Por Paulo de Tarso Venceslau e Marlon Maciel Leme

Passando a limpo

Prefeito Roberto Peixoto abre o coração (2a. e última parte)

A primeira parte dessa entrevista, publicada semana passada, terminou com uma série de irregularidades que estariam sendo apontadas pela mídia e pelo Ministério Público. Peixoto respondeu que se trata da ação de uma minoria que ele chama de esquerda festiva. E concluiu que estavam questionando sua capacidade de governar: “Talvez achando que Roberto Peixoto não pudesse ser um bom prefeito para Taubaté”. Acompanhe os melhores momentos da segunda e última parte da entrevista exclusiva para CONTATO.

CONTATO – O que seria essa esquerda festiva, politicamente, na cidade? Tem algum exemplo?
Peixoto – Dia 1º de Maio em Taubaté, por exemplo, aparece uma esquerdinha festiva fazendo barulho na cidade para chamar a atenção. No [dia] 7 de Setembro, [houve] um desfile bonito, [mas] tinha lá um grupinho de esquerda, vestidos de preto no Dia da Independência, entregando papelzinho e fazendo críticas. É um pessoal que só aparece nos momentos de concentração popular. Mas o povo não estava nem aí.


“Sempre, nos eventos mais bonitos, aparece uma esquerdinha fazendo barulho”

CONTATO – Houve algum incidente nesse dia?
Peixoto - Notei uma pessoa entregando um papelzinho que era contra a administração. E um jornal regional estava acompanhando essa pessoa. Notei que alguns funcionários da prefeitura estavam se aproximando por conta dessa entrega de papelzinho. Mas, se naquela hora alguém da prefeitura falasse alguma coisa indesejável, esse funcionário seria flagrado com fotos. Senti que eles estavam querendo criar um fato político. Chamei o Carlinhos [gerente de Comunicação da Prefeitura] e orientei para deixar o pessoal entregar o papelzinho à vontade.

CONTATO – Agora, e o asfalto?
Peixoto – Chamei todos os diretores para irem na Câmara dar explicação.

CONTATO – Inclusive eu estive na Câmara, dei depoimento.
Peixoto – Assisti você da minha casa pela televisão. Por isso que eu falei que as pessoas estavam subestimando o prefeito. Se a gente comparar o que prometi e o que a gente fez, você vai ver que já fiz 70%, ou mais até do que prometi. A gente está só criando coisas novas. Eu posso ser uma pessoa simples, mas sou uma pessoa vivida.

CONTATO – Mas e o asfalto? Na sua opinião, foi uma falha ou não o que aconteceu?
Peixoto – Por isso que eu falei em subestimar, não se pode subestimar ninguém na vida. Tanto é que eu comecei como estagiário da prefeitura e cheguei a prefeito. Taubaté não é mais uma cidade pequena, cresceu muito, e eu precisava fazer um asfalto melhor.

CONTATO – Por que especificava uma usina que só tinha um fornecedor?
Peixoto – Não foi especificado.

CONTATO – Mas isso eu vi.
Peixoto – Vou explicar. Os nossos engenheiros, o Gerson e o Bibiano, se reuniram com nossos diretores para que a gente tivesse uma usina de asfalto a quente. Eles acharam e apresentaram isso para o prefeito, [argumentaram] que a gente tinha que fazer algo de ponta para Taubaté. Jacareí não tem? São José não tem? Por que Taubaté vai ficar atrás?


“Eles acharam que a gente tinha que fazer algo de ponta. Jacareí não tem? São José não tem? Por que Taubaté vai ficar atrás?”


CONTATO – E a usina, por que especificar o tipo de usina?
Peixoto – Com toda sinceridade, não sei da onde surgiu isso. O que foi especificado era um tipo de usina que seria importante para a cidade. Não estou preocupado se é Rio Grande do Sul [a empresa que iria vencer a licitação] ou Santa Catarina. Minha preocupação é ter uma usina melhor. Foram mais de dez inscritos. O que os nossos técnicos estavam achando [é] que as empresas de Taubaté não estão acompanhando a tecnologia e [por isso] estão ficando para trás. Mas vou fazer de tal forma no ano que vem para que todos tenham direito de concorrer.Taubaté precisa de asfalto a quente. Isso eu não tirei da minha cabeça não.

Contato: E a compra dos livros sem licitação?
Peixoto: Alguém lá no passado disse que um país se faz com homens e livros. Se você constrói um túnel, que é muito importante – talvez eu faça um ainda -, o povo acha maravilhoso. Mas, em Taubaté, há muito tempo não se mexia pesadamente com a educação. E nós precisávamos mostrar aos nossos alunos a história real da nossa cidade. Tomamos a decisão, então, de adquirir livros para a nossa cidade.

