CONTATO – Quando você se filiou ao PSDB?
Ortiz Jr
. – Filiei-me ao PSDB assim que completei 17 anos. Agora estou com 30 anos de idade. Faz 13 anos que estou filiado ao partido.

CONTATO – E a partir daí?
Ortiz Jr.
– Participei das atividades e fiz campanha para o [Franco] Montoro [ex-governador de São Paulo]. Depois fui aluno do Montoro, em São Paulo. Meu primeiro voto foi para o Montoro, [quando foi candidato] para deputado. Sempre guardei uma admiração muito grande por ele, não só pela obra jurídica, mas pelo espírito estadista. Fiz pós-graduação em São Paulo onde participei de cursos e seminários com ele na Universidade de São Paulo.

CONTATO – E a vida político-partidária?
Ortiz Jr.
- O partido foi organizado em Taubaté entre 89 e 90. O mesmo grupo que o fundou milita até hoje. Em 1990, houve eleição para deputado e o meu pai, que saiu para estadual, fez uma dobrada com o [Geraldo] Alckmin, para federal. Não havia muito tempo de propaganda eleitoral na televisão, a inserção era muito pequena para os deputados. Então, fazíamos uma campanha caminhando. Éramos eu, meu pai, meus irmãos e dois ou três amigos. Meu pai foi o mais votado pelo PSDB e, se não me engano, o sexto mais votado no Estado. [Percorremos] 35 ou 36 municípios [do Vale] fazendo campanha em zona urbana e zona rural.

CONTATO – No terceiro mandato do seu pai, você teve participação maior...
Ortiz Jr.
– Aí eu tive uma participação bastante ativa. Coordenava a produção de pauta, redigia e fazia a parte jurídica.

CONTATO – É nesse momento que acontece a aproximação com Roberto Peixoto ou isso já havia ocorrido antes?
Ortiz Jr.
– Tivemos uma aproximação com Peixoto, mas não foi uma aproximação tão intima. Peixoto veio compor na chapa por intermédio de outras pessoas como o professor Humberto Puccineli. Mas não tínhamos uma proximidade, uma intimidade tão grande com Peixoto. Isso veio ao longo do mandato. Houve até um princípio de problema gerado pela própria dona Luciana [Peixoto]. Muita vaidade. Ela teve problemas de relacionamento com o grupo durante a campanha. Ela achava que o Peixoto tinha que aparecer em todos os programas eleitorais, falando a mesma coisa em todos eles.

CONTATO – A visão dos peixotistas é que o Bernardo Ortiz foi eleito graças ao Peixoto.
Ortiz Jr.
– Isso é um absurdo! Peixoto aglutinou o pouco do que ele tinha. Peixoto tinha sido duas vezes vereador e fez uma campanha para prefeito em que teve 20 mil votos.

CONTATO – A tese é a de que foram esses 20 mil votos que elegeram seu pai...
Ortiz Jr.
– Eu só vi um fenômeno de transferência de voto na cidade: Bernardo Ortiz. Ainda não consegui enxergar outro fenômeno desse tipo. O que o Peixoto trouxe na verdade, foi uma identidade de voto. Quando concorreu à prefeitura, em 1996, o eleitor de Peixoto se identificava muito com o perfil de eleitor que votava na gente: morador da periferia, cristão. Tanto é verdade que a diferença sobre o Antônio Mário foi muito grande, muito representativa, em 2000. E o Peixoto, excluindo o fato de só ter feito campanha na rua, no corpo-a-corpo, no mais, participou muito pouco. Peixoto não sabia redigir pauta, não sabia elaborar programa de governo, aparecia mal no vídeo. O tempo do Peixoto era mal esboçado, mal preparado. Quer dizer, o Peixoto aglutinou muito pouco. O que ele aglutinou foi a possibilidade de não haver uma migração desses votos que têm uma identidade grande com nosso grupo, sempre teve, para uma candidatura independente.

CONTATO - Por que eles insistem que Peixoto foi decisivo?
Ortiz Jr.
- É esquizofrenia achar que o Peixoto foi decisivo naquela vitória. Tanto é verdade que o Peixoto, sozinho, na última eleição, não passava de 26% do total das intenções de voto. O Antônio Mário tinha mais de 50%. Sem o nosso apoio, Peixoto não teria nem 30 mil votos. É esquizofrenia de um grupo que hoje tenta justificar tudo o que faz de asneira na administração pública, tentando justificar que houve uma troca de apoio.

