Por: Luiz Gonzaga Pinheiro - spesspei@uol.com.br

O regional como universal

Com leis e livros, assim, se constrói um país, sentenciava Lobato, desde sempre. Tendo sido o paladino da leitura no país, alegava que era fatal a cadeia lógica que se seguia à falta de leitura, decidindo que sem leitura não haveria discurso, fala; não poderia haver escrita, também não haveria como ouvir e entender, não se veria, pois não restaria como apreciar obras, coisas, objetos, fenômenos sociais.
Ainda hoje, “não vemos”, mas despendemos importâncias surpreendentes para dispensar o mais importante dos trabalhos dos professores, aquele ligado às propostas educacionais com vistas para a educação da leitura e da educação para o conhecimento, em Taubaté. Uma empresa foi escolhida para pensar por todos, desobrigando competentes técnicos de sua tarefa essencial. Agora, uma empresa paranaense pensa por todos os competentes mestres de Taubaté, remunerada pela módica importância de trinta e três milhões de reais.
Encaixota-se o saber da cidade, adotando técnicas e caminhos que também se prestam ao Oiapoque e ao Chuí, recriando o país de um modo novo e obtuso: por escolha da empresa fornecedora de apostilas para o ensino de Taubaté, pouca ou nenhuma diferença existe na língua falada nesses “países” brasileiros, uniformizando-se fonética, prosódia, vocabulário, hábitos e costumes, como se o pensamento brasileiro não fosse expressão de importantes dialetos, história, raízes, acentos.
Decreta-se a unicidade dos desiguais e eliminam-se as riquíssimas e necessárias capitais regionais do pensamento, escrita, vocabulário, ambições, projetos de crescimento. O país perde o relevo das diferenças e se decreta a planície falsa das igualdades, colocando pijama nos pedagogos, a bem de uma harmonia que é das mentiras mais convenientes da educação atual em nosso país e em Taubaté, de modo mais imediato.
A apostila adotada atua como uma motoniveladora, colocando tudo e todos em um único plano, dispensando as bibliotecas, o que, aqui entre nós, não abala nada e coisa nenhuma, pois as existentes projetam o acanhamento de seus dirigentes, incapazes de impor processos dinâmicos de multiplicação de leituras e de leitores, conservando acervos desrespeitosos e acanhadores, regidos por burocracia, regrinhas preguiçosas, acervos de envergonhar Jeca.
O acanhamento do “sistema” tem a ver com a timidez que inibe crescimento, aperfeiçoamento, operacionalidade de gestores, mais ocupados em cultivar poses, inventar gestos, como ilusionistas e incompetentes pilotos de acanhadores acervos capazes de ruborizar cidades de dez mil habitantes.
Para onde vamos? Vamos para uma série de artigos onde se pretende traçar uma radiografia de nosso grotesco insucesso, sempre acompanhado pelo orgulho dos energúmenos que não lêem, não falam, não escrevem, não ouvem e não vêem.

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