CONTATO: Como vocês chegaram aos oito nomes que hoje se revezam no programa? (Zileide Silva, Tereza Cruvinel, Lillian Witte Fibe, Ana Tahan, Sônia Racy, Cristina Lobo, Lúcia Hippólito, Maria Aparecida de Aquino)
Jô:
A gente viu, pelos jornais, quais eram as mulheres top de linha no assunto (crise). Algumas que chamamos, não toparam. Depois, fizemos um esquema de rodízio para não jogar com um time só e respeitar os compromissos de cada uma. Tinha que haver uma certa química para ver que time combinava mais. Hoje em dia são sete mulheres.


CONTATO: Por que vocês decidiram convidar apenas mulheres para debater a crise?
Jô:
Nasceu da intuição. Foi idéia da Anne Porlan e do Hilton Marques. Em análise política, geralmente o homem fica formal e excessivamente sério. Já a mulher se solta e deixa o clima mais ameno. Existem coisas que na boca de um homem soariam como uma barbaridade.

CONTATO: No ano que vem os debates continuam?
Jô:
Continuam. Ano que vem tem eleições e Copa do Mundo. Além disso, acho que a crise ainda não se esgotou.

CONTATO: Como avalia seu desempenho como moderador?
Jô:
Sou justamente o contrário: [sou] um desmoderador (risos). O Hilton sempre diz que eu sou o único mediador que dá opinião...Eu não resisto. Não existe uma camisa de força que me obrigue a ser deste ou daquele jeito.

CONTATO: Está decepcionado com o governo Lula?
Jô:
Não estou decepcionado. Não me decepciono com político nenhum desde o Jânio Quadros, em 1958.

CONTATO: Você se considera uma pessoa de esquerda?
Jô:
Me considero um anarquista, no melhor sentido da palavra. Minha posição é como a da Lúcia Hippólito: ela diz que está tranqüila porque o pessoal do PT acha que ela é do PSDB, e vice versa. Comigo é assim: se entrevisto alguém do PT, dizem que sou do PSDB, se o entrevistado é do PSDB, falam que sou petista. Do ponto de vista social, posso ser considerado de esquerda. Mas não gosto de ser rotulado.

CONTATO: Em entrevista para a revista IMPRENSA, uma das meninas do Jô, a Tereza Cruvinel, disse que o clima é de caça à esquerda. E que há “um certo aroma de macarthismo no ar”. Você concorda com ela?
Jô:
Ela não faz a menor idéia do que foi a lista negra e o “macarthismo”. Comparar a crise atual com o macarthismo é não ter a menor idéia do que foi isso. É uma frase de efeito sobre nada.

O papo está tão animado que ninguém chega perto dos refrigerantes e sanduíches de presunto e queijo preparados pela produção. A essa altura, a professora de história da USP Maria Aparecida de Aquino, chamada de Cida entre as meninas, já faz parte da conversa. O assunto agora é a fama. Recém convertidas em celebridades, Lúcia e Ana contam como ficaram sabendo que estavam famosas: “Nós estávamos no aeroporto Santos Dumond, esperando para embarcar para São Paulo e gravar o debate no Jô, quando aquele rapaz do Cidade Negra, o Toni Garrido, veio em nossa direção e tascou um beijo. Disse que é nosso fã ardoroso” (risos gerais). “Tem uma coisa gostosa nesse negócio. De repente, fiquei visível. As pessoas me param na rua para falar sobre a crise e para comentar sobre “aquele casaquinho rosa””, diverte- se Lúcia Hippólito. “Desde que comecei no Jô não paro mais de receber convites para entrevistas, palestras e programas de TV”, completa Cida. “Eu morro de vergonha de dar autógrafo”, suspira Ana Tahan.