CONTATO – Peixoto afirmava, em 2003, que seria candidato a prefeito, apoiado pelo Bernardo Ortiz, por causa do acordo feito em 2000...
Ortiz Jr.
– A respeito disso, duas palavras. Primeiro, se houve acordo naquele momento, então, há acordo agora e o Peixoto tem que cumprir, tem que honrar. Se o acordo anterior foi honrado ele também tem que honrar agora. Quando ele estava desesperado, com a corda no pescoço, com uma derrota fragorosa iminente, ele foi até o prefeito Bernardo Ortiz e empenhou a palavra dizendo que não seria candidato em 2008, caso vencesse as eleições com o apoio dele [Bernardo Ortiz] em 2004. Se houve acordo naquele momento, acordo cumprido, ele [Peixoto] que cumpra e honre com a palavra dele. Em segundo lugar, o que houve foi que o prefeito Bernardo Ortiz não acredita em reeleição. Há uma grande confusão entre uma campanha política e uma administração pública no caso da reeleição. Por não acreditar nesse fato, por achar que isso pode prejudicar a imagem de administrador público, [Bernardo] optou por não concorrer.

CONTATO – Você foi o coordenador de campanha do Peixoto?
Ortiz Jr.
– Sim. E fiz toda campanha do Peixoto com auxilio do meu irmão João Roberto e do outro irmão Diego. O centro, a inteligência da campanha, nas três áreas fundamentais -administração de estrutura, vídeo e logística - toda ela saiu desse grupo.

CONTATO – Paira alguma dúvida sobre a virada que aconteceu com a entrada do seu pai na campanha?
Ortiz Jr.
– Não tenho dúvida alguma. É preciso entender foi a existência de uma estrutura que permitiu a virada. Se não tivesse essa estrutura bem concatenada, bem engendrada, e bem elaborada, embora tivesse a adesão de um político como o Bernardo Ortiz, se não houver uma retaguarda que lhe dê suporte, a virada não poderia acontecer. Nós tínhamos nove minutos de televisão contra 15 minutos dos adversários. Nós cuidamos de dar uma estrutura de qualidade para o Peixoto que permitisse na hora certa essa virada com o ingresso de Bernardo Ortiz.

CONTATO – Você já era presidente do PSDB naquele momento?
Ortiz Jr.
– Sim. Fui eleito em setembro de 2003 e reeleito agora em 2005.

CONTATO – No final de 2004 já surgiram os primeiros sinais de divergências com o governo Peixoto. O que estaria por trás desses conflitos?
Ortiz Jr.
– Em primeiro lugar, Peixoto tem uma lógica de ação entre amigos que ficou evidente a partir do momento que ele venceu a eleição. Fui chamado pelo engenheiro Gerson e pelo Fernando Gigli, chefe de gabinete, que me disseram o seguinte: “Temos um recado do Peixoto. Você vai receber um cargo de assessoria. Peixoto tinha dito que você teria possibilidade de ser secretário de governo ou chefe de gabinete, mas ele reviu essa possibilidade. Você vai receber um cargo de assessoria porque ele não tem intimidade suficiente com você para lhe exigir qualquer coisa”. Aliás, o exemplo que eles deram foi grotesco. Na verdade, Peixoto queria um chefe de gabinete com perfil de secretário de gabinete, que é o que o Fernando Gigli se presta a fazer. Isso realmente eu não me prestaria a fazer.

CONTATO – Foi naquele momento que ficou claro que você não estaria no time do primeiro escalão?
Ortiz, Jr.
– Não tenho dúvida. Ficou evidente porque eles conceberam uma estratégia na qual havia um processo de alijamento paulatino do nosso grupo.

 

CONTATO – Pode-se concluir que, no momento em que Peixoto assume a prefeitura, esse quadro já estava conchavado?
Ortiz Jr.
– Exato. E configurou, sobretudo, quando Peixoto nomeia para secretário de Saúde, uma pessoa que, numa entrevista feita por CONTATO, exatamente um ano antes daquele momento, diz que recebeu recursos financeiros do Antônio Mário para atacar os então candidatos Bernardo Ortiz e seu vice Roberto Peixoto na campanha do ano 2000. Essa pessoa, que declaradamente praticou um ato de corrupção eleitoral, porque isso não tem outro nome, foi nomeado secretário de Saúde. Ou seja, uma pessoa que toda vida esteve num grupo de oposição, criticando o governo.

