Por Paulo de Tarso Venceslau

Blindagem necessária

Para evitar cenários assustadores, aliados e opositores se unem para evitar que respingue no presidente Lula a lama trazida por depoimentos, malas, cuecas e mensalões


Presidente Lula discursa em um dos eventos durante sua visita a Taubaté

 

A LG é uma poderosa indústria multinacional coreana que, segundo seu comandante para a América Latina, está assumindo a liderança isolada na produção de celulares e outros produtos eletro-eletrônicos. Dentro da planta industrial, naquela terça-feira, 19, chuvosa, o ex-sindicalista Lula estava acompanhado de Luis Marinho, atual ministro do Trabalho e até ontem presidente da CUT, e, meio escondido, o Guiba, velho de guerra, como é conhecido o ex-sindicalista Hegberto Navarro acomodado em algum alto cargo do governo federal.
A vinda do presidente Lula à Taubaté desencadeou movimentos inusitados. Paixões e ódios tomaram conta de velhos aliados agora em campos opostos.
Na frente da LG Eletronics, às margens da via Dutra, sindicalistas da CUT e militantes do PSOL, formado por ex-petistas recentemente expulsos da legenda, protestavam contra a presença do presidente Lula.
No meio da barrafunda, petistas (poucos) envergonhados portavam faixas e carregavam no peito um adesivo “Tô com Lula, Contra a Corrupção”, assinado pela CUT/Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté.
Definitivamente, o movimento sindical encontra-se rachado. Para Ernesto Gradella, ex-deputado federal petista e dirigente do PSTU, as CPIs “vão dar em pizza porque mesmo que punam alguns, a estrutura permanecerá intocada”. O ex-deputado responsabiliza a CUT – Central Única dos Trabalhadores, o MST – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e a UNE – União Nacional dos Estudantes, pela ausência de movimentos de massa. “Essas entidades viraram chapa-branca”.
Sebastião Florêncio, militante petista, ex-dirigente sindical, candidato derrotado a vereador nas últimas eleições, e com adesivo da CUT no peito, não perdia o bom humor mesmo quando estocado pelas últimas declarações dos ex-dirigentes petistas nas CPIs que assolam Brasília. Rindo, Florêncio responde: “Tenho certeza de que todos os culpados serão punidos”. E se aparecer alguma prova que comprometa o presidente Lula? “Tenho certeza que Lula não tem nada a ver com isso”, responde o ex-funcionário dos Correios.
Esse tipo de manifestação se repete por todo o território nacional. A crença e a fé em Lula é tanta que até mesmo a oposição se preocupa em blindá-lo para evitar que a crise entre por tortuosos e imprevisíveis caminhos.
A sensação é de que o governo Lula se assemelha a um balão inflável por gás hélio. Aliados históricos estão sendo descartados da mesma forma que o balonista lança fora os sacos cheios de areia usados como lastros. Sempre que o gás se mostra insuficiente para mantê-lo no ar, os lastros (aliados) são descartados e se tornam irrecuperáveis.
Tarso Genro, atual presidente do PT, por exemplo, nunca foi um aliado de primeira hora de Lula. O aguerrido movimento sindical, por outro lado, emite sinais que está cada vez mais difícil a defesa intransigente do Partido dos Trabalhadores.
Entre militantes e ex-militantes petistas está presa na garganta a mesma pergunta que incomoda todos os níveis da oposição: o que acontecerá se as CPIs encontrarem provas irrefutáveis que comprometam irremediavelmente o presidente Lula?
A quase patética manifestação promovida por aliados e opositores de Lula em frente a LG, por exemplo, poderá se transformar em um tsunami de efeitos devastadores sobre tudo e sobre todos. O temor de que isso possa acontecer faz com que a blindagem a Lula seja cada vez maior.

 

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