Por Jorge Fernandes

Principal patrimônio arquitetônico de Taubaté pode estar com os dias contados.
Falta de recursos financeiros pode enterrar de vez a Capela do Pilar.

A estrutura da capela apresenta vários pontos críticos

A Capela Nossa Senhora do Pilar, único monumento arquitetônico original de Taubaté e do Vale do Paraíba do século XVIII, corre o risco de desabar caso providências não sejam tomadas com urgência. A capela sofre os efeitos do crescimento desordenado, da modernização do espaço urbano e da ação constante do tempo. “Obviamente, se os problemas não forem sanados, pode cair”, sentencia a autora do projeto de restauração da Capela do Pilar, a arquiteta Lívia Vierno, contratada pela prefeitura de Taubaté.
Infiltrações, poluição, raízes de árvores próximas à estrutura, deslocamento de paredes e o tráfego de veículos fazem parte do emaranhado de problemas desse patrimônio. Segundo Vierno, “as árvores projetam sombra impedindo a Capela de receber insolação adequada, as raízes vão solapar ainda mais o chão e, junto com o trânsito, vão fragilizar ainda mais o solo”.
O diagnóstico é preocupante. Se a restauração não for iniciada, “a igreja não vai demorar muito tempo para ruir”, afirma a arquiteta. Outro problema encontrado é em relação ao Museu de Arte Sacra. Para Vierno, o museu está inadequadamente instalado “porque, a Capela, além de ter espaço pequeno, não apresenta proteção nos pavimentos superiores. A ausência de forros faz com que pombos, morcegos e insetos produzam ainda mais danos ao acervo”.
Construída em 1750, a jóia rara da arquitetura de Taubaté está com seu alicerce seriamente comprometido. Entretanto, para o diretor de Turismo e Meio Ambiente da prefeitura, Antônio Roberto Paolicchi, a responsabilidade pelo estado de conservação da capela é das administrações anteriores. “Não houve ações concretas para que nossa memória fosse preservada”.
Em 1944, a capela foi tombada como patrimônio histórico pelo IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Um ano depois, ocorreu a primeira restauração. O último foi em 1985.
O processo de restauração pode durar aproximadamente 12 meses e é inevitável que medidas emergenciais sejam tomadas para minimizar esses impactos. “Algumas ações que, independente do projeto em si, podem ser feitas como, por exemplo, a manutenção do telhado e a preocupação maior em relação às árvores, que ano a ano ganham altura, diâmetro e raízes”.
Por outro lado, o projeto de restauração apresenta ainda alguns pontos em discussão. Segundo Paolicchi, o IPHAN prevê R$ 250 mil para uma restauração imediata para que não haja maiores problemas na capela. Além disso, o conselho do IPHAN, em parceria com a Petrobrás, estuda o repasse de R$ 1,23 milhão, de acordo com o diretor de Meio Ambiente e Turismo. O projeto, já aprovado, depende da liberação de recursos para ser iniciado.
Outro fator de morosidade para o projeto diz respeito ao acervo do Museu de Arte Sacra, que fica na própria Capela do Pilar, desde 1985. Segundo Paolicchi, esse tema está sendo debatido junto a Mitra Diocesana de Taubaté, dona do acervo de 546 peças. O inventário de todo o material foi levantado pela arquiteta Lívia Vierno durante os meses de julho a outubro de 2005. Enquanto a questão burocrática não é resolvida, a Capela do Pilar segue agonizando. Mesmo assim, essa delonga não tira o ânimo da arquiteta que acredita que “documentar é uma forma de preservar”.

Livia Vierno, autora do projeto de restauração

Projeto
Atenta ao futuro turístico de Taubaté, em fevereiro de 2005 a prefeitura deu os primeiros passos rumo à restauração da Capela do Pilar. “Nessa época, mantive diálogo com a administração municipal, que se mostrava preocupada com este patrimônio”, recorda-se Lívia Vierno. Concluído em abril do mesmo ano, o projeto tem 158 páginas. Nele se encontra desde a história completa da igreja, até os problemas, visíveis e invisíveis, encontrados atualmente. Com a experiência de dois projetos de restauração concluídos e oito em andamento, Vierno acredita que a obra será importante para o desenvolvimento do turismo na cidade.
O projeto apresenta duas vertentes. Uma é em relação ao acervo do Museu de Arte Sacra. “Muitas pessoas visitam o museu sem saber que lá é a Capela do Pilar que é tão importante quanto o acervo do museu”, conta Vierno. A idéia é que no local só exista a capela, reservando outro espaço para o Museu de Arte Sacra. Outra vertente é a conservação da própria Capela do Pilar. “O mais difícil é conseguir recursos necessários para a realização”, afirma a arquiteta. Ou seja, a elaboração da primeira etapa do projeto foi concluída. A segunda etapa consiste na aquisição de recursos. De acordo com Lívia, “existe grande interesse do governo federal na restauração do patrimônio do país”.

[ + ] Ensaio fotográfico: Capela do Pilar

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Jornal CONTATO 2006