Por Paulo de Tarso Venceslau

Na quinta-feira, 26, Roberto Peixoto assinou a Lei que cria o departamento de Desenvolvimento Econômico. Boa desculpa para exonerar seu vice e nomear a arquiteta Silvia Ramiro. Danelli não resistiu às pressões da primeira-dama Luciana Peixoto.



O Vice-prefeito Alexandre Danelli

O vice-prefeito Alexandre Danelli acaba de ser exonerado do departamento de Planejamento. Por ironia do destino, recebeu a informação no dia 25 de janeiro quando comemorava seu aniversário. Como prêmio de consolação, recebeu o recém-criado departamento de Desenvolvimento Econômico do Município que tem, praticamente, os mesmos objetivos do departamento de Planejamento. Só não tem os mesmos poderes. Os envolvidos estão profundamente empenhados em manter a aparência de que tudo aconteceu dentro de um clima de paz. Para eles, trata-se de um assunto que já estaria sendo discutido há meses no Palácio Bom Conselho.
Ledo engano. CONTATO, desde meados do ano passado, já informava que o vice-prefeito Alexandre Danelli estava sem tinta na caneta. Uma forma elegante para descrever um profissional muito respeitado, neófito em política, que estava sendo literalmente rifado. Porém, a rapidez e o período em que se deu a exone-ração pegou muita gente de surpresa: mês de janeiro, recesso parlamentar e a convocação extraordinária da Câmara para criar, a toque de caixa, o departamento de Desenvolvimento Econômico.
A surpresa aumenta ainda mais quando várias fontes repetem que essa açodada decisão foi fruto da forte pressão exercida pela primeira-dama Luciana Peixoto. A trama fica ainda mais complexa quando, segundo fontes ouvidas por CONTATO, aparece a sinistra i-magem do deputado estadual padre Afonso Lobato (PV). O padre-deputado tem aliados importantíssimos no Palácio Bom Conselho. Pelo menos três departamentos são controlados por pessoas de sua confiança: Luís Rodolfo Cabral (Jurídico), Pedro Henrique da Silveira (Saúde) e Monteclaro César (Trânsito).
Esse quadro chama a atenção de analistas que não conseguem explicar como é que o Partido Verde tem todo esse poder dentro da prefeitura quando não possui um único vereador na atual legislatura. Além disso, é sabido que tanto o padre-deputado como os diretores da Saúde e do Trânsito eram defensores explícitos do então candidato Antônio Mário Ortiz.
Se o Partido Verde não tem um vereador sequer, assim como não tem cacife político no estado, as opiniões convergem para a influência que o padre-deputado tem sobre a primeira-dama, dona Luciana Peixoto. Depois de um início de governo marcado por um comportamento e discursos pouco ortodoxos, dona Luciana foi orientada a optar pelo low profile. Ou seja, há meses que ela tem sido discreta em suas aparições públicas. A mesma prática foi estendida para as exigências que faz para o esposo-prefeito. Com isso, dona Luciana saiu dos holofotes e, conseqüentemente, da linha de tiro. Submergiu.


Eduardo Gliorio Gozzano, assessor da presidência da CBA

Caso Danelli
A versão oficial a respeito do afastamento do vice-prefeito do departamento de Planejamento é tão frágil que não resiste aos ques-tionamentos mais chinfrins. Por exemplo. Alexandre Danelli como Silvia Ramiro, sua sucessora, fazem o mesmo discurso: trata-se de uma mudança que estava sendo gestada no Palácio Bom Conselho desde o ano passado. Mas nem um outro consegue explicar como que se cria um novo departamento sem qualquer previsão orçamentária para 2006. Ou os titulares – ex e atual – são muito despreparados ou foram pegos de surpresa. Pelo menos no caso do vice-prefeito tudo indica que foi uma surpresa.
Quando há meses CONTATO relatava aos seus leitores que Danelli estava enfraquecido, havia uma enorme preocupação do Palácio Bom Conselho em demonstrar que o vice contava com todo apoio de Peixoto. A última encenação foi durante a apresentação dos projetos Vale Verde e do autódromo para corridas de Fórmula 1. Apesar de serem projetos herdados de Bernardo Ortiz, se concretizados, poderiam ser a marca do governo de Peixoto. O prazo fatal seria 31 de dezembro de 2005. O prazo se esgotou e, apesar do esforço de Danelli (ver entrevista), não há sinais animadores, principalmente por parte dos investidores alemães aqui representados por Alan Baldacci.
Outra fonte assegura que o destino de Danelli teria sido decidido no dia 20 de janeiro, quando os tucanos locais realizaram na Câmara Municipal uma reunião da Coordenadoria Regional do PSDB de Taubaté. O vice-prefeito foi o único membro do governo que compareceu ao encontro. Porém, logo no início do evento Danelli foi informado por um assessor de comunicação da prefeitura que o prefeito queria falar com ele. No ato, passou-lhe o celular. Na outra ponta, contam alguns dos presentes que assistiram a cena, Peixoto teria desancado seu vice.
Danelli nega de pé junto. Afirma que havia outro compromisso agendado. “No dia do encontro regional do PSDB, estava prevista a vinda de empresários norte-americanos da Evia-tion Jet do Brasil. Na verdade, eles iam chegar às 16h30. E às 16h me chamaram. Então, não havia necessidade de voltar à reunião e tornar a sair de novo”, relata o vice-prefeito.

