Por Paulo de Tarso Venceslau
Presidente
do STF ou jogador inveterado?
Tudo indica que está chegando
ao fim o drama do maior jornal diário da Região. Mas,
como cabeça de juiz é como barriga de neném,
tudo poderá acontecer
Presidente Lula prestigia Ministro Jobim na sessão de abertura
do Ano do Judiciário, dia 1 de fevereiro -
foto: Antonio Cruz/ABr
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Na
ânsia de mostrar serviço e se manter numa eventual
disputa política para o cargo de presidente ou vice em uma
possível composição do PMDB, seu futuro e já
anunciado partido, Jobim extrapolou todos os limites imagináveis
de subserviência. A gota d’água foi impedir a
quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico de Paulo
Okamoto, presidente do Sebrae e responsável pelas finanças
pessoais do presidente Lula.
Nesse episódio, Jobim não só desrespeitou o
Poder Legislativo como o atacou frontalmente ao afirmar que suas
investigações (CPI) são comparáveis
àquelas levadas a cabo pela ditadura militar. E foi além
ao qualificar as investigações como “inquisições”
e de promover a “invasão de privacidade” e até
mesmo de classificá-las, as investigações,
de “barbáries”.
Numa linguagem mais jovem pode-se dizer que o ministro pirou de
vez. As reações reforçam essa idéia
quando articulistas e juristas tradicionalmente ponderados em suas
análises classificam as ações do ministro como
tresloucadas e que teriam escancarado suas digitais por trás
da liminar que concedeu ao primeiro amigo do Planalto.
Jobim, de forma irresponsável, alega que o pedido de quebra
de sigilo de Okamoto se baseava apenas em matérias jornalísticas.
Trata-se de um argumento que desqualifica todo o trabalho de uma
CPI que ouviu muita gente e angariou um sem número de provas
materiais. Eu sou testemunha disso. Forneci à CPI, oficialmente,
um relatório produzido e assinado por próceres do
Partido dos Trabalhadores – o jurista Hélio Bicudo,
o economista Paul Singer e o advogado e deputado federal pelo PT
José Eduardo Cardoso.
No relatório está escrito, com todas as letras, que
Paulo Okamoto, em 1993, já se especializava em prefeituras
petistas à busca de recursos (contribuições)
não contabilizados para o PT. As provas são os depoimentos
do deputado federal Arlindo Chinaglia, então presidente do
PT paulista; de Clara Ant, assessora especial do presidente Lula,
então tesoureira do Diretório Nacional do PT; do ex-deputado
e ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, então
presidente nacional do PT. Esses dirigentes afirmam que Paulo Okamoto
não tinha qualquer cargo no PT e nem tinha qualquer delegação
para recolher recursos financeiros.
Essas são apenas algumas provas materiais que desmentem os
argumentos do ministro Nelson Jobim, presidente do Supremo Tribunal
de Justiça. Não contente em servir o atual titular
do Palácio, como o vem fazendo desde que foi indicado por
FHC para a Suprema Corte, Jobim, ao partir para o ataque contra
o Legislativo, assume a responsabilidade de desmoralizar a própria
Justiça. É exatamente isso que interessa ao Palácio
do Planalto. Afinal, na inauguração da Presidência
da República, Lula classificou o Poder Judiciário
como “caixa preta”.
As virtudes e os defeitos do Poder Judiciário não
são menores nem maiores que os dos outros Poderes. Porém,
enquanto não forem realizadas as mudanças necessárias
para seu aperfeiçoamento, o STF continuará como sendo
uma instituição que merece todo o respeito. Manter
sua independência diante dos demais Poderes da República
é o primeiro e primordial passo tanto para a consolidação
como para o aperfeiçoamento da democracia e da própria
República.
A confissão de Paulo Okamoto, à CPI, de que pagou
uma conta pessoal de Lula com recursos, pelo que tudo indica, originários
do fundo partidário e o relatório assinado por personalidades
petistas escolhidas pelos dirigentes do PT, que comprova o papel
de Roberto Teixeira, compadre de Lula, e Paulo Okamoto na montagem
de caixa 2 nos idos de 1993, são provas mais que irrefutáveis
para se quebrar o sigilo de um servidor público.
Só a ambição política desmesurada pode
explicar uma atitude semelhante a de um jogador que põe todas
as fichas num jogo de alto risco, mesmo sabendo que caso vença
esse jogo, sairá com um cacife tão mal-cheiroso que
a História saberá colocá-lo no seu devido lugar.
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