Por: Luiz Gonzaga Pinheiro - espesspei@uol.com.br

Uni forme

Não haveria nada de mais se os prefeitos que estão pretendendo carimbar alunos das redes municipais de São José dos Campos e Taubaté se decidissem por adotar eles mesmos um uniforme de trabalho, em tudo semelhante aos que pretendem impingir aos alunos das redes municipais de ensino de suas cidades. Se os uniformes servem para minorar gastos com os alunos, que também se gaste menos e se mostre quais são as preferências de nossos ilustres prefeitos.
Os jogadores de futebol, nem todos carimbados como gostariam os dirigentes, já portam em seus traseiros o patrocínio-bunda que os identifica com marca responsável por essa parte nobre de seus corpos atléticos.
Antes da idéia sinistra de carimbar crianças, todos nós convivemos com os homens-sanduíches que portavam publicidade de compra de ouro e outras miçangas menos votadas. Eles carregavam as placas com um olhar triste de submetidos a uma exposição menos que digna. Nem sempre sabiam o que faziam, sendo inábeis para defender os produtos que os vestiam de alumínio ou folha de flandes.
De cima de sua conhecida genialidade, agora é Serra, o prefeito de São Paulo e eterno candidato a presidente quem se ilumina de escuridão e veste seus alunos de Casa das Cuecas ou Bahia, pouco importando o que vendam, contanto que minorem despesas com essa gente, pouco faltando que coloquem seus próprios nomes como selo de meninos sem idade para compreender a dimensão da humilhação que lhes pespegariam os sábios que estão no poder.
Os professores da rede pública – os mais idosos sobretudo – também poderão ser atingidos por letreiros que os identificariam com patrocinadores, nada impedindo que um deles seja o Viagra ou Cialis, menos Jontex, pois já terá passado a volúpia irresponsável dos tempos mais jovens.
O mundo já não teria mais o que descobrir, diziam os que acreditavam que não haveria mais nada de novo sob o sol, mas o homem não consegue abdicar de sua genialidade, o que pode implicar novos assessos de criatividade, um dia chegando a seus extremos, ao abolir o anonimato: cada criança receberia, ao nascer, um chipp sub-cutâneo, com todos os seus dados. Naturalmente, mediante exposição de seu patrocinador, uma dessas empresas do Vale do Silício, por exemplo.
Claro que não falamos em ética e moral, coisas em desaparecimento e sempre inoportunas.

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