O
vice-prefeito Alexandre Danelli acaba de ser exonerado do departamento
de Planejamento. Por ironia do destino, recebeu a informação
no dia 25 de janeiro quando comemorava seu aniversário.
Como prêmio de consolação, recebeu o recém-criado
departamento de Desenvolvimento Econômico do Município
que tem, praticamente, os mesmos objetivos do departamento de
Planejamento. Só não tem os mesmos poderes. Os envolvidos
estão profundamente empenhados em manter a aparência
de que tudo aconteceu dentro de um clima de paz. Para eles, trata-se
de um assunto que já estaria sendo discutido há
meses no Palácio Bom Conselho.
Ledo engano. CONTATO, desde meados do ano passado, já informava
que o vice-prefeito Alexandre Danelli estava sem tinta na caneta.
Uma forma elegante para descrever um profissional muito respeitado,
neófito em política, que estava sendo literalmente
rifado. Porém, a rapidez e o período em que se deu
a exone-ração pegou muita gente de surpresa: mês
de janeiro, recesso parlamentar e a convocação extraordinária
da Câmara para criar, a toque de caixa, o departamento de
Desenvolvimento Econômico.
A surpresa aumenta ainda mais quando várias fontes repetem
que essa açodada decisão foi fruto da forte pressão
exercida pela primeira-dama Luciana Peixoto. A trama fica ainda
mais complexa quando, segundo fontes ouvidas por CONTATO, aparece
a sinistra i-magem do deputado estadual padre Afonso Lobato (PV).
O padre-deputado tem aliados importantíssimos no Palácio
Bom Conselho. Pelo menos três departamentos são controlados
por pessoas de sua confiança: Luís Rodolfo Cabral
(Jurídico), Pedro Henrique da Silveira (Saúde) e
Monteclaro César (Trânsito).
Esse quadro chama a atenção de analistas que não
conseguem explicar como é que o Partido Verde tem todo
esse poder dentro da prefeitura quando não possui um único
vereador na atual legislatura. Além disso, é sabido
que tanto o padre-deputado como os diretores da Saúde e
do Trânsito eram defensores explícitos do então
candidato Antônio Mário Ortiz.
Se o Partido Verde não tem um vereador sequer, assim como
não tem cacife político no estado, as opiniões
convergem para a influência que o padre-deputado tem sobre
a primeira-dama, dona Luciana Peixoto. Depois de um início
de governo marcado por um comportamento e discursos pouco ortodoxos,
dona Luciana foi orientada a optar pelo low profile. Ou seja,
há meses que ela tem sido discreta em suas aparições
públicas. A mesma prática foi estendida para as
exigências que faz para o esposo-prefeito. Com isso, dona
Luciana saiu dos holofotes e, conseqüentemente, da linha
de tiro. Submergiu.
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Eduardo Gliorio Gozzano, assessor da presidência
da CBA
Caso
Danelli
A versão oficial a respeito
do afastamento do vice-prefeito do departamento de Planejamento é
tão frágil que não resiste aos ques-tionamentos
mais chinfrins. Por exemplo. Alexandre Danelli como Silvia Ramiro,
sua sucessora, fazem o mesmo discurso: trata-se de uma mudança
que estava sendo gestada no Palácio Bom Conselho desde o ano
passado. Mas nem um outro consegue explicar como que se cria um novo
departamento sem qualquer previsão orçamentária
para 2006. Ou os titulares – ex e atual – são muito
despreparados ou foram pegos de surpresa. Pelo menos no caso do vice-prefeito
tudo indica que foi uma surpresa.
Quando há meses CONTATO relatava aos seus leitores que Danelli
estava enfraquecido, havia uma enorme preocupação do
Palácio Bom Conselho em demonstrar que o vice contava com todo
apoio de Peixoto. A última encenação foi durante
a apresentação dos projetos Vale Verde e do autódromo
para corridas de Fórmula 1. Apesar de serem projetos herdados
de Bernardo Ortiz, se concretizados, poderiam ser a marca do governo
de Peixoto. O prazo fatal seria 31 de dezembro de 2005. O prazo se
esgotou e, apesar do esforço de Danelli (ver entrevista), não
há sinais animadores, principalmente por parte dos investidores
alemães aqui representados por Alan Baldacci.
