CONTATO - O Plano Diretor está sendo feito por exigência de Lei federal. Qual Lei?
Pedrosa
- O Estatuto da Cidade. Trata-se de uma lei muito detalhada que deu instrumentos de planejamento às prefeituras, que não existiam há alguns anos. Hoje, discute-se a função social da propriedade. Se não cumprir essa função, ficará passível de desapropriação.

CONTATO - Como foi feita essa lei?
Pedrosa
- Depois de 10 anos parada, um dia ela passou para as mãos de dois relatores, um relator era do partido comunista e o outro do partido socialista. Aí ela entrou em pauta.

CONTATO - Tem fundamento a preocupação a respeito de que o prazo poderá não ser cumprido no caso de Taubaté e a cidade corre o risco de perder recursos fundamentais para seu desenvolvimento?
Pedrosa
- Não. Entregamos o plano prontinho em maio para a Câmara avaliar. Veja bem, o plano é: includente e é participativo. Hoje, tivemos reunião com 63 pastores, evangélicos. Nós temos tidos reuniões com a sociedade organizada. Eu não posso abrir a discussão pra população de modo geral. Tenho que organizar a população para participar desse debate.

CONTATO - O caráter participativo é onde as criticas pegam mais. Quem esta participando?
Pedrosa
- O Luís Antônio Moreira dos Santos é o nosso assessor político. É ele que marca as reuniões, que convoca as pessoas. Nós já tivemos reunião com a Sabesp, Banespa, Petrobrás, Conselho de Pastores, padres, com todas as paróquias, com associações de bairros, com universidades, com o Viva Centro, comerciantes, com ACIT (Associação Comercial e Industrial), com os contabilistas, que são muito importantes.

CONTATO - E com a Câmara?
Pedrosa
- Com a Câmara, lógico! E sempre recebemos os vereadores aqui com a gente. Eles vêm aqui sempre que nos dirigimos às comunidade. Hoje, por exemplo, será com os pastores. Será muito importante porque eles são formadores de opinião. Cada um tem o seu gueto, sua área, e nós precisamos ganhá-los para o nosso lado. E tenho conseguido.

CONTATO - Comenta-se que o cerne do Plano Diretor estaria sendo gestado entre 4 paredes.
Pedrosa
- Bom, isso não é mentira porque só pode ser dessa forma. Há dois tipos de necessidades que eu preciso saber: a necessidade real e a necessidade sentida. A necessidade real eu não preciso perguntar para ninguém. Ninguém sabe mais do que nós qual é a necessidade real de Taubaté. Eu sei se tem infra-estrutura, eu tenho os dados, eu tenho os números, eu sei se tem água, esgoto, se tem escola, se tem condução, se o número de ônibus no seu bairro é suficiente. Agora, se eu perguntar o que você precisa, o que você quer? Isso é necessidade sentida. Isso é uma atitude política. Ação política do Plano hoje está na mão do Luiz Antônio. Nós conseguirmos fazer reuniões com as lideranças setoriais. Eu não tenho ainda condição de abrir pra todo mundo.


“Ninguém sabe mais do que nós qual é a necessidade real de Taubaté”

CONTATO - Porque não?
Pedrosa
- Porque o plano não conseguiu fechar os conjuntos, só setoriais. No Estatuto da Cidade predomina o planejamento territorial. Mas nosso plano é sócio-econômico, institucional. O territorial é quase reflexo das nossas idéias sócio-econômicas e a organização excepcional. Então nós estamos trabalhando em todas as áreas. É um leque muito grande que não tem condição de juntar o conjunto e abrir a discussão [sobre tudo].

CONTATO - Mas deve existir um conjunto de propostas que deve formar um eixo para formular propostas setorialmente. Quais seriam esses pontos básicos?
Pedrosa
- Vamos lá! Taubaté tem 268 mil habitantes, sendo 254 mil na zona urbana e 14 mil na zona rural. Bom, essa população se distribui numa zona urbana de 91km2 e numa zona urbanizada de 57. A área total do município é de 626 km2. Então, existem 254 mil habitantes que estão nesses 57 km2. Eu tenho uma necessidade de 50 habitantes por hectare. É uma necessidade boa? É. Uma necessidade melhor, do que a média desejada. A média desejada seria 70 habitantes por hectare. Nós temos 50, uma folga muito boa para Taubaté. Nós vamos projetar a cidade para 500 mil habitantes.


“Vamos projetar a cidade para 500 mil habitantes”

CONTATO - 500 mil habitantes em quantos anos?
Pedrosa
- De 15 a 18 anos. Nossa família tem, [em média] 3,25 pessoas por habitação, nós não temos mais famílias grandes. Os grupos Iguatemi e Votorantim fizeram duas pesquisas, que nós nunca tivemos condições de pagar, sobre o desenvolvimento em torno de São Paulo. Ela abrange até os 100 km de São Paulo, e inclui Taubaté. Essas duas pesquisas mostram o potencial muito grande de toda essa região. E nós conseguimos sacar as previsões sobre Taubaté. Essa pesquisa apontou para este número, 500 mil habitantes. E o prazo também foi dado por eles.

