Por Paulo de Tarso Venceslau

Autismo político de Roberto Peixoto

Mesmo correndo o risco de me expressar politicamente incorreto, pelo qual peço desculpas antecipadamente, não consigo ver imagem melhor do que esta (autismo político) para explicar o comportamento de nosso prefeito (ou prefeita?).


O site ABC da Saúde ensina que “autismo é uma desordem na qual uma criança jovem não pode desenvolver relações sociais normais, se comporta de modo compulsivo e ritualista, e geralmente não desenvolve inteligência normal. (...) Uma criança autista prefere estar só, não forma relações pessoais íntimas, não abraça, evita contato de olho, resiste às mudanças, é excessivamente presa a objetos familiares e repete continuamente certos atos e rituais. (...) Quando falamos com a criança, ela freqüentemente tem dificuldade em entender o que foi dito”.
Roberto Peixoto prefere estar só. E, de quebra, mal acompanhado. Abriu mão dos melhores quadros administrativos criados ao longo de gestões de Bernardo Ortiz e dos sucessores que conseguiu eleger. Nosso prefeito, um engenheiro de formação, dispõe de uma inteligência, pelo menos em tese, acima do normal. Apesar dessas qualidades, cada dia que passa Peixoto tem mais dificuldade para olhar no olho de seus eleitores, de seus aliados e de todos aqueles que acreditaram que ele pudesse romper com a herança autoritária de seu antecessor.
A ruptura se deu. Porém, num sentido oposto. A prometida democracia foi reduzida a discursos populistas vazios. Razão pela qual estabelecemos uma semelhança com os discursos realizados pelo presidente Lula. O autoritarismo, no governo de Peixoto, ao contrário do que ocorria no tempo de Bernardo Ortiz que assumia suas decisões, é silencioso. Quem já ouviu falar de um tal plano diretor que está sendo gestado entre quatro paredes? Por mais brilhante que seja o arquiteto responsável técnico pelo plano, nada justifica o ensurdecedor silêncio em torno do misterioso estudo. O debate para discutir esse tema na noite de quinta-feira, 18, foi uma iniciativa de algumas poucas entidades da sociedade civil.
Um plano dessa envergadura, condição sine qua non imposta pela legislação federal, envolve grandes interesses. Afinal, trata-se de definir diretrizes, zoneamentos e políticas que serão decisivas para importantes setores. A começar pelo especulativo mercado imobiliário. O silêncio e o mistério, portanto, podem ser indícios de compromissos pouco nobres com setores que serão diretamente beneficiados pelo plano.
Os gestos repetitivos diante de compras sem licitação reforçam o diagnóstico de autismo político de Roberto Peixoto. Graças à imprensa independente e a coragem de alguns vereadores, o prefeito escapou de um grande desastre que seria a concretização de uma dirigidíssima concorrência para a compra de asfalto a quente que, na maior cara de pau, exigia que fosse produzido em um tipo de usina móvel produzida por um único fornecedor gaúcho.
Mais recentemente, CONTATO noticiou compras superiores a R$2,5 milhões em pleno mês de julho, quando a Câmara se encontrava em recesso. Desse valor, cerca de R$1,5 milhão está comprometido com a compra de cerca de 70 mil exemplares de livros didáticos dirigidos ao público infanto-juvenil (ver pg. 3). Não há justificativa minimamente plausível para a equivocada decisão de comprar sem licitação esse tipo de material escolar.
Na edição 233 de CONTATO, Sandra Regina Félix, sócia-proprietária da Noovha América, afirma que o livro foi fruto de uma pesquisa desenvolvida no período aproximado de cinco meses. Portanto, a pesquisa teria sido realizada durante a gestão do atual diretor que recebe dos cofres públicos para gerir um departamento e não para realizar pesquisas como afirmou Félix.
Trata-se de mais um fato que o prefeito insiste em desconhecer. Portanto, a semelhança entre o prefeito e o presidente deixa de ser uma mera coincidência. Trata-se de decisão política de quem, a exemplo de Lula, insiste em empurrar a sujeira para debaixo do tapete.

 

| home |

© Jornal Contato 2005