Por Paulo de Tarso Venceslau

Provas a granel
A filha do vereador não gostou da matéria. Nem seu pai. Paciência. Fazer o quê diante das provas que CONTATO conseguiu e encaminhou ao Ministério Público sobre o caixa dois operado por Fernando Gigli, chefe de Gabinete do prefeito Roberto Peixoto?


A sessão da Câmara Municipal de terça-feira, 4, foi extremamente reveladora. Parecia que a cidade vivia a maior calmaria política de sua história. Nenhum vereador fez qualquer comentário sobre as denúncias tornadas públicas em nossa edição anterior. Nessa sessão, os vereadores aprovaram o aumento de remanejamento de verbas de 5 % para 20 % com um único voto contra.
No dia seguinte, a filha de um vereador me liga para saber porque eu atacava tanto seu pai, um homem honrado que nunca roubou nada. “Como você pode acusá-lo de ladrão? Como pode chamá-lo de soldadinho?”, cobrava a indignada moça na outra ponta da linha.
Diante dessa cobrança, só restou-me um esforço hercúleo – não sei se bem sucedido – para refutar ponto por ponto. Comecei explicando que nunca chamei ninguém de ladrão porque nosso jornal não faz ataques pessoais. Opções sexuais, abusos de bebidas etílicas, ter ou não ter religião, não nos dizem respeito. Lancei o primeiro desafio: “mostre onde a matéria traz qualquer insinuação a respeito da honra do seu pai (dela)?”. Não havia e não há nada a respeito.
Afirmamos sim que o vereador “tal qual um soldado de infantaria” cumpre ordens do prefeito sem questionar e que votou contra a instalação da CEI, mesmo sem ter participado dos depoimentos feitos à Câmara pelas pessoas envolvidas diretamente. Se ele não compareceu à Câmara, se ele cumpre ordens sem qualquer visão crítica, se ele cria desculpas infelizes para defender a prática indefensável de caixa 2, o problema era dele, vereador, e não do jornal. Paciência. Sei que a moça que gosta muito do seu pai. Mas ele é uma figura pública e como tal tem que prestar contas de seus atos.
O vereador e filha leram a matéria que traz a foto de um “empresário” que teria generosamente arranjado dinheiro para que Fernando Gigli, chefe de Gabinete do Prefeito, pagasse uma dívida da prefeitura à ACIT. Um pagamento que foi feito em dinheiro vivo, documentado pela contabilidade da centenária entidade e testemunhado por inúmeros funcionários, inclusive por um diretor da ACIT.
Honório Shibata, o generoso empresário, apresentou documentos assinados. Mesmo sabendo que se tratava de uma história porcamente montada pelos assessores do Palácio Bom Conselho, deixei por barato. Por uma razão muito simples. A falsa história me dava provas tão concretas como a versão verdadeira.
A falsa história tornada verdadeira com os documentos apresentados mostra que Fernando Gigli usa e abusa da prefeitura. Num lampejo de generosidade, posso até admitir que tudo faz e o prefeito, tal qual Lula, nada sabe. Nesse caso, o prefeito teria de tomar alguma iniciativa diante da prova concreta de que seu chefe de Gabinete usou papel timbrado da prefeitura para pedir R$ 2.500,00 a Shibata.
Faço uma aposta. Darei uma garrafa de cachaça Havana, de Salinas, MG, para quem conseguir provar a legalidade desse ato. Se for uma senhora, darei um frasco de perfume que escolher, entre todas as marcas nacionais e estrangeiras.
Se o prefeito Roberto Peixoto quiser enfrentar o desafio e provar que não é verdadeira a assinatura de Gigli que consta no pedido e que dona Odila Sanches, diretora de Finanças da prefeitura, lançou o valor pedido nas receitas da prefeitura, eu pagarei o valor decuplicado. E o prefeito ainda poderá optar entre cachaça e o melhor whisky escocês do planeta.
E pagarei cem vezes o valor da aposta se o prefeito provar que não disse no debate realizado na TV Cidade que ele sabia que dois empresários “amigos de Gigli” haviam colaborado com ele.
Ora, se o prefeito sabia de tudo e confessou antes da realização da sessão que reduziu à pizza o pedido de CEI para que a Câmara investigasse a denúncia; se a Câmara ouviu e registrou a versão mentirosa do chefe de Gabinete e mesmo assim não quis investigar nada; se depois de tudo isso a Câmara aprova o aumento de livre remanejamento de recursos por parte do prefeito com apenas um voto contra, só me resta duas alternativas: rezar, como recomendaria a Velhinha de Taubaté pra quem político bom só é bom enquanto candidato, ou confiar na Justiça e fornecer todas as provas coletadas por CONTATO para que o Ministério Público tome as providências cabíveis.
A filha do vereador que me perdoe, mas provas já foram encaminhadas ao Ministério Público.

 

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