Por Paulo de Tarso Venceslau

Lula no País das Maravilhas
“Sentada, com os olhos fechados, quase acreditou estar ela mesma no País da Maravilhas, mesmo sabendo que quando abrisse os olhos novamente tudo voltaria a ser a chata realidade de sempre”. (Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll)

O presidente Luís Inácio Lula da Silva, na segunda-feira, 7, concedeu sua segunda entrevista coletiva no Brasil. Foi no programa Roda Viva da TV Cultura. A primeira e até então única do seu mandato ocorrera em 29 de abril quando o presidente foi exaustivamente preparado por Duda Mendonça e assim mesmo com a condição de que os jornalistas não tivessem o direito de contestar suas respostas. As demais entrevistas só haviam ocorrido no exterior: Davos (Suíça), Cusco (Peru), Evian (França), Caracas (Venezuela), Xangai (China).
Os entrevistadores eram de primeiro time, montado apenas com ex-apresentadores do programa - Augusto Nunes (colunista do "Jornal do Brasil"), Rodolfo Konder (diretor da universidade UniFMU), Matinas Suzuki Jr. (diretor da rede de jornais Bom Dia), Roseli Tardeli (diretora da agência de notícias da Aids) e Heródoto Barbeiro (editor-chefe e apresentador do Jornal da Cultura e âncora da CBN). Porém, só Barbeiro e Nunes estão, atualmente, no dia-a-dia das redações.
A primeira pergunta parecia indicar que muitas verdades seriam ditas quando contrariando a si próprio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu, pela primeira vez, ter responsabilidade pela crise política que enfrenta. "Pelo bem ou pelo mal, não tem como o presidente da República dizer que não tem responsabilidade. Sabendo ou não sabendo, o presidente da República tem responsabilidade e tem que mandar apurar", disse Lula.
Infelizmente, o que se seguiu não esclareceu praticamente nada. E quando havia alguma informação havia também a contra-informação como "politicamente, o Congresso está condenado a cassar" o mandato do deputado José Dirceu (PT), para em seguida fazer veemente defesa como seu "advogado de defesa": "Feliz o país que tem um político da magnitude do Zé Dirceu, que tem coragem e inteligência para fazer o enfrentamento".
Mudou de opinião do que havia dito na França sobre caixa dois e a traição que teria sofrido. Mensalão? Nunca existiu! Lágrimas? Nuca derramou! Dinheiro de Cuba? Jamais porque aquele país “vive no maior misere”! Assassinato de Celso Daniel? Coisa da família que não devia se relacionar com o companheiro! Filho que levou R$5 milhões da Telemar? Contratos regulares com uma empresa que foi privatizada: “Somente a investigação é que vai mostrar se é ilegal” foi o mote mais utilizado para justificar o injustificável.
Não há nada de errado no reino de Lula da Silva. O país vai muito bem obrigado apesar dos agourentos que vivem a espalhar denúncias que nunca são comprovadas. Não existe caixa 2, nem mensalão, nem dólares na cueca, nem flagrante de corrupção explícita com imagens e por aí vai. “É tudo produto da mídia”, como filosofou Marilena Chauí.
Já era hora de alguém emprestar para o presidente Lula o livro “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carrol. Se a leitura for muito difícil, o presidente pode pedir que o ministro da Cultura leia em voz alta antes de se lançar nos braços de Morfeu, principalmente o último capítulo, quando Alice acorda e descobre a chatice do dia-a-dia do mundo real.

 

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