Contato: A crítica está centrada em dois eixos: falta de licitação e o conteúdo do livro que não teria sido resultado da editora que o publicou. A pesquisa teria sido feita por funcionários da prefeitura. CONTATO reproduziu trechos idênticos do livro com outra obra.
Peixoto: Eu preferia fazer por licitação. Mas acontece que antes de se fazer a licitação, todo o prefeito tem que ter um documento na mão. Eu consultei o departamento jurídico para analisar e [emitir] parecer. Não estou passando [a responsabilidade] para o jurídico. É o prefeito que tem que responder pelos atos. Mas, tenho que ter um parecer jurídico. Veio para mim que seria dispensável [a licitação] por causa de inexigibilidade. Porque era um produto original. Se eu tenho um parecer na minha mão, por que abrir licitação que é mais lenta? Foi o que eu fiz. Demos velocidade ao processo. A editora, pelo que me consta, é a única que faz esse tipo de trabalho.

Contato: O livro pode lhe dar dor de cabeça. O Ministério Público já está em cima.
Peixoto: Para o prefeito, não veio nada [oficialmente a respeito] de improbidade administrativa. Veio apenas reclamação [a respeito] da ausência de licitação. Eu suspendi o pagamento da segunda parte do pagamento porque estava sendo discutido. E segurei os livros para não distribuir.

Contato: O que o Ministério Público está exigindo?
Peixoto: O promotor informou que eu preciso colocar um adendo no livro informando, por exemplo, no caso da Madre Cecília, quando [foi que aconteceu] e não o nome do prefeito. Outra coisa, por várias vezes nós pedimos ao ex-prefeito Antônio Mário para mandar uma fotografia para a gente colocar no livro [junto com] todos os prefeitos. Conclusão: [não veio e] colocamos outra foto dele. Falta [também] uma foto dele no quadro de prefeito. Já mandei cobrar.

Contato: O senhor pretende publicar outros livros sobre a história de Taubaté?
Peixoto: Pode até ser. [Mas] O conteúdo deste livro está tão rico. Se houver necessidade, a gente vai fazer pela própria prefeitura mesmo.

Contato: Por que o senhor não deu nenhum retorno sobre a agressão que eu sofri no aterro sanitário?
Peixoto: Eu abri um processo administrativo. É claro que não estou duvidando. Lá no aterro, a gente gradativamente vai ter que fazer um trabalho. Talvez tenha havido alguma falha. Não quero justificar –longe disso–, mas uma semana depois, pelo que me consta, o Valeparaibano esteve lá. Talvez até pelo acidente.

Contato: O Valeparaibano foi atendido por ser um jornal grande?
Peixoto: Prefiro muito mais falar com você do que com o Valeparaibano. Não quero briga. Teve um evento no Cecap. Eles [do Valeparaibano] foram lá. Na oportunidade, eles estavam batendo muito em mim. Vi [o repórter] na minha frente e não agüentei. Com muito jeito falei: ‘olha, eu sei que estou recebendo algumas críticas de uma imprensa que não é daqui, que tenho respeito muito grande, mas discordo`. Eu sei que vão continuar batendo porque não conhece a realidade da minha cidade, trabalham por “orelhada”, sei que é coisa política. À imprensa taubateana dei nota dez.

Contato: Muito se comenta sobre a influência do deputado padre Afonso (PV) que seria muito grande no seu governo. E muitos afirmam que essa influência não é benéfica ao seu governo. Existe essa influência forte?
Peixoto: Durante a campanha, o padre Afonso resolveu nos ajudar. Ele, de certa forma, disponibilizou alguns técnicos como o Monteclaro César, doutor Pedro Henrique e o doutor Cabral. O padre também foi ao palanque com a gente. Na hora de montar a equipe, precisava de pessoas que estivessem mais próximas de mim. Houve uma coincidência de aproximação e competência.

Contato: E o padre Afonso as indicou?
Peixoto: Ninguém se ofereceu para mim. O único foi o doutor Pedro que disse que gostaria de trabalhar na administração como médico de PAMO.

Contato: A influência do padre Afonso é muito grande então?
Peixoto: Eu posso dizer que o deputado tem trânsito livre aqui dentro. Mas ele não fica ligando para o prefeito toda hora. Raramente ele fala comigo. Nunca pediu nada em troca a não ser que o prefeito o ajudasse na campanha estadual.