CONTATO - Como está Taubaté, hoje?
Pedrosa
- Os vários prefeitos que tivemos nos deixaram uma Taubaté muito boa. Eu tenho esses números para lhe mostrar. Não posso negar [que foi] graças à dinastia do velho Ortiz. No começo do ano, em Campinas, [houve] um congresso de municípios com mais de 100 ali representados. Cada um dizia seus números e índices. No final, pusemos nossa pastinha debaixo do braço e viemos embora.

CONTATO - Por quê?
Pedrosa
- Ou eles não iam acreditar na gente ou, [caso contrário] iria gerar um êxodo para Taubaté, porque nossos números eram muito superiores a todos.

CONTATO - Quais números?
Pedrosa
- Todos. Taubaté não é uma cidade rica. [Mas] é uma cidade de índices sociais excepcionais, com distribuição da riqueza harmônica. Nós temos 98% das crianças matriculadas e esses 2% nós vamos precisar de polícia para localizar, porque não estamos achando. A força de trabalho de Taubaté é de 174.200 pessoas. Potencial. Mas na verdade, tirando alguns idosos, algumas mulheres e porque não tem jeito, nós temos 113 mil pessoas. Essa é a força efetiva de trabalho que eu tenho. Mas, eu tenho 110 mil pessoas recebendo de um modo ou de outro ou por emprego organizado ou emprego informal ou por bico, ou aposentadoria ou por aluguel, nós temos 110 mil pessoas que recebem de 2 a 10 salários. Sobram 3.000 que fariam parte do nosso índice de desemprego. Então, nosso índice efetivo de desemprego fica em 2,8%.


“Taubaté não é rica (...) é uma cidade de índices sociais excepcionais, com distribuição da riqueza harmônica”

CONTATO - E a informalidade?
Pedrosa
- Com o índice de desemprego baixo, [a informalidade] é a principal atividade econômica da cidade, então tenho que considerá-la como um grande meio de produção de riqueza. Não adianta, a nossa informalidade é maior que a formalidade.

CONTATO - E quais outros números interessantes existem?
Pedrosa
- Nós temos 6 anos pra completar [projetos] e gastar o dinheiro do BID para ter 100% de tratamento de esgoto. Nós temos 72 mil geladeiras, 113 mil televisores, 137 mil bicicletas. Da nossa força de trabalho, só 40% usam o transporte coletivo. E o resto? Vai de carro? Não! De bicicleta e a pé. ...

CONTATO - Bicicletaria seria um bom negócio então?
Pedrosa
- [Parece que não].porque existem apenas meia dúzia de oficinas enquanto a bicicleta dura 60 anos. A bicicleta é assim mesmo, o cara faz em casa, compra uma pecinha, amarra com arame, enche o pneu e vai embora. Por outro lado, a Loja Cem de Taubaté é a loja que vende mais bicicletas do estado; as Casas Bahia de Taubaté vendem mais bicicletas do estado, e assim por diante.

CONTATO - E no comércio?
Pedrosa
- Nós não somos regionais em termos de comércio nem em prestação de serviços. Comércio e prestação de serviços praticamente são nossos. Nós não temos santo, não temos mar e não temos montanha, mas estamos no meio do caminho do mar, do santo e da montanha. Então nós vamos fazer uma barragem para o turismo, que é nossa meta.

CONTATO - Acontece é que o Vale inteiro, o litoral, o planeta está pensando nisso.
Pedrosa
- É. Vou dar um exemplo. Nós temos um grupo ligado a Golf do Brasil, para você ter uma idéia. Eles estão ligados a bancos e instituições grandes que eu não posso falar, mas são dois órgãos empreendedores. Dois jovens empresários famosos que não devo dizer o nome querem montar um campo de golfe para atender 200 empresas.

CONTATO - Isso é público?
Pedrosa
- Isso é muito fechado. Não imagina a quantidade de pessoal de hotelaria que já veio procurar aqui. Não sei como esse pessoal descobre! Não está nada resolvido ainda. Campo de golfe não tem nada de hotelaria. O empreendimento vai usar a hotelaria hoje existente em Campos do Jordão ou em volta. Estou dando um exemplo pra você ver essa nossa vocação de turismo de barragem. Barrar o pessoal assim como o nosso autódromo que vai ser turismo de barragem, porque nós temos um projeto anterior a esse, feito por Rui Ohtake.

CONTATO - Taubaté tem uma vocação para indústria pesada, mecânica e metalúrgica que, hoje, ninguém mais quer.
Pedrosa
- Não. Mas nós temos uma briga com uma indústria aeronáutica que também não podemos falar. Nós já estamos com a aérea, local.