Enquanto Lúcia, Cida e Ana falam sobre a fama, uma moça da produção trata de instalar o microfone em Cristiana Lobo, que acaba de chegar no camarim vindo direto de Brasília. “Quarta feira é o dia mais forte em Brasília. Tem dia que eu almoço com uma fonte e pego o vôo da tarde. Sou sempre a mais atrasada por causa disso”, reclama. Virando-se para a moça da produção, Cristiana dispara: “Minha circunferência diminuiu?” “Você emagreceu”, se antecipa Cida.


Devidamente instalada na roda, chegou a hora de Cristiana Lobo falar de sua relação com a fama. Apesar de ser um rosto conhecido na Globo News, ela só se transformou em celebridade depois que começou a freqüentar o programa do Jô: “Estou atingindo um público que eu nunca tinha atingido em 25 anos de profissão. A crise tem uma popularidade enorme. Existem várias comunidades no Orkut, do tipo: ‘eu adoro as meninas do Jô, eu odeio as meninas do Jô”. Alguém pergunta se ela se sente mais à vontade no Jô do que na Globo News, onde participa, ao lado de Franklin Martins, do programa “Fatos e Versões”. “Na Globo News, é mais sentadinho, comportadinho, talvez pela presença de homens no debate”, (gargalhadas gerais). Mas, afinal, porque as mulheres fazem mais sucesso que os homens na hora de debater política na TV? Quem responde, prontamente, é Cristiana Lobo: “A entonação da mulher é diferente. A gente fala a linguagem da dona de casa, não a linguagem rococó. Somos mais desabridas”. “Desabridas é uma bela palavra”, emenda Ana Tahan. Explica o bom e velho dicionário Aurélio que a palavra desabrida significa desenfreada, insolentes e, ás vezes, áspera. Não foi fácil para esse time de mulheres desabridas encontrar o ritmo do debate. “No primeiro programa estávamos contidas. Pensamos que seria uma vez só”, avalia Ana. Lúcia discorda: “Acho o contrário. No inicio havia um certo atropelo. Imagina... um mulherio falando (risos). Depois melhorou. Já não falamos mais todas ao mesmo tempo”.

A essa altura, a quinta debatedora daquela noite, Sônia Racy, já está circulando pelo camarim. Depois de maquiada, ainda envia pelo lap top uma nota para o Estadão, onde assina uma coluna sobre economia, antes de integrar-se ao papo. Novata do programa, Sônia passou a ser convidada quando Palloci começou a ser atacado e a economia entrou em cena.


Como a qualquer momento alguém da produção vai bater na porta convocando as meninas para o estúdio, colocamos em pauta finalmente o grande prato de todas as quartas: a crise política. A primeira pergunta não podia ser outra: ainda existe crise? Quem explica é Sônia Racy: “A parte prática e jurídica da crise ainda não aconteceu. Quando acontecer, teremos tantos holofotes como agora”. “Essa crise vai longe. Vai entrar pela campanha. Mais que isso: vai pautar a campanha”, concorda Ana Tahan.

Petista de carteirinha, a professora Maria Aparecida de Aquino é a única militante presente entre as meninas do Jô. “Fui sindicalista da gloriosa APEOESP”, conta. Apesar de dizer que não pretende deixar o partido depois do escândalo do valerioduto, Cida ainda está em dúvida sobre seu voto em 2006: “Voto no PT desde 1985, mas não sei se votarei no Lula ano que vem”.


O tempo acabou. No estúdio, cada uma já sabe onde está seu lugar na mesa. Ao som do Quinteto, Jô Soares entra em cena. Nos bastidores, o clima é de amigo secreto e happy hour. Alguém na platéia pergunta: quando vocês voltam? “Vai ter Big Brother, 24 horas, JK...vai longe”, diz um cinegrafista. Bira entra na roda e comenta que vai tocar no interior e depois vai para o Nordeste. Derico tem que sair correndo para o aeroporto. “Deixa um abraço para o Jô”. Depois do programa, as meninas saem correndo, cada uma para seu táxi. Vai começar o fechamento.


 


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