Por: Luiz Gonzaga Pinheiro - espesspei@uol.com.br

Prego

Os discursos moralistas sapecados pelos deputados amorais no palco mais privilegiado do país têm levado o povo a um crescente assombro diante do que vê, ouve, lê e, em seguida, pode falar.
Monteiro Lobato, que nos ensinou o caminho do escrever, falar, ouvir e ver, por meio da leitura, deve dar pinotes em seu túmulo, vendo, ouvindo, lendo o que falam os deputados amorais sobre pregações moralistas dignas de cursos de oratória da mais reles periferia cultural brasileira.
Não me embalo em maior erudição (até porque não freqüento essa área), mas pregar implicava fazer chegar a palavra do Senhor aos seus fiéis, por meio de um pregador, quase sempre um sacerdote. Também significava fazer chegar uma tábua a outra, porque pregar vem de plicar, que resultou em chegar. O que se observa é que o verbo tem o mesmo significado, mesmo quando usado em acepções diferentes.
O que pregam nossos congressistas? O que fazem chegar a nós, atônitos ouvintes desse campeonato de bandalheiras? Talvez provoquem um sentimento de saudade do Padre Vieira e de um Rui Barbosa grandiloqüente e chato, mas posto do lado da verdade. Essas figuras, na versão 2005, atendem por nomes menos prestigiosos de Roberto Jefferson e Waldemar da Costa Neto, os atuais arautos da sabedoria, contando com platéias que matariam Jesus de inveja.
Estamos atentos ao que dizem e nos filiamos como torcedores de suas posições, sempre celebrando que inventaram um neologismo, propondo uma nova palavra “mensalão” à nossa combalida língua portuguesa, assaltada por toda forma e vocabulário inglês. Não desta vez, contudo, pois o neologismo deriva do melhor latim, mensis. Só isso, já me dá um orgulho que faz arrebatar meu patriotismo vocabular.
Há muitas virtudes nesse constrangedor debate, a começar pela virtude da franqueza, quando um deputado chama o outro de mentiroso, sem que a face ofendida mova um só músculo, para horror da memória de meu pai, inconciliável com o termo e suas práticas.
O torneio de mentiras prosseguirá em outros púlpitos de nossa civilização movida a depósitos bancários, caixa 2, mas não estamos atentos ao aval que emprestamos a esses atores de um teatro que envergonharia os gregos e suas tragédias, quase sempre atrás de dramas provocados pelo amor.
Creio que nenhum dos personagens agora pilhados do outro lado do caixa do varão Marcos Valério é novato nessas artes, mas têm renovado seus mandatos por nós, os eleitores. Diante disso, não parece lógico que os punidos sejamos nós, os eleitores cínicos que os reconduzem ao parlamento? Em nome da moral, ética, bons costumes, cassem nossos títulos. Por favor.



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