Por Denise Moraes

A frase de Lula que virou propaganda da Brastemp

Lula disse que a economia não seria nenhuma Brastemp em 2006, a Brastemp, que de boba não tem nada transformou a gafe numa inteligente campanha.


Quinta-feira, 25 de agosto. O dia corria normalmente na Talent, em São Paulo, quando um acontecimento acelera o já frenético ritmo da agência.
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República, em um discurso defendendo o Ministro da Fazenda, Antônio Palocci, declarou seu otimismo com a política econômica, e reconheceu que, apesar de não trazer um resultado fantástico neste ano, sua tendência era melhorar no futuro.
No entanto, a questão foi a expressão que Lula utilizou: em vez de usar um adjetivo qualquer, o presidente disse que o resultado econômico "não seria uma Brastemp", em referência à famosa marca de eletrodomésticos e a um bordão criado numa campanha de 13 anos atrás, pela própria Talent.
Ainda com a conta da Brastemp, a agência agiu rápido para aproveitar a oportunidade da campanha que acabara de cair em seu colo. Para isso, a dupla de criação, Luiz Fleury e Paulo Januário, selecionou as manchetes de dois grandes jornais brasileiros, O Globo e Folha de S.Paulo, as quais destacavam a declaração de Lula.
"A intenção, ao usar manchetes jornalísticas, foi causar impacto. Não fomos nós que dissemos ou lembramos de nada, mas o próprio presidente. E os jornais registraram isso", explica Fleury.
A propaganda, que nem parece anúncio, é conhecida no meio publicitário como "anúncio de oportunidade". Esse tipo de anúncio ocorre quando alguma situação, que geralmente não tem nada a ver com o produto, faz com que as pessoas se lembrem dele ou o associem de alguma forma.
Para tanto, o anúncio deve ser produzido a toque de caixa, enquanto as pessoas ainda têm condições de se lembrar da situação à qual ele se refere. Foi o caso do anúncio feito pela Talent: a declaração de Lula foi feita no dia 25; no dia 26, ela estampava os jornais; e no dia 27 também, mas dessa vez dentro do anúncio da Brastemp.
No caso específico da Brastemp, o espantoso é o fato de um bordão com mais de 10 anos de existência ainda fazer parte do vocabulário das pessoas. "Falar que algo 'não é uma Brastemp' entrou na linguagem popular, virou expressão. Isso é um orgulho para a agência", diz Fleury.
A longevidade da campanha da Brastemp é realmente um fator impressionante. Na época de sua criação, ela deu tão certo que gerou variáveis, utilizadas até hoje. A poltrona recebeu, além dos dois amigos do comercial original, casais, pais e filhos e famosos.

 

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