Por Paulo de Tarso Venceslau
Profecias de Lula

"Se a gente fosse governo e saísse uma denúncia contra nós, seria a destruição total e absoluta" (Lula, 1997)

 

A grande imprensa descobriu, de repente, que os fatos ocorridos em 1993 na prefeitura de São José dos Campos e revelados em 1997 por mim, já prenunciavam como agiria o Partido dos Trabalhadores caso algum dia assumisse o poder. Esse dia chegou. Bastaram 13 meses de governo para que o país, estarrecido, acompanhasse ao vivo e em cores o primeiro grande escândalo da República Petista: o caso Waldomiro Diniz.
No episódio que envolveu recursos públicos de São José dos Campos, o tempo foi decisivo para que o assunto saísse de pauta. Era o que os correligionários de Lula queriam. Tema fora de foco, militante fora do partido.
No episódio Waldomiro Diniz, tentaram a mesma tática. José Dirceu, do alto de sua arrogância, anunciou em rede nacional que em 15 dias daria respostas definitivas à Nação. Enquanto isso, Lula era devidamente blindado. Coitado, nunca sabe de nada. E assim tem se mantido. A incógnita é até quando. Muita coisa vai depender do comportamento da imprensa que poderá tirar esses temas da pauta. A desculpa será a de sempre: não dão mais ibope.
Nos episódios de São José dos Campos revelados em 1997, nenhum veículo de comunicação se interessou pelos picantes detalhes que marcaram a decisão política de me expulsar do PT, em 1998. Passou batido, por exemplo, que o Diretório Nacional simplesmente ignorou as conclusões da Comissão de Investigação nomeada pelo próprio partido que condenavam Roberto Teixeira, compadre de Lula e dono da casa de luxo onde o hoje presidente morou de graça por mais de 10 anos. Tampouco a repetição dessa atitude frente ao relatório da Comissão de Ética do PT que concluia na mesma direção. E simplesmente ignoraram que a minha expulsão do partido foi exigida pelo próprio Lula. Como diriam meus amigos da esquerda e da direita do PT: “Nada contra você. Mas você entende que foi uma decisão política”.
Entendi perfeitamente. Apenas não me sujeitei à regra estalinista, infelizmente, ainda viva no PT, que subordina o indivíduo e sua integridade moral e ética à vontade partidária. Muitos entenderam mas compactuaram com Lula. Hoje chafurdam na lama anunciada. Para avivar a memória desses “camaradas” e dos militantes que desconhecem a história do PT, reproduzo trechos de declarações de Lula à Comissão de Ética.

“De forma que eu acho que democracia é democracia, mas tem hora...O PFL resolveu o problema dos deputados que venderam voto, a imprensa não questionou que foi antidemocrático, questionou?”
“Quero só terminar dizendo o seguinte: eu acho que no PT nós precisamos parar de ser covardes. A direita nesse aspecto é muito mais competente. Nós somos covardes. Ou seja, o PT é doidinho para bater, mas quando ele toma um soquinho no queijo ele se mela todo, ele se borra.
Eu sinto que a direção do Partido ficou perplexa, ficou sem saber o que fazer. Basta sair uma notícia no jornal que muita gente treme...Eu acho um absurdo, eu fico imaginando se a gente fosse governo e saísse uma denúncia contra nós, seria a destruição total e absoluta. Eu acho que é nesse momento que a gente tem de saber ser direção.”(trechos da declaração de Lula, em 1997, à Comissão de Ética do PT, folha 276)

Diante das conclusões proféticas de Lula, registrei em minha defesa, na ocasião: “Os acontecimentos comprovaram que Luís Inácio Lula da Silva age exatamente da maneira como ele pensa. As instâncias partidárias perdem a concretude e as suas funções diante de um presidente como Luís Inácio Lula da Silva, suas relações pessoais de compadrio e amizade merecem mais credibilidade do que as relações partidárias e de militância”.
“Se falhas cometi, foi na busca da verdade.Termino fazendo minhas as palavras de Norberto Bobbio:
“A razão de partido, de nação ou mesmo de classe, não deve jamais prevalecer sobre as razões imprescritíveis da verdade e da justiça (...) Qual o dever do intelectual? Servir à revolução ou à verdade? Para uns é verdade aquilo que serve à revolução, para outros, a verdade é, por si mesma, revolucionária.”

 

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