Outra fonte assegura que o destino de Danelli teria sido decidido
no dia 20 de janeiro, quando os tucanos locais realizaram na Câmara
Municipal uma reunião da Coordenadoria Regional do PSDB de
Taubaté. O vice-prefeito foi o único membro do governo
que compareceu ao encontro. Porém, logo no início do
evento Danelli foi informado por um assessor de comunicação
da prefeitura que o prefeito queria falar com ele. No ato, passou-lhe
o celular. Na outra ponta, contam alguns dos presentes que assistiram
a cena, Peixoto teria desancado seu vice.
Danelli nega de pé junto. Afirma que havia outro compromisso
agendado. “No dia do encontro regional do PSDB, estava prevista
a vinda de empresários norte-americanos da Evia-tion Jet do
Brasil. Na verdade, eles iam chegar às 16h30. E às 16h
me chamaram. Então, não havia necessidade de voltar
à reunião e tornar a sair de novo”, relata o vice-prefeito. |
Silvia
Ramiro, a nova diretora
Silvia Ramiro
Funcionária
antiga da prefeitura, a nova titular do departamento de Planejamento
já conhe-ce a função de longa data. Pelo menos
desde o tempo do prefeito Salvador Khuriyeh. Silvia Ramiro afirma
que se trata apenas de uma medida administrativa que “o prefeito
queria implantar desde o ano passado”. Para ela, “Danelli
não foi afastado de nada. Ele apenas assumiu as três
gerências que acumulava no departamento de Planejamento (
GEIN – expansão industrial, GECOM – comércio
e prestação de serviços - e GEAP – agropecuário).”
E vai além: “Não houve qualquer pressão
de quem quer que seja e não vai mudar nada, absolutamente
nada. Vou continuar o trabalho de Danelli. A única ênfase
maior será na parte habitacional”.
CONTATO apurou que no seu primeiro dia como nova diretora, Ramiro
teria entrado na repartição e afirmado em alto e bom
som: “Quem manda aqui agora sou eu”. Ela nega peremptoriamente:
“Isso é mentira. Posso ser exigente, mas nunca fui
prepotente”.
Deputado
padre Afonso (PV)
O parlamentar do Partido Verde mostrou-se surpreso quando nossa
reportagem o abordou a respeito da exoneração de Danelli
do Planejamento, seu remanejamento para o novo departamento de Desenvolvimento
Econômico, a nomeação de Silvia Ramiro e a pressão
que teria sido feita por dona Luciana Peixoto. “Faz mais de
seis meses que não falo com a primeira-dama. Quem disse isso
(sua influência sobre a esposa do prefeito) quer espalhar
cizânia. Sou amigo de Danelli. Um homem que respeito muito.”
Aproveitou para criticar o jornal CONTATO que o chama de “Rasputin
do Bom Conselho” – trata-se de um monge que exercia
enorme influência sobre as mulheres da nobreza do império
czarista russo no fim do século 19 e começo do 20.
O padre-deputado nega qualquer influência sobre o Palácio
Bom Conselho. Quando perguntado sobre seus companheiros de PV que
estão no primeiro escalão da prefeitura, explica que
o partido é outra coisa. “Você tem de analisar
como foi a campanha eleitoral e o papel que eu, Pedro Henrique,
Monteclaro [César Jr.] e [Luís Rodolfo] Cabral tivemos”.
E o Rodrigo Andrade? “Também.”
Quando lembrado a respeito da vacilada que teria dado diante da
indefinição na escolha entre Antônio Mário
e Peixoto, o padre-deputado concorda, mas reafirma que “depois
assumimos a campanha, acompanhamos Roberto Peixoto em todos os comícios
e eventos. Foi isso que fez com que Peixoto fizesse essa escolha”.
A surpresa maior foi quando afirmou que não sabia de nada.
Perguntado se estaria dando uma de presidente Lula que nunca sabe
de nada, o parlamentar riu e reafirmou que não sabia absolutamente
de nada.
Nesse andar da carruagem, só falta o prefeito Roberto Peixoto
afirmar que também não sabia que Alexandre Danelli
deixou o departamento de Planejamento para assumir o de Desenvolvimento
Econômico. E achar que gerente geral do GEIN, GEAP e GECOM
é mesma coisa que diretor do departamento do Planejamento.
O prefeito não retornou às ligações
de CONTATO.
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CONTATO
- Qual o motivo de sua exoneração do departamento
de Planejamento?