Silvia Ramiro, a nova diretora


Silvia Ramiro

Funcionária antiga da prefeitura, a nova titular do departamento de Planejamento já conhe-ce a função de longa data. Pelo menos desde o tempo do prefeito Salvador Khuriyeh. Silvia Ramiro afirma que se trata apenas de uma medida administrativa que “o prefeito queria implantar desde o ano passado”. Para ela, “Danelli não foi afastado de nada. Ele apenas assumiu as três gerências que acumulava no departamento de Planejamento ( GEIN – expansão industrial, GECOM – comércio e prestação de serviços - e GEAP – agropecuário).”
E vai além: “Não houve qualquer pressão de quem quer que seja e não vai mudar nada, absolutamente nada. Vou continuar o trabalho de Danelli. A única ênfase maior será na parte habitacional”.
CONTATO apurou que no seu primeiro dia como nova diretora, Ramiro teria entrado na repartição e afirmado em alto e bom som: “Quem manda aqui agora sou eu”. Ela nega peremptoriamente: “Isso é mentira. Posso ser exigente, mas nunca fui prepotente”.

Deputado padre Afonso (PV)
O parlamentar do Partido Verde mostrou-se surpreso quando nossa reportagem o abordou a respeito da exoneração de Danelli do Planejamento, seu remanejamento para o novo departamento de Desenvolvimento Econômico, a nomeação de Silvia Ramiro e a pressão que teria sido feita por dona Luciana Peixoto. “Faz mais de seis meses que não falo com a primeira-dama. Quem disse isso (sua influência sobre a esposa do prefeito) quer espalhar cizânia. Sou amigo de Danelli. Um homem que respeito muito.”
Aproveitou para criticar o jornal CONTATO que o chama de “Rasputin do Bom Conselho” – trata-se de um monge que exercia enorme influência sobre as mulheres da nobreza do império czarista russo no fim do século 19 e começo do 20. O padre-deputado nega qualquer influência sobre o Palácio Bom Conselho. Quando perguntado sobre seus companheiros de PV que estão no primeiro escalão da prefeitura, explica que o partido é outra coisa. “Você tem de analisar como foi a campanha eleitoral e o papel que eu, Pedro Henrique, Monteclaro [César Jr.] e [Luís Rodolfo] Cabral tivemos”. E o Rodrigo Andrade? “Também.”
Quando lembrado a respeito da vacilada que teria dado diante da indefinição na escolha entre Antônio Mário e Peixoto, o padre-deputado concorda, mas reafirma que “depois assumimos a campanha, acompanhamos Roberto Peixoto em todos os comícios e eventos. Foi isso que fez com que Peixoto fizesse essa escolha”.
A surpresa maior foi quando afirmou que não sabia de nada. Perguntado se estaria dando uma de presidente Lula que nunca sabe de nada, o parlamentar riu e reafirmou que não sabia absolutamente de nada.
Nesse andar da carruagem, só falta o prefeito Roberto Peixoto afirmar que também não sabia que Alexandre Danelli deixou o departamento de Planejamento para assumir o de Desenvolvimento Econômico. E achar que gerente geral do GEIN, GEAP e GECOM é mesma coisa que diretor do departamento do Planejamento.
O prefeito não retornou às ligações de CONTATO.

