. Hoje o HU trabalha com 70% das operações ambulatoriais, exames e internações para munícipes de Taubaté. Hoje estamos adaptados para prestar muito mais serviço. O que nos restringe é que temos que trabalhar em cima de um teto imposto pelo SUS. O HU não faz mais pela saúde da população porque não tem condições financeiras.

CONTATO – Os alunos da Medicina querem melhorias no ensino. Alegam que a Unitau ensina o “feijão com arroz” segundo o reitor Nivaldo Zöllner. Qual sua opinião sobre isso?
Raposo –
O sentido da expressão “feijão com arroz”, é que há necessidade de prestar serviço básico de medicina. Não há necessidade de proceder além daquilo que seria o básico no ensino de medicina. E, por conta desse assistencialismo, a gente cedeu e cumpriu um papel que seria do município ou do estado na gestão da saúde pública, [mas] que não seria de competência da Unitau. É nesse sentido que ele [Zöllner] colocou essas palavras. Nesse contexto, sou favorável.

CONTATO – Como o senhor vê a manifestação dos alunos de Medicina?
Raposo –
Toda a manifestação é bem vinda [quando são] levantadas críticas e sugestões. Isso faz com que a gente cresça e reveja os nossos passos. Há a necessidade de que tudo seja revisto não só pela ótica do aluno, mas do professor, [também] na ótica assistencial municipal e estadual e na ótica administrativa financeira. Apesar da precariedade, que reconhecemos que por vezes nossos serviços são prestados, deve-se destacar que desde agosto de 2005 mantemos o mesmo nível de operação.

CONTATO – Os alunos criticam a Unitau, mas têm preservado a Fust. A que o sr. atribui esse fato?
Raposo –
Falando em nome da própria Unitau, praticamos total transparência. A Fundação tem a obrigação de prestar conta. Normalmente, quando eles [alunos] nos questionam, mostramos para eles como os projetos estão sendo viabilizados. Nesse contexto, é muito gostoso a gente participar junto com eles porque eles colaboram com críticas e sugestões.

CONTATO – O sr. é a favor ou contra a municipalização do HU?
Raposo –
O Ministério da Saúde sinalizou que não é viável porque o nosso hospital é uma referência regional. A prefeitura não conseguiria municipalizar o HU pelos moldes que são prescritos hoje. Sendo um hospital universitário, tem uma série de diferenciações. Nesse ponto, acredito que a municipalização pode não ser viável. Como o hospital está vinculado à universidade, deveríamos analisar a viabilidade de ensino.

CONTATO – Qual é a saída para resolver os problemas no HU?
Raposo –
A saída é justamente o caminho que a gente está percorrendo. O HU foi credenciado como hospital de ensino em 15 de fevereiro. A segunda fase é uma assinatura de compactação de serviços [que] vai gerar recursos de R$ 150 a 200 mil por mês a mais para o hospital. Outro passo seria redefinir nosso tamanho enquanto assistencial e ensino.

CONTATO – Qual seria a saída para o HU hoje?
Raposo –
Precisaríamos de R$ 350 mil mensais para cobrir o déficit operacional. Essa cifra seria um valor adicional ao que o HU já recebe pelo SUS (R$1,1 milhão), pela Unitau (R$ 4,6 milhões/ano), mais os de convênios particulares. Tudo isso, acreditando que não haveria necessidade de outros investimentos. A necessidade, hoje, seria na faixa de R$ 6 a 7 milhões. Sei que é difícil. Em um cenário de médio a longo prazo, conseguiremos atingir um equilíbrio nos próximos anos.


O HU não faz mais pela saúde da população porque não tem condições financeiras

 

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