Por Thaís Naldoni

Carlos Nascimento, âncora do “Jornal da Band”

 

Nascido em Dois Córregos, interior de São Paulo, Carlos Nascimento começou sua carreira na Rádio Cultura. Foi justamente o rádio que levou o jornalista à capital paulista. Nascimento atuou nas rádios Nacional, Excelsior e América. Em 1977, foi contratado pela TV Globo - foi repórter, editor, apresentador e correspondente internacional – onde trabalhou por dez anos. Em seguida, passou pela TV Cultura e Record, até voltar para a Globo em 1990.
Pela emissora dos Marinho, Nascimento cobriu três Copas do Mundo, além da transmissão ao vivo que durou cinco horas, em 11 de setembro de 2001, na queda das torres gêmeas. Entre outras coberturas, está a doença e morte de Tancredo Neves. “Tem hora que odeio essa história. As pessoas falam nisso até hoje e já faz mais de 20 anos”, desabafa.
Em 2004, acreditando não haver mais desafios na Globo, Nascimento não renovou seu contrato e transferiu-se para a Rede Bandeirantes, onde apresenta o “Jornal da Band”. Nesta entrevista, Nascimento analisa a crise política pela qual passa o Brasil e o papel da mídia neste processo. Acompanhe.

Carlos Nascimento apresenta o jornal SP Já, em 1990

CONTATO: Muitos políticos têm criticado a imprensa pela cobertura da crise. Os petistas falam em "linchamento". O que você acha disso? Acredita que a mídia tem exagerado?
Nascimento: Não acho que houve exagero. O tratamento até aqui está corretíssimo. O governo é que está devendo explicações para a mídia e para a opinião pública, haja vista o que aconteceu nessa viagem do presidente a Paris. Estavam lá os melhores correspondentes da imprensa brasileira e o presidente preferiu dar entrevista para uma pessoa desconhecida. Não diminuindo a importância e o valor do trabalho desta jornalista, pelo contrário. Quem não é famoso tem tanto valor e capacidade quanto as estrelas da profissão e isso eu não contesto. Mas é estranho. Num lugar onde você tinha Reali Jr., Mário Sérgio Conti, Caco Barcellos e tantos outros jornalistas, é estranho que o presidente tenha evitado todos eles.

CONTATO: Existe muita especulação, teses sobre esta entrevista...
Nascimento: Causou estranheza pelo seguinte: o “Jornal da Band” tinha em Paris o seu correspondente Mário Sérgio Conti, um dos grandes nomes do jornalismo brasileiro - que chegou a ser diretor da Veja. Ele pediu a entrevista e não foi atendido. De repente, o presidente vai, dá uma entrevista a uma pessoa estranha e que vai parar na TV Globo. De repente, poderia ter sido em outra emissora, mas, não, foi na Globo. Não sei se estava combinado, mas isso não vem ao caso. O que eu quero dizer é o seguinte: o presidente da República não deveria ter feito isso. Deveria ter falado a todos.


Carlos Nascimento durante a copa do mundo de 2004

CONTATO: É possível comparar a crise do governo Lula com a do governo Collor?
Nascimento: É muito parecido. Dizem que o presidente Lula é diferente do presidente Collor. É verdade. A história política dos dois é diferente. Mas a diferença não passa disso. Mas, se houver envolvimento direto do governo e do presidente, não há diferença nenhuma. E a responsabilidade do presidente Lula é a mesma que foi atribuída ao Collor.

CONTATO: Você acha que vai emplacar essa versão de crime eleitoral?
Nascimento: Eu acho muito difícil. O PT adotou essa estratégia tentando desmerecer a inteligência dos brasileiros, tentando simplificar as coisas como se tudo não passasse de um acidente. Infelizmente, eles não se convenceram ainda de que é impossível provar alguma coisa dessa forma. Já há denúncias formais de que contratos de publicidade do Valério, com empresas estatais foram usados como aval para os empréstimos bancários.


