CONTATO - Você ainda "odeia a imprensa" e acha que "jornalista é um bando de xereta"?
João Gordo
– Tem jornalista que é bem intencionado e tem jornalista que não. Tem cara que distorce tudo, que aumenta...

CONTATO - Existe algum veículo com o qual você não fala de jeito nenhum?
Gordo
– Eu não gosto de falar com revistas tipo Capricho, que só publicam coisa fútil para menina, tá ligado? Não tenho nada o que dizer para eles, mas eles estão sempre me procurando. Já aumentaram uma coisa que eu falei sobre a [Adriana] Galisteu - não lembro se foi na Contigo ou na Capricho. Elas [são] todas iguais. Esse ramo de fofoca, de coisa fútil, é foda.

Paulo Bonfá, apresentador do programa Rock Gol, da MTV – Quais os convidados se recusaram a dar entrevista e o que você perguntaria para essas pessoas?
Gordo
– Muita gente tem medo do meu programa. A morena do Tchan!, a Sheila Carvalho, é um exemplo. Ela recusou o convite porque achou que eu ia perguntar quem já tinha comido ela. Outro grande não que recebi foi da mãe do Cazuza. A mulher deve me odiar. Eu sempre desci a lenha no Cazuza. Hoje em dia, eu admiro o cara, mas na época que eu o conheci, eu era um punk louco, completamente maluco, radical. E ele era uma bicha doida, deslumbrada. Aprontava "mil e umas". Quando eu tive o desprazer de conhecer ele no Satã, ele me agarrou.Toda vez que eu encontrava com Cazuza, ele me provocava para eu dar uns tapas nele. A mãe dele pegou esse puta bode meu...

CONTATO - Por que a entrevista com a socialite Vera Loyola foi interrompida no meio?
Gordo
– Eu mandei ela se f... A mulher teve um chilique no programa. Começou a me chamar de mal-educado só porque eu perguntei: "o que você acha de ser uma socialite que não tem berço de ouro? Que veio das quentinhas?". Ela se mordeu. Quando acabou o primeiro bloco, ela mandou chamar a diretora e começou a gritar. O programa nem voltou ao ar. Eu disse: "olha tia, vai tomar no c... Eu agüento muita coisa, mas não agüento chilique de socialite emergente. Vai se f...".

CONTATO - O departamento jurídico da MTV nunca pegou no seu pé? Até onde vai a tua liberdade?
Gordo
– Hoje em dia eu sei me segurar. Estou há 10 anos trabalhando nisso. O peixe morre pela boca muitas vezes, né ?

Falcão, cantor e rei do brega– No balanço final, com esse jeito "esculhambativo" e heavy metal, você acha que está levando algo de bom para o espectador?
Gordo
– Porra nenhuma, cara. Eu só faço farra. O bom das entrevistas é que elas são espontâneas. Rola gíria e palavrão. Falo na TV do jeito que eu falo normalmente. Ou o entrevistado fica constrangido, ou totalmente relaxado. Quando isso acontece, ele acaba falando coisas que ele não diria para nenhuma Marília Gabriela ou Jô Soares.

CONTATO - Quando o entrevistado fica constrangido, o que faz para sair da saia justa?
Gordo
– A gente fica dando risada, falando bosta.

Lobão, cantor – Como uma alma delicada, o que você faz quando não está pensando em sacanagem?
Gordo
– Pô, eu penso em amor paterno, nos meus fillhos, em fralda, mamadeira. Eu não vivo pensando em sacanagem.

CONTATO - Você acompanhou essa história do I-pod distribuído pela assessoria da Maria Rita para jornalistas. Você, como músico, aceitaria que sua gravadora distribuísse I-pods com as suas músicas para jornalistas?
Gordo
– É um jabá high-tech, cara. Tem que ter muita grana para fazer isso. Eu pediria para gravadora mandar para mim e depois vendia tudo (risos). Eu quero que se f... o jabá e as rádios. Odeio as músicas que tocam nas rádios.

CONTATO - Você leva a sério a possibilidade de se profissionalizar como apresentador de TV ou isso é apenas um momento da sua vida?
Gordo
– Esse é o meu sustento, cara. O Ratos de Porão não me dá grana, velho. Eu não ganho dinheiro com o Ratos de Porão. Mantenho a banda por puro prazer. Faço turnê na Europa e durmo no chão, ao lado de bituca de cigarro. Não tô ali para ganhar dinheiro. Eu ganho dinheiro com a MTV. Pode até ser um paradoxo, mas eu quero que se f...

CONTATO - Mas você faz o programa por causa da grana ou por que você curte mesmo?
Gordo
– O trampo na MTV é uma puta boiada linda. Qualquer um queria estar no meu lugar. Eu falo um monte de bosta, ganho o meu "salarião", um monte de roupa, celular... Já viu boiada assim, cara? A fama é meio chata, eu não gosto.

