Por: Luiz Gonzaga Pinheiro - espesspei@uol.com.br

Mais uma primavera

Não se trata de um aniversário, o meu, objetivamente, mas de uma Primavera, como ensaio e anúncio do Verão.
No reduto das flores, árvores ver-des de suas energias, pastos quase refeitos, queimadas sendo deixadas para trás, inicia-se a Primavera, ante-cedida pela majestade dos ipês e suas florações copiosas, um exagero amarelo que põe tudo e todas as flores como coadjuvantes de seu amarelo apaixonante.
Algumas vezes somos pontuados por acontecimento que se localizam acima de nossa cabeça, em condição superior ao que imaginaríamos como paisagem. Mesmo assim, escalando cores e árvores, somos deixados para trás do amarelo espontâneo invasor de nossos olhos e, quem sabe, de nossos corações. O amarelo se im-põe, como se nos governasse de modo imperial, sugerindo ouro claro e vibrante, coisa de rei.
Na Primavera, já recebemos nossas quotas de calor, mesmo que tímido, para os cultores de sol e praia, mas um calor mais de alma que de corpo, pois a sensação é menos térmica do que estética ou psicológica. Além disso, é um calor que nos invade sorrateiro, tomando conta de nosso corpo, que se deixa invadir como se recebesse um bálsamo.
Gosto especialmente desta época do ano, contanto que me mantenha por aqui nesta Mantiqueira só de encantos e, algumas vezes, de toda a Primavera.
Tivemos também nossa primavera política quando nos jogamos nos perfumes e cores atraentes dessa sugestão de alegoria, imaginando-nos em uma nova condição, aquela que mandava acreditar nos novos homens do país, saídos de florações mais recentes, limpas e puras.
Uma tempestade de granizo, menos que um vendaval ou ciclone, menos ainda que um furacão, liqüidou com as flores e deixou as árvores nuas, exibindo o esquálido de seus corpos, agora sem a virtude de uma carnação em forma de flores cheirosas e abun-dantes de cores.
Ficamos órfãos de nossos sonhos floridos e sem novos tutores para o delírio que nos injetou beleza, espe-rança. Somos, hoje, órfãos de nosso lirismo, filhos da desesperança, árvo-res sem flores, viço, perfumes. Fomos conduzidos a uma nova realidade que nos repôs onde sempre estivemos. Agora, as flores e a esperança foram substituídas por gente pouco hábil e inteligente.
Perdemos a Primavera, mas ficamos com o que restou de Lula, uma gro-tesca flor de ferro, oxidada, cheia de ferrugem. Uma flor antiflor, uma bo-bagem.



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