Jornal da Cultura, 1998

CONTATO: O que isso siginifica?
Nascimento: Isso mostra que há um envolvimento direto do governo, de empresas do governo, do bem público, do dinheiro do contribuinte. Tudo indica que é uma troca. O dinheiro entrava na agência do publicitário via empresas estatais e saía como empréstimo para o PT. Então, isso não era crime eleitoral apenas, isso é muito mais do que crime eleitoral. Eu acho que é zombar da inteligência média do brasileiro pretender que a gente acredite nessa história. E outra: uma história permeada de fatos bizarros, como a história do dinheiro que aparece na cueca do sujeito. E quem era aquele sujeito? Era assessor do irmão do Genoino, que era presidente do PT. Ou seja, existe uma coincidência de fatos infelizes para o PT, que tornaram pouco críveis quaisquer versões amenas dos fatos.

CONTATO: Como o “Jornal da Band” tem feito a cobertura dessa crise política?
Nascimento: O “Jornal da Band” desde o primeiro dia vem dando as notícias todas com absoluta independência. Nós temos limitações quanto ao número de repórteres e de equipes, mas todas as que estão disponíveis estão sendo empregadas nisso. A sucursal de Brasília tem trabalhado muito bem. Nós temos, em determinados momentos, dado também nossos furos, antecipado informações. O Fábio Pannunzio tem feito um bom trabalho, o Eduardo Castro, a Letícia Renault, a Marina Franceschini, a Patrícia Zorzan, mais o pessoal de São Paulo, a gente tem feito bem e conseguido excelentes audiências.
Neste último mês, o bloco do “Jornal de Band” que deu recorde de audiência foi o bloco de política, com nove pontos.


Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sendo entrevistado por Carlos Nascimento entre os colegas, Chico Pinheiro e Carlos Tramontina (ao fundo), da Rede Globo

CONTATO: A saída da Ana Paula Padrão da Globo foi meio traumática, cheia de episódios polêmicos. A sua também foi assim, ou foi tranqüila?
Nascimento: A minha saída foi muito diferente. Meu contrato venceu, eu avisei que talvez não renovasse, eles fizeram algumas sugestões de algumas coisas que eu poderia fazer, mas eu não via mais futuro lá, não via mais para onde ir. O mais importante na nossa profissão é o desafio, é quando você sente que pode avançar, fazer coisas boas e diferentes. Então, eu senti que tinha chegado a hora. Durante muitos anos, o que me manteve na TV Globo foi a possibilidade de fazer coisas novas, de avançar, de mudar, de melhorar. Quando eu vi que havia se estagnado, não só eu, mas toda a empresa, todo o jornalismo, eu resolvi sair. Já a Ana Paula, o caso foi outro. O contrato me parece que ainda estava em vigor e tal. Mas comigo foi tudo diferente.

CONTATO: As portas ainda estão abertas entre você e a emissora?
Nascimento: A minha porta está. A da Globo eu não sei.

CONTATO: A contratação da Ana Paula Padrão pelo SBT, movimentou o mercado jornalístico. Isso teria motivado as empresas a investirem?
Nascimento: Eu acho que o jornalismo brasileiro, seja em que nível for, precisa de investimento, não importa se é rádio, revista, televisão ou jornal. Esse é o ponto. Nós já tivemos as empresas de mídia investindo muito mais e já tivemos muito mais profissionais no trato do jornalismo. Isso mudou nos últimos anos, porque a administração dessas empresas deixou de ser feita na área jornalística por jornalistas ou gente oriunda de redações. Veio muita gente de fora, de outras empresas, de outros negócios e isso acabou gerando uma necessidade de fazer economia –que é o que sempre se ouve– cortar custos e mudar o jeito de fazer. E isso colidiu com a maneira tradicional de se administrar, que é investindo. Os empresários da mídia têm que pôr na cabeça que jornalismo é bom, dá retorno, dá prestígio, mas é preciso investimento. Tem que ter bons funcionários, pagos com dignidade, condições de trabalho, poder viajar, fazer as reportagens. Isso é o que eu sinto ser o grande impasse atualmente.


Carlos Nascimento âncora do "Jornal da Band"



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