Por Paulo de Tarso Venceslau

O Estado Policial
“Um dia, vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei.
No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar”.
(Martin Niemöller)


Não é a primeira vez que trato desse poema nesse espaço, escrito por Martin Niemöller, pastor luterano alemão, na época do nazismo dos anos 1930. Acontece que o Estado Policial petista exacerbou-se e revelou-se por inteiro. O Estado Policial fez com que a cunhada do irmão do Henfil – Marilena Nakano é cunhada de Betinho, imortalizado na canção de João Bosco e Aldir Blanc - se asilasse com seu marido Bruno, irmão de Celso Daniel, prefeito de Santo André assassinado. O Estado Policial sequer respeitou a condição de trabalhador de Francenildo Costa, muito menos seu drama familiar – filho de mãe solteira – que o levou a procurar e até mesmo chantagear seu pai biológico, e quebrou seu sigilo bancário. O silêncio conivente, nesses casos, pode custar muito caro. Por isso o poema precisa ser relembrado.
Para os petistas, tudo não passou de uma armação. O medíocre ministro do Trabalho (como é que ele se chama mesmo?) declara que o caseiro fora “treinado pela oposição”. Jorge Matoso, presidente da CEF, um dos maiores suspeitos de ser o mandante, pediu 15 dias para investigar o vazamento. Márcio Tomaz Bastos, ministro da Justiça, reconhece que “se trata de um episódio muito grave” - Francenildo se encontrava na sede da Polícia Federal, subordinada ao ministro, no momento em que seu sigilo bancário foi quebrado. O presidente Lula se cala porque não pode deixar de lado seu discurso de campanha.
A histérica senadora Ideli Salvatti (PT) queria investigar as fitas do Congresso para descobrir se o caseiro havia conversado com algum senador da oposição. Proposta tão ridícula mereceu reprovação até de seus pares no Senado. A verdade é que a reação petista não passou de um tiro no pé.
É inadmissível o que fizeram com o caseiro. “Francenildo é cada um de nós” porque ninguém, em sã consciência, poderá dormir em paz depois desse episódio que não tem similar na história da República.
A máscara já caiu faz tempo. Pelo menos desde o momento em que petistas escolheram a mentira, a fraude, o dolo como instrumentos eficazes de política. Mas, tentar desmoralizar Francenildo foi demais. O tiro dado no pé não foi suficiente. A decisão de Francenildo de abrir sua conta bancária pode fazer com que a mão aponte a arma para a própria cabeça (Getúlio apontou e atirou em seu próprio coração).
E para completar, a operação abafa contou com o apoio explícito da revista Época, que faz parte do império jornalístico da família Marinho, dona da Rede Globo. No mínimo, a revista foi usada, manipulada, pelo poder. Os mais generosos dirão que não passou de inocente útil. Bobagem. Não seria a primeira e nem a última vez que esse império compactua com segmentos que não se pejam em jogar no lixo instituições democráticas.
Basta! É hora de pedir o impedimento de Lula. O impeachment é um instrumento da democracia. O presidente do Brasil, eleito pelo Partido dos Trabalhadores, não merece mais permanecer no governo. É inadmissível a absoluta falta de respeito à nação no episódio em que um humilde trabalhador teve o seu sigilo invadido enquanto estava na PF, último de uma série da atos abomináveis.
A oposição errou quando poupou o ministro Palocci em tempos idos. Ao contrário, aplaudiu-o, ignorando que ele é parte da equação petista, como são Lula, Dirceu, José Genoino.
A oposição errou quando poupou Lula e não pediu seu impeachment diante das contundentes provas de caixa 2 e pagamentos feitos com recursos não contabilizados. Provavelmente por causa do rabo preso da oposição nas mesmas negociatas que enredaram os petistas.
Errar é humano. O que não se admite é insistir no erro. O que mais precisa acontecer para que se tenha claro que há um grupo organizado na política brasileira para assaltar o Estado de Direito?

 

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