Por: Luiz Gonzaga Pinheiro - espesspei@uol.com.br

Até as lágimas

Havia resolvido escrever sobre esse medíocre episódio da edição de uma obra (?) preten-siosa que se diz histórica e que pretendia em cada habitante de Taubaté um desinformado do mesmo nível dos autores dessa molecagem de um milhão e meio de reais..
Mudei de idéia quando vi a impressionante massa de brasileiros orquestrados em torno da seleção brasileira de futebol, todos uniformizados, musicais, eufóricos com a festa que ainda não começara. Fiquei feliz por ter o privilégio de ver o espetáculo dos habitantes de Brasília berrando suas alegrias, justo eles, moradores da infausta capital de nossa comba-lida república. Ignoravam o palácio do Planalto, Congresso Nacional, tudo ali ao lado do estádio Mané Garrincha, onde o povo se reunia para coisa mais séria do que o governo instalado a metros dali.
Deu gosto ver o povo brasileiro exibindo a limpeza de sua alma futebolística, cantando sua fé e mostrando a alegria inabalável de nossa gente, em que pesem o mar de lama e des-graça que nos cobrem de acanhamento.
Fui às lágrimas, tocado pela cena dourada e linda do estádio tomado de gente com o sor-riso em todas as faces, esquecendo-se de que temos governo e o governo que temos é indigno dessa gente alegre, apesar desses atores de cirquinho mambembe que nos asso-la. Impossível ficar indiferente ao cenário e seus milhares de significados.
Louva-se com justiça o povo brasileiro, a começar pelo elogio maior, aquele registrado por Darcy Ribeiro, que viu no país uma nova Roma, enriquecida de nossas misturas raciais. No que somos diferentes de todos os outros povos de nosso planeta? Nos Estados Unidos da América, em N. Orleans, somos o povo de lá que foi derrotado pelo furacão e pelo pre-sidente daquele país, lento para socorrer o povo negro que não fugiu de seu lugar. Esse povo nos deu o jazz mais esfuziante, tão amigo do alarido feliz da festa brasileira de hoje, em Brasília. Como nós, eles são povo e povo é, no fundo, o mesmo em toda parte.
Quero ficar com as irresistíveis emoções que a alegria do povo me deu e esquecer o livro de história mal contada de Taubaté, no qual nem mesmo a boa velhinha, agora enterrada, acreditaria.

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