Contato: Nessa mesma linha, a força da primeira-dama incomoda algumas pessoas. O peso da dona Luciana é muito grande na administração?
Peixoto: Fico feliz por dois aspectos: Primeiro, porque eu sou apaixonado pela minha esposa e digo isso em público. E isso faz com que a gente acabe acalmando a administração porque os servidores municipais e o povo nos vêem como pessoas que se amam. Isso pode ter causado um pequeno desconforto em algumas pessoas pelo relacionamento gostoso que nós temos. Segundo, Luciana é adorada e querida em todo as entidades sociais e, principalmente, no meio da educação. Não quero compará-la a nenhuma esposa de presidente, governador, prefeito e ex-prefeito. Ela toma conta da área social direitinho.

Contato: De forma rápida, qual sua opinião sobre o projeto Vale Verde?
Peixoto: Uma obra muito importante. Se depender do governo, isso já está resolvido e a obra será construída. Agora, isso inverteu. São eles (investidores) que têm que vir.

Contato: E a Faculdade Anhanguera? Não há conflito com a Unitau?
Peixoto: Não estou preocupado com isso. A Unitau, graças a Deus, já congelou as mensalidades com um reflexo [dessa concorrência]. Eu vou escolher o reitor – junho de 2006 – quando chegar o momento.

Contato: Dizem que a dona Luciana já tem uma candidata?
Peixoto: Não. Se você analisar, eu já conversei algumas vezes com o professor Nivaldo Zöllner. Mas todas as vezes, nunca conversamos sobre a lista tríplice. Conversamos sobre parceria. Conversei também com o professor Florençano, que gosto muito.

Contato: É um candidato que o senhor aprovaria?
Peixoto: Eu gosto dele. Sempre tivemos um bom relacionamento. Quanto à candidata, Lucila já foi diretora do departamento de Ação Social. Tive algumas reuniões com ela aqui como a Luciana, minha esposa, também teve. Mas em momento algum, a Luciana se intrometeu nisso. Em momento algum, eles pediram apoio.

Contato: A avenida que liga o Parque Aeroporto ao Quiririm?
Peixoto: As obras já foram iniciadas. Pretendemos inaugurar no ano que vem. Aprovamos 17 novas indústrias na Câmata e já atendemos 60 empresários.

Contato: Qual seria a marca da educação?
Peixoto: Capacitar e valorizar nossos professores.

Contato - Qual seria a marca da saúde?
Peixoto - Reduzir as visitas ao Pronto Socorro levando a saúde diretamente aos bairros. A carreta da saúde é um exemplo. Vou te contar o sonho que tive. Sonhei que estava em um barco que se aproximava de um monte de pessoas vestidas de branco que portavam maletas e pediam para entrar nas casas dos ribeirinhos para conversar com os moradores. Interpretei como sendo médicos que estavam levando o PSF – Programa Saúde da Família – para o meio rural. Dr. Pedro Henrique já está autorizado a adquirir cavalo, jipe, o que for preciso para levar nossos médicos para as áreas mais carentes.

Contato - E a marca do DAS?
Peixoto - Entregar o Centro Integrado da Habilitação e Reabilitação Educacional, que é uma escola Madre Cecília melhorada, com equipamento de Primeiro Mundo. Será construído naquela área que fica logo depois da rotatória do [clube] Abaeté.

Contato - E a marca de Obras?
Peixoto - Muitas pequenas obras e fazer das entradas de Taubaté verdadeiros cartões de visita.

Contato - E a política de atração de novas indústrias?
Peixoto - Já temos 17 aprovadas pela prefeitura e outras 60 que já foram atendidas.

Contato - A prefeitura está participando da expansão do Taubaté Shopping?
Peixoto - Já tivemos três reuniões. Eles (Shopping) querem adquirir o terreno que era da Borleng para poder fazer a ampliação projetada. Determinei que o departamento Jurídico avalie se existe base legal para que possamos declarar a área como sendo de utilidade pública. O Adriano [Capobiando, gerente geral] quer atrair grandes empresários (âncoras) para a nova área.

Contato - Qual sua opinião sobre o governador Geraldo Alckmin?
Peixoto - Temos um ótimo relacionamento porque ele está olhando para Taubaté. Basta ver o que está sendo feito de saneamento (esgotos), o Hospital Regional e a área localizada atrás da Casa de Custódia que já tem um decreto desapropriando para que ali seja construído o Parque das Nações (um parque temático) e a uma cidade mirim com objetivo de se promover educação de trânsito.

Contato - E sua opinião sobre o governo Lula?
Peixoto - Um bom presidente, porém mal assessorado.

Contato - O senhor fica ou sai do PSDB? Quem o senhor apoiará em 2006?
Peixoto - Pelo relacionamento que tenho com Geraldinho [Alckmin] que foi quem abonou minha ficha de filiação, pretendo continuar no partido pelos próximos 3 anos. Vou apoiar quem dobrar para deputado federal com o padre Afonso Lobato que será candidato a reeleição para deputado estadual.


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