“Temos uma briga com uma indústria aeronáutica que também não podemos falar”

CONTATO - A dúvida é que eles queriam garantir uma pista de pouso no Vale do Una.
Pedrosa
- Não é mais lá.

CONTATO - Não é mais lá? Mudou dali? Mas tem outro lugar pra fazer pista?
Pedrosa
- Tem. Tem.

CONTATO - Na Volks? Então é pra cá então? Não é para o lado de lá da Dutra, é para o lado de cá, anterior.
Pedrosa
- É. Antiga estrada de ferro. Uma parte da Dutra....E a área de mais 300, 400 mil metros quadrados além da Dutra.

CONTATO - Como a cidade se desenvolveu? Estamos seguindo pra onde?
Pedrosa
- Para o sul.

CONTATO - O que você chama de sul?
Pedrosa
- A zona do cruzeiro, zona de Ipiranguinha, zona de Sete Voltas. Porque não temos mais para onde ir. Porque ao norte, nós paramos na zona de APA (Área de Proteção Ambiental), do lado direito a gente encosta em Pinda, do lado esquerdo encostamos em Caçapava. Não tem mais jeito. Fora isso nós vamos preencher os vazios, em termos de expansão urbana nós estamos encostados nesses 3 limites. Só podemos caminhar pro sul.

CONTATO - Entre o sonho, a fantasia e a realidade, o que é viável?
Pedrosa - Sem esse sonho eu não vou chegar na realidade. [Até hoje, por exemplo,] nenhum ligou pro centro da cidade. O levantamento dos números mostra que em 6km da área central circulam 52 mil pessoas por dia. Discutimos isso com a sociedade Viva Centro, com a ACIT, enfim, caminhamos e descobrimos coisas extraordinárias. Na área pública onde o estacionamento é pago, temos 500 vagas. Mas temos 2.800 de vagas particulares. Se eu tirar [as 500 vagas] não vai atrapalhar nada e vai melhorar o trânsito.

CONTATO - O projeto para praça do mercado é público ou não? Dá para comentar?
Pedrosa - Ainda não.

CONTATO - Em maio, o Plano deverá ser apresentado à Câmara que deverá aprovar até outubro. Se não aprovar até outubro, significa perder. Qual seria o risco?
Pedrosa - Mas não é o caso. Nós temos contato com os vereadores constantemente e nós vamos aprovando algumas coisas, nós recebemos leis constantemente deles. Precisamos manter esse diálogo com a Câmara para não haver surpresa.


“Precisamos manter esse diálogo com a Câmara para não haver surpresa”

CONTATO - Existe um tempo técnico que é maio, e existe um tempo político. Se a votação fosse hoje, as propostas do executivo passariam fácil. Mas, 2006 é um ano eleitoral que poderá influir muito no resultado final. Vocês previram esse quadro?
Pedrosa - Confesso que não. Confesso que sou incapaz de trabalhar nessa área. Espero que a minha assessoria e a assessoria do prefeito me dêem luzes, porque eu sempre fui meio fechado, quieto, você não me vê na rua, no cinema.

CONTATO - Voltando ao critério participativo, você privilegiou a discussão com a parcela organizada da cidade ?
Pedrosa - Exato. E estou pedindo que a população se organize. A Femant é formada por 63 associações de bairro, juridicamente constituídas, com 63 presidentes. Mas, fisicamente ele (presidente) não sabe até onde vão os limites da sua associação. Então vira bagunça. Eu estou tentando organizar isso com um sistema administrativo. O prefeito poderia programar a administração. Então, ele iria aos bairros que teriam representantes. A população vai entender e na próxima eleição vai eleger alguém que seja realmente representativo. E ele já vai sabendo toda a necessidade real do bairro. A necessidade sentida ele vai consultar.

CONTATO - Qual seria a característica mais marcante desse Plano Diretor?
Pedrosa - No caso, nós escolhemos o tema dignidade, que é a característica do administrador. Nós tínhamos que procurar um plano com dignidade para a população baseado principalmente nos critérios: educação, saúde e emprego. Eu entrei a partir dessa definição. Então se nós tivéssemos todos os bairros organizados fisicamente, eu posso organizar a participação de cada comunidade e de todas elas, uma a uma e de todas, mas não num conjunto de fatores, que [é] praticamente impossível.


“Tínhamos que procurar um plano com dignidade para a população, baseado principalmente nos critérios: educação, saúde e emprego”

CONTATO - Mas vai ter sobreposição. Você não vai conseguir resolver.
Pedrosa - Como não? Nós estamos conseguindo. É uma guerra. Mas nós estamos caminhando. Temos esperança. Se conseguir isso, eu posso chegar à comunidade com maior facilidade.



Luiz Antônio dos Santos, fiel escudeiro de Pedrosa, responsável pela articulação política

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