Fernando Gabeira, deputado federal (PV) – Você andou jogando algumas latas no Luiz Paulo Conde (ex–prefeito do Rio) e, por isso, fecharam o "Circo Voador". Comente, então, a recente reabertura do "Circo Voador" depois desse episódio.
Gordo
– Quando o Luiz Paulo Conde ganhou as eleições no Rio, ele foi comemorar no Circo Voador, na Lapa, com o povão. Só que o show era do Ratos de Porão e Garotos Podres. Aí, entrou a bandinha do partido dele tocando marchinha de carnaval e dizendo "Conde, prefeito!" Isso atrasou o show. E como lá no Rio eu tinha o costume de ficar louco antes do tempo, eu queria que começasse logo. Já era meia noite e meia, o show era para ter começado onze horas da noite. Aí, eu cheguei no palco e disse: "Porque você trouxe essa porra dessa banda, vai tomar no c..". A molecada viu a cena e foi atrás.
Todo mundo começou a gritar: "vai embora, cai fora!". Aí eles colocaram a bandinha pra fora e nós tocamos. No outro dia, os jornais começaram a dizer: "O infante-anárquico João Gordo enfrenta horda do sistema e coloca trupe do Conde para fora do Circo Voador".
Em represália, o prefeito César Maia aproveitou o incidente e fechou o Circo. O cara fechou o mandatinho dele com chave de bosta, privando os cariocas de um centro cultural maravilhoso. Foi uma idiotice dos dois prefeitos.


Pedro Venceslau entrevista João Gordo

Diógenes Campanha, repórter da revista IstoÉ Gente – Você faz uma participação no CD do Massacration e assina a produção do disco com um nome fictício e satírico. Se você não estivesse na MTV, teria entrado na brincadeira? Alguém já o criticou por apoiar essa sátira ao heavy metal e ao movimento punk?
Gordo
– Que mané movimento Punk, cara. Meu movimento se chama Vitória e Pietro. Eu tô fora faz tempo. Há muitos anos, desde 1983, eu sou perseguido. Quando entrei no Ratos de Porão, escrevi num fanzine: "Ratos de Porão não toca mais punk, toca hardcore". Aí, os punks falaram: "traidor do movimento". Foi assim que começou o estigma de traidor do movimento. O movimento punk no Brasil é meio podre. Te digo uma coisa: a melhor coisa que eu fiz na minha vida foi trair o movimento punk.

"A melhor coisa que eu fiz na minha vida foi trair o movimento punk"

Marcelo Tas, apresentador da Rede 21 – Apesar das tentações da grana, paparicações em geral e assédio da mídia, você ainda consegue manter uma elegância ética e espiritual. Conta aí o segredo desse regime.
Gordo
–Elegância ética? Sei lá... É lógico que eu me vendi. Na verdade, me compraram.

CONTATO - Qual formato de programa você mais gostou de fazer?
Gordo
– Eu ganhei notoriedade com as entrevistas do Gordo a Go Go. Mas o programa é muito mambembe. Na MTV, os meus programas são moldados no ar. A gente vai testando idéias toscas e vai saindo.

CONTATO - O que você acha do ranking da baixaria?
Gordo
– Eu fiquei indignado por não ter entrado no bagulho. Um programa como o Freak Show é bizarro. No mundo inteiro não existe coisa igual. Eu olho para a câmera e digo: "não gostou? Pau no seu c...Põe na Bandeirantes, na TV Cultura". A gente coloca gente vomitando no ar...e depois entra uma banda pesada tocando. Eu não estou mexendo com credibilidade. Assumo que o negócio é escroto.

Luiz Chagas, editor-assistente de Cultura na IstoÉ – Como os financeiramente "magros" conseguem fazer um bom rock depois dos 40?
Gordo
– Quem está na estrada até hoje? Todo mundo. Ratos, Cólera, Inocentes... Estão firmes. Dezenas de discos lançados. O Ratos, ano que vem, faz 25 anos. O pessoal não entrou nessa por grana, não aceita se moldar ao gosto das gravadoras para satisfazer uma molecada imbecil.

Guy Corrêa, jornalista e músico – Depois de trair o movimento punk e ser pai de duas crianças, você já está preparado para escutar Xuxa e Eliana a pedido de seus filhos?
Gordo
– Nem fodendo, cara. Meus filhos não vão ouvir Xuxa. Xuxa não entra na minha casa. Na minha casa é Cocoricó na cabeça.

CONTATO - Você não curte política?
Gordo
– Eu odeio política. Sou um desiludido.

CONTATO - Você votou no Lula?
Gordo
– Eu não. Eu não voto. Por ser obrigatório, perdi o tesão. A última vez que votei foi na Erundina, em 1987.


“É lógico que eu me vendi. Na verdade, me compraram”


CONTATO - Quando o Lula ganhou, você não sentiu uma certa pontinha de esperança?
Gordo
– Pontinha de esperança? A primeira coisa que ele fez foi colocar o Gil no Ministério da Cultura. Quando ele fez isso, eu pensei: "Gilberto Gil ministro? Queimou o filme...".

CONTATO - Por quê?
Gordo
– Porque eu acho que não tem a ver Gilberto Gil como ministro. É figurativo. O negócio dele é dar um pega e tocar reggae...
.
CONTATO - Você é sócio da Ordem dos Músicos do Brasil?
Gordo
– Eu não... Tem que acabar essa Ordem dos Músicos do Brasil. Isso não serve para porra nenhuma, só para pegar dinheiro dos músicos.

CONTATO - Você acha que o funk é uma revolução?
Gordo
– O funk é o som mais underground que existe. É o som da favela, do pessoal mais pobre, mais contra o sistema. É o som do traficante e do favelado. O bagulho é minimalista. Ele é tão minimalista que é fácil aprender a letra. O ritmo fica na cabeça. Eu acho o Serginho bem doido, a Lacraia o maior barato. A Tati Quebra-Barraco está abalando as estruturas. Esse povo tem mais é que encher o c...de grana.

CONTATO - Você parou com a vida de junkie?
Gordo
– Eu ainda fumo um às vezes e tomo cerveja. Mas nem se compara com a minha antiga vida. De qualquer forma, quero deixar bem claro: não estou morto.



| home |

© Jornal Contato 2005