CONTATO – E a segunda?
Ortiz Jr.
- Foi a nomeação do Monteclaro [César, diretor de Trânsito] que, quando foi secretário de Trânsito do Antônio Mário, deixou a cidade num caos. O transporte público clandestino na cidade era maior do que o transporte regular. Ele não teve capacidade para organizar o transporte na cidade. Esse sujeito que deixou a situação do trânsito caótica na cidade, que nós tivemos que enfrentar depois com curso, rigor e legislação. Isso tudo evidentemente denotou uma renúncia à qualquer compromisso.

CONTATO – Em que momento você atribui essa guinada que colocou o Peixoto contra Bernardo Ortiz?
Ortiz Jr.
–Peixoto confunde descentralização de execução com descentralização de comando. Peixoto descentralizou o comando. O comando, em nenhuma empresa organizada do mundo, é descentralizado. Peixoto, descentralizou o comando e entregou uma fatia para o grupo do deputado Padre Afonso Lobato (PV), outra fatia foi tomada pela própria esposa, e ele reservou uma fatia para si. São três pessoas, três grupos, no mesmo nível de comando, protagonizando ordens controversas. Isso nunca poderia dar certo. As pessoas bajuladoras do Peixoto, bajuladoras da dona Luciana e bajuladoras do grupo do padre [Afonso Lobato] trataram de nos afastar porque nós seríamos um dissenso a essa intenção de lotear a prefeitura.

CONTATO – E como repercutiu no PSDB?
Ortiz Jr.
– Foi muito questionado. Tanto a coordenação regional quanto a coordenação estadual, com as quais temos muito contato, começaram a questionar e tentaram até uma conciliação entre os grupos para poder haver maior harmonia na estrutura do partido. Não foi possível porque, a partir daí, o Peixoto começou a praticar uma série de condutas na administração pública realmente perniciosas.

CONTATO – De que tipo?
Ortiz Jr.
– O primeiro ato de administração do Peixoto foi locar o antigo comitê por três vezes o valor do aluguel [pago durante] a campanha. O lugar era de um amigo dele. Ali, ele começa mostrar uma tendência de favorecer os amigos dele que o ajudaram na campanha. No segundo, Peixoto nomeia 11 parentes dele para assumir cargos de confiança na prefeitura. Nomeou as duas filhas, os dois genros, duas cunhadas, dois sobrinhos, primo, prima. Ou seja, pessoas que não se submetem a concursos públicos, que ocupam cargos que não são de livre nomeação, em detrimento do funcionário publico de carreira. Cheguei a fazer um cálculo: se essas 11 pessoas continuassem empregadas durante os quatro anos de administração, a família Peixoto iria receber quase R$ 1 milhão dos cofres públicos.

CONTATO – Vocês tentaram conversar com Peixoto para tratar disso?
Ortiz Jr.
– [Uma única vez] entre janeiro e fevereiro desse ano para tratar uma condenação dele pelo Tribunal de Contas do Estado. A partir daí, nunca mais o encontrei, nunca mais tive acesso a ele. Mesmo convivendo lá dentro [da prefeitura], não tinha acesso ao Peixoto que se comunicava comigo através de outras pessoas. Na verdade, Peixoto abriu mão do relacionamento com o partido. E depois, houve eleição do diretório. Ele não participou das composições, [nem] das articulações. Tentou montar um chapa meio às escondidas, mas acabou não dando certo.

CONTATO – O Peixoto deu alguma satisfação por não ter comparecido?
Ortiz Jr.
- Não. Não deu nenhuma satisfação. Não disse nada. O Peixoto considera essa questão partidária muito relativa. Ele já esteve em cinco partidos diferentes. Diferente de nós que sempre estivemos num único partido, o PSDB. O Peixoto não. Ele foi do PMDB, depois do PP, do Maluf. Depois, foi junto com o Ary Kara para o PTB. Saiu do PTB e foi para o PDT. E depois do PDT ele veio para o PSDB. O Peixoto não tem identidade partidária.

 



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