Danelli - Há cerca de 60 dias, o prefeito me
chamou para conversar sobre a idéia antiga de criar o
departamento de Desenvolvimento Econômico. Eu passaria
a ser então o diretor. [O novo departamento] abrange
o GEIN, o GECOMP e o GEAP. Já era sabido que a arquiteta
Silvia Ramiro iria assumir o Planejamento.
CONTATO
- O senhor ficou enfraquecido?
Danelli - O [departamento de] Desenvolvimento Econômico
[é] de suma importância tanto quanto o Planejamento.
Não me sinto enfraquecido.
CONTATO
- Tem como manter o nível de confiança que as
lideranças empresariais depositam no sr.?
Danelli - Quanto o lado comercial e industrial, nada
muda. Pelo contrário. Vamos estar mais fortes. Quanto
ao Planejamento, que abrange os empresários nas áreas
de loteamento e condomínios, não vejo diferença.
CONTATO
- Como ficam os grandes projetos que estão em andamento
como Vale Verde, autódromo e a expansão do Shopping?
Danelli - Todas eles ficam com o departamento de
Desenvolvimento Econômico. O que sai de nosso domínio
são os loteamentos e os condomínios.
CONTATO
- E a perspectiva da vinda de Rubens Fernandes?
Danelli - No momento, não contamos com esta
possibilidade.
CONTATO
- Em 20 de janeiro, realizou-se uma reunião da Coordenadoria
Regional do PSDB, em Taubaté. Existe alguma relação
entre a reunião com sua exoneração do
Planejamento?
Danelli - No dia do encontro regional do PSDB, estava
prevista a vinda de empresários norte-americanos da
Eviation Jet do Brasil. Eles iam chegar às 16h30. Às
16h me chamaram. Depois, não havia necessidade de voltar
à reunião e tornar a sair de novo.
CONTATO
- O prefeito ficou bravo com sua participação
no evento do PSDB?
Danelli - Se ficou, ele não me falou nada.
CONTATO
- Os alemães tiraram ou não o time do Projeto
Vale Verde?
Danelli - O contato esfriou. Por coincidência,
conversamos semana passada com o engenheiro Alan Baldacci,
autor do projeto. Os alemães pediram para eu dar uma
mexida. Ontem (31) eu conversei com o assessor do secretário
de Turismo do estado de São Paulo. Fizemos contato
com o ministério da cidade para ver as possibilidades
de [se obter] verba para infra-estrutura. É um negócio
de 6 milhões de metros quadrados com infra-estrutura
de parque de primeiro mundo. Entramos com uma carta-proposta
para financiamento ou levantar verba para o Ministério
das Cidades.
CONTATO
- E o autódromo para Fórmula 1 que a CBA (Confederação
Brasileira de Automobilismo) construiria?
Danelli - Em outubro do ano passado, eles afirmaram
que os 750 mil m² de área dariam para um autódromo
internacional. Mas, queríamos saber se dava ou não
para a Fórmula 1. Disseram que não podiam garantir.
A prefeitura doou mais 250 mil m². Com 1 milhão
de m², eles disseram que daria [para] atrair a Fórmula-1.
Mas, não desapropriamos [nenhum] terreno. Pedimos que
o projetista da CBA desenhasse a pista em 1 milhão
de m², [antes de] desapropriar. Na quinta-feira, 26,
estivemos em São Paulo com os projetistas, que já
tinham o projeto em mãos. Ficaram de entregar dia 1
de fevereiro. Temos até o dia 15 deste mês para
devolver. Depois, eles têm 45 dias para desenvolver
o projeto e, a partir de julho, começar as obras.
CONTATO
- Como ficou o prazo fatal (31 de dezembro de 2005) estabelecido
com a CBA?
Danelli - Eles têm um prazo para iniciar após
a exe-cução da terraplanagem, que só
vai começar após a conclusão do projeto.
O projeto é de autoria da Prefeitura, mas eles dariam
o anteprojeto, que não tem data definida. Houve um
atraso no traçado da pista.
CONTATO
- E a parte legal?
Danelli - Há parecer jurídico da Prefeitura
[que abre] a possibilidade de o Executivo desapropriar e passar
para terceiro. Eu coloco que o Vale Verde está entre
10 a 15% de possibilidade [de se realizar].
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Jornal CONTATO 2006
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