Por: Luiz Gonzaga Pinheiro - espesspei@uol.com.br

Pesquisa

Que não me tomem por quem não sou, peço humilde, antes de tudo. Estou me propondo a dizer duas pa-lavras ainda sobre escultura, agora escrevendo sobre calcinhas. “Tudo a ver”, como cunhou a Globo ou al-guém duvida?
As espessas vestimentas de anta-nho proibiam qualquer especulação (esta palavra vem de especulo, espe-lho, implicando ver no espelho, dando nome à coluna) sobre vestimentas interiores, agora íntimas. Uma peça não se comunicava com a outra, nem mesmo mantinham um entendimento sequer razoável.
Mais recentemente elas se dese-nham, mesmo estando debaixo das calças que lhe favorecem aparecer, pelo menos nos riscos de seus com-tornos, revelando personalidades e, até, intenções. O que antes era moti-vo de pudores, agora se revela como uma intenção clara de confissão.
De tudo há, mas fiquemos em al-guns exemplos mais conhecidos. Entre eles o da calcinha sem função nenhuma, aquela que existe para que não se ignore que ela também se presta a não fazer nada, nem ter fun-ção específica, a não ser a de provo-car essa reação de inutilidade, nada cobrindo e nada revelando. São fios não condutores.
A clássica é aquela que envolve todo o volume e existe até para aque-cer as partes cobertas, aqui e na África chamada de bunda, que tam-bém é um dialeto africano. São peças que pouco mostram de seus contor-nos, até porque suas portadoras são pessoas que quase não se mostram. Há, por outro lado, aquelas que pou-co cobrem, denunciando o lado insti-gante e descoberto, geralmente dan-do a impressão que vivem apertadas à superfície que cobrem, tudo desco-brindo e revelando. São muito apreci-adas pelos espectadores que não gostam de ver suas esposas decora-das de modo tão sumário, mas ado-rando-as, em privado.
Antes que me culpem de omissão, declaro, por ouvir falar, que a fímbria das peças contam mais que seu de-senho total, por sugerir limites e exci-tar a imaginação.
As cores são personagens importan-tes no assunto, pois denunciam in-tenções ou mostram aceitação de sugestões de seus pares, mas as cores preta e vermelha induzem a pensamentos que superam o objeto, revelando o objetivo. Já as brancas ou clarinhas denunciam toques de elegância e contém transparências tidas como perturbadoras.
Não se tem noticia, até agora, que elas carreguem fortunas em seus interiores, sendo mais comum às cuecas esse fazer deselegante, mas os mais eruditos e apaixonados no assunto sempre acham que o que elas carregam é mais valioso que moeda, inclusive as estrngeiras mais valiosas, no que concordo, usando meus parcos conhecimentos.
Poderia continuar, caso não me desse conta que posso estar estrapo-lando limites. Por causa desse pudor, deixo de falar em “forma piquá”, a-quela que se afunila, contrariando a anatomia. Há outras, mas fiquemos por aqui.



| home ||

© Jornal Contato 2005