CONTATO - Qual o motivo de sua exoneração do departamento de Planejamento?
Danelli
- Há cerca de 60 dias, o prefeito me chamou para conversar sobre a idéia antiga de criar o departamento de Desenvolvimento Econômico. Eu passaria a ser então o diretor. [O novo departamento] abrange o GEIN, o GECOMP e o GEAP. Já era sabido que a arquiteta Silvia Ramiro iria assumir o Planejamento.

CONTATO - O senhor ficou enfraquecido?
Danelli
- O [departamento de] Desenvolvimento Econômico [é] de suma importância tanto quanto o Planejamento. Não me sinto enfraquecido.

CONTATO - Tem como manter o nível de confiança que as lideranças empresariais depositam no sr.?
Danelli
- Quanto o lado comercial e industrial, nada muda. Pelo contrário. Vamos estar mais fortes. Quanto ao Planejamento, que abrange os empresários nas áreas de loteamento e condomínios, não vejo diferença.

CONTATO - Como ficam os grandes projetos que estão em andamento como Vale Verde, autódromo e a expansão do Shopping?
Danelli
- Todas eles ficam com o departamento de Desenvolvimento Econômico. O que sai de nosso domínio são os loteamentos e os condomínios.

CONTATO - E a perspectiva da vinda de Rubens Fernandes?
Danelli
- No momento, não contamos com esta possibilidade.

CONTATO - Em 20 de janeiro, realizou-se uma reunião da Coordenadoria Regional do PSDB, em Taubaté. Existe alguma relação entre a reunião com sua exoneração do Planejamento?
Danelli
- No dia do encontro regional do PSDB, estava prevista a vinda de empresários norte-americanos da Eviation Jet do Brasil. Eles iam chegar às 16h30. Às 16h me chamaram. Depois, não havia necessidade de voltar à reunião e tornar a sair de novo.

CONTATO - O prefeito ficou bravo com sua participação no evento do PSDB?
Danelli
- Se ficou, ele não me falou nada.

CONTATO - Os alemães tiraram ou não o time do Projeto Vale Verde?
Danelli
- O contato esfriou. Por coincidência, conversamos semana passada com o engenheiro Alan Baldacci, autor do projeto. Os alemães pediram para eu dar uma mexida. Ontem (31) eu conversei com o assessor do secretário de Turismo do estado de São Paulo. Fizemos contato com o ministério da cidade para ver as possibilidades de [se obter] verba para infra-estrutura. É um negócio de 6 milhões de metros quadrados com infra-estrutura de parque de primeiro mundo. Entramos com uma carta-proposta para financiamento ou levantar verba para o Ministério das Cidades.

CONTATO - E o autódromo para Fórmula 1 que a CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo) construiria?
Danelli
- Em outubro do ano passado, eles afirmaram que os 750 mil m² de área dariam para um autódromo internacional. Mas, queríamos saber se dava ou não para a Fórmula 1. Disseram que não podiam garantir. A prefeitura doou mais 250 mil m². Com 1 milhão de m², eles disseram que daria [para] atrair a Fórmula-1. Mas, não desapropriamos [nenhum] terreno. Pedimos que o projetista da CBA desenhasse a pista em 1 milhão de m², [antes de] desapropriar. Na quinta-feira, 26, estivemos em São Paulo com os projetistas, que já tinham o projeto em mãos. Ficaram de entregar dia 1 de fevereiro. Temos até o dia 15 deste mês para devolver. Depois, eles têm 45 dias para desenvolver o projeto e, a partir de julho, começar as obras.

CONTATO - Como ficou o prazo fatal (31 de dezembro de 2005) estabelecido com a CBA?
Danelli
- Eles têm um prazo para iniciar após a exe-cução da terraplanagem, que só vai começar após a conclusão do projeto. O projeto é de autoria da Prefeitura, mas eles dariam o anteprojeto, que não tem data definida. Houve um atraso no traçado da pista.

CONTATO - E a parte legal?
Danelli
- Há parecer jurídico da Prefeitura [que abre] a possibilidade de o Executivo desapropriar e passar para terceiro. Eu coloco que o Vale Verde está entre 10 a 15% de possibilidade [de